Entrosando

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Hanna

Hoje, na academia, o clima ficou mais tenso.Todo mundo olha em volta como se esperassem que alguém fizesse algo (talvez que Clint fosse perturbar algum coitado).O treino hoje foi completamente inesperado. Bem diferente que o treinamento que recebi no Domo.

Tive dois meses de aulas de artes marciais, esgrima e manobração de facas.Apesar que consigo me defender de pirralhos, eu não sou lá essas coisas com luta corporal.O que fiz ontem com aqueles idiotas só foi possível porque eles são amadores, eu ainda estou evoluindo bem aos poucos.Esgrima?Desde a revolta no acampamento eu não uso o presente que ganhei de Lizzy.Sou boa, mas Will é uma Evelyn perto de mim.Facas é minha especialidade, mas com certeza alguém aqui deve ser melhor que eu.

De qualquer forma, demorei pelo menos duas semanas para atingir o nível dois de cada uma dessas modalidades.A adrenalina que eles causaram em nós foi o suficiente para nos obrigar a ter uma boa mira.Isso em apenas meia hora.É claro que aquilo foi apenas uma introdução.

Quando saio do vestiário, pego um fone com um droid e vou até a esteira mais próxima. Enquanto corro como uma desesperada pra ficar saradona (só que não), ouço rock das antigas. Acredite, a tal banda da década 10 que tem a palavra "dragons" no nome da banda é bem melhor que as músicas de rock de hoje em dia que só fala sobre como ferrar com a vida dos outros.

A música me distrai, fazendo ignorar o incomodo da perna.Sinto alguém na esteira ao lado, mas ignoro.Prefiro escutar minhas músicas... se bem que esse corpo é familiar... Olho pro lado e vejo um ser vermelho igual o capeta correndo na mais alta velocidade.

Ele vai desacelerando e o vermelho vai se tornando branco, revelando um Jerry suado.Ele nunca suou.Não que eu tenha visto.Jerry fala alguma coisa, mas o refrão da música é muito intenso.

-O quê?-indago.Ele repete e capito algo.-Tira os cones de tecido?-Ele aponta pros meus ouvidos.-Hã?Ah... tá.Tira os fones de ouvido...

Tirando os fones percebo uma realidade muito estranha.Todo mundo está olhando pra mim.

-O que foi?Eu gritei?-pergunto e Jerry acena.

Em alguns minutos niguém mais liga pra mega-fone aqui.

-Você tá bem?-Jerry me olha.

-Eu?Sei lá, essa esteira tá me incomodando.Eu não pensava que...-percebo sua expressão de "não é isso que eu quero saber".-Ah... sim, eu tô.Quero dizer, a gente passou um mal bocado. E isso deve ser completamente novo pra você.

-Você não sabe como.-Jerry sorri de lado.-Eu tinha me esquecido de como era o asfalto, os prédios e carros.

-Nossa, pra quem sabe quais são as plantas mais perigosas da floresta, você é muito urbano.-comento.

-Sabe como é, a floresta pode ser legal, mas é muito mais fácil ter super velocidade em ruas e asfalto do que em bosques e relevos.-ele pega sua garrafa do mini drone e bebe um gole.

-Há quanto tempo estava no Domo?-arrisco perguntar.

-Seis anos.-Jerry demora alguns segundos para responder.-Nenhum de nós tínhamos esperança pra sair de lá, Hanna.Mas saímos.De um acampamento para uma cidade grande é uma tremenda diferença.

-Por incrível que pareça, eu entendo.-suspiro.Penso na última vez que conversamos assim.Estávamos na espera das tropas nos atacarem.Ele teve a gentileza de se desculpar pela ofensa que ele expressou com o gás das plantas venenosas na Floresta Negra, que agora não existe mais.E depois...-Jerry, sobre aqueles so...

-Hora do almoço, pessoal.-um dos orientadores anuncia.

-O que você ía dizer?-Jerry pergunta enquanto saímos da estereiras.Os sonhos, esqueci que não devo comentar sobre eles com ele.Não ainda.

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