Consequências

46 11 6
                                    

Me desculpem pela demora, o ano letivo veio com tudo por causa das paralisações, mas estou aqui de volta. Boa leitura.

Erik

-E então...é ruim?-pergunto para Will quando soco o saco de pancadas flutuante enquanto ele observa.

-É chato.Quero dizer, eu tinha privilégios de câncer como prioridade na fila, atrasos aceitáveis, se alguém esbarrasse em mim pedia desculpas e me pagava um doce... mas tinha a quimioterapia, exames semanais, grupo de auto ajuda, mil remédios.-ele responde sem nenhum problema.

-Na hora do surto do seu pai realmente precisou...-paro quando percebo que estou fazendo perguntas demais.

-O quê?Matar ele?Sim.-Will sinaliza para continuar os golpes.-Ele ia agredir a minha mãe, eu não iria deixar.Pegar a espada do meu avô na parede da sala seria mais eficaz do que pegar o celular e ligar para os guardas.

-Se sentiu culpado depois?-não consigo me segurar.

-Não.Nem um pouco.Se preocupou mais com os gastos do que com o filho curado e a esposa depressiva.Era um covarde.-ele ainda não parece se importar de estar contando isso.-E você?Se sentiu culpado por tentar matar alguém?

-Culpado não.Eu só achei que eu era burro por tentar totalmente despreparado.Eu era muito novo.Devia ter esperado.-respondo, um pouco incomodado com o assunto.

Enquanto soco o saco de pancadas, vejo ao longe John saindo pela portaria da Sede.Ele está aqui desde cedinho, o que não é o normal para John.

-Tem alguma coisa errada com ele.-comento e Will olha para John bem na hora que ele sai.

-É melhor deixar quieto.-Will volta a atenção para o saco.

-Nós podíamos descobrir o que é e ajudá-lo.-insisto.

-Se ele quisesse ajuda, já teria pedido.-ele soca o saco.-Conheço pessoas como John.Durão e dependente. Quando o assunto é pessoal, ele vai querer resolver sozinho ou com pessoas que ele julga capazes de ajudar.É melhor que o deixe cuidar disso sozinho.John é esperto o suficiente para resolver seus problemas.

Ainda me sinto incomodado com isso.John já resolveu muitos problemas nossos, não é justo deixá-lo sem apoio.Mas Will tem razão, ele sabe o que faz.

-Aliás, vai lá no alojamento, estão precisando da sua ajuda com alguma coisa.Não me falaram o que é.-Will me avisa.

-Ok.-pego minha jaqueta de couro de novato e vou pegar um ônibus.

Enquanto subo o prédio no elevador, lembro que todo mundo combinou de treinar na praça na área residencial de Prime.Ando até nosso alojamento desconfiado.Quando entro, as luzes automáticas não acendem.Me viro para sair mas a porta se fecha sozinha bruscamente.Uma cadeira empurra minhas pernas por trás, me fazendo sentar nela, então ela se vira e se arrasta até o centro do alojamento.As luzes se ascendem revelando que, em meio à escuridão, uma Hanna me esperava sentada.Estamos frente a frente.

-Eu quero saber que merda é essa que você fez balé apenas pra se vingar do cara que matou a vovó?-ela indaga um pouco histérica.

-Ai, droga...-eu sabia que isso iria acontecer um dia, mas não hoje.

-Droga nada.Eu tinha direito de saber!Esperava retribuição por tudo que eu já contei pra você!-Hanna protesta.

Agora estou me sentindo culpado.Até o maior podre dela, o lance da seita, ela me contou, mas eu nunca tinha falado pra ela sobre isso.Talvez porque assassinato seja algo mais bruto do que pactos satânicos... eu acho...

TransformadosOnde histórias criam vida. Descubra agora