Capítulo 1 - Me torno uma escritora

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Eu nunca tive muitos amigos, então aprendi a me virar sozinha. Tenho certeza de que se eu fosse abandonada em algum lugar eu seria capaz de sobreviver, ou apenas deixaria a morte me levar, como ela deveria ter feito muitas vezes.

Passo a maior parte do meu tempo desenhando e lendo livros de mistério e romance, viver em uma realidade quase impossível de existir, pelo menos pra mim, pois sei que não seria nada comum algum menino gostar de mim. Pelo menos isso me distrai de meus problemas desde que me conheço por gente.

Não sou popular na escola, poucas pessoas sabem meu nome, e isso não me incomoda tanto quanto incomodam os personagens de filmes, que aspiram ser populares. Sou realmente muito quieta, quase não falo e não gosto de multidões. Algo em mim me faz sentir mais confortável sozinha. Mas não é porque sou quieta que sou depressiva, sei sorrir, mas ultimamente é difícil encontrar a felicidade onde eu vou.

Minha mãe, a única família que me restou, esta sempre tentando me ajudar. Sendo gentil, me ajudando a enfrentar os meus problemas, sendo paciente comigo, sendo a melhor mãe do mundo.

Pode não parecer, mas a realidade em que existo é cruel, o destino não perde uma chance de ferrar com a minha vida. Mas já estou tão acostumada com isso...

As vezes, acho que vou enlouquecer. E, as vezes não parece tão ruim assim ser louca, mas sei que estou errada.

***

Sentada, na cadeira dura de madeira, com um pingo de arte vitoriana, da sala do terapeuta, eu estou entediada, quem sabe se eu implorar para minha mãe ela me deixa sair dessa prisão.

Mas logo o terapeuta, Dr.Will entra na sala e se senta em sua poltrona macia, sinto um pouco de inveja de sua majestosa cadeira de couro com estufamento duplo e com 4 rodinhas.

Dr.Will é o típico médico que você imaginaria, mas claro, sem o jaleco. Ele provavelmente tem a idade da minha mãe e pela atitude parece que gosta bastante dela, e eu claro, sendo a filha mais compreensiva do mundo os ignoro completamente.

-Então, como vão as lindas moças? - ele pergunta com um certo tom de empolgação. Eu já sei que essa pergunta deve ter sido mais pra minha mãe que pra mim.

Há algum tempo descobriram que eu tenho asma, não a do tipo comum, essa é uma nova, que surgiu por causas emocionais. Ele sabe, e ainda tem a audácia de perguntar se eu estou bem, como se ele não soubesse do que eu, do que NOS aconteceu. Gostaria de perguntar a ele como se sentiria se sua vida fosse um inferno.

-Vamos muito bem - minha mãe fala com um sorrisinho triste - não é minha princesa? - ela pergunta pra mim.

Ela olha pra mim com seus olhos azuis carentes, cheios de dor e ao mesmo tempo esperançosos, esperando uma resposta minha.

-Sim, sim, vamos. Muito. Bem. - respondo ironicamente.

Eles sabem que eu não gosto muito de sair de casa, e que estar lá é horrível pra mim. Não quero ficar lá, quero ir embora, agora.

-Que animação! - ele fala com desdém - então, Jandi - ele olha pra mim - você primeiro?

Concordo com a cabeça. Tentando não soltar um resmungão.

- Senhorita Baileys, a atendo depois de Jandi, ok?

- Claro - minha mãe fala - estarei esperando la fora - ela me beija na testa e sai pela porta do consultório.

- Então Jandi, me fale como andam as coisas - ele fala pra mim.

Essa não é a primeira vez que viemos aqui, eu já contei a ele meus medos e tudo mais, achando que ele poderia me ajudar de alguma forma. Mas não. Eu apenas falo o que eu sinto para um senhor que aposto que nem se importa com a gente. Na verdade, acho que só com a minha mãe.
Jess uma vez disse que terapeutas são que nem depiladoras, ou você ama, ou você odeia. E se você odeia, é porque ele faz um ótimo trabalho.

- Não tenho nada a dizer, nem sei porque ainda estou aqui - falo.

- Você esta aqui pra melhorar, para enfrentar seus medos e viver feliz - eu não respondo - Olha, eu posso te ajudar, eu sei como se sente.

- Não, não sabe.

- Então me fale como se sente.

- Em relação a que? A minha vida? A escola? A morte?

- Todas, tente me contar o que passa pela sua mente.

- O mesmo que o resto de outras meninas de 12 anos.

- Mas você não é igual a elas. Você é mais racional, mais responsável e sabe muito mais que elas. Além de você ter quase 13, pode ser considerada mais esperta que qualquer adolescente.

- Eu não sou inteligente, eu vou mal na escola.

- Você sabe que não foi nesse sentido.

Fico calada, é sempre assim, nunca chegamos a lugar nenhum.
Ele suspira e pensa por alguns segundos.

- Ok, já que não quer conversar, que tal escrever?

Olho pra ele com dúvida.

- Como assim?

Ele pega algo de sua gaveta e coloca uma folha de papel na minha frente.

- Esta vendo essa folha de papel?

- Sim.

- Muito bem, escreva pra mim tudo sobre você e...

- Mas você já sabe de tudo sobre mim - não, ele não sabe.

- Não só suas. Das pessoas ao seu redor, sua mãe, seus amigos - não tenho amigoS, só uma amiga - e, sei lá, curiosidades sobre elas.

O encaro por um tempo como se fosse uma piada.

- Isso é algum tipo novo de terapia?

- È - ele fala orgulhoso - ideia minha, e você será minha primeira cobaia, o que acha?

Apenas concordo. Depois de pegar a folha ele chama minha mãe pois agora é a vez dela de ser interrogada sobre seus problemas.

Me sento em uma poltrona vermelha, apoio o papel na mesinha a minha frente, pego uma caneta na bolsa da minha mãe e começo a escrever o básico:

Coisas sobre mim ( no caso você já sabe de tudo ) :

Meu nome é Jandi

Tenho 12 anos, quase 13, faço aniversario em um mês.

Eu gosto de coisas cor azul marinho.

Eu moro com a minha mãe, eu costumava ter um pai, ainda tenho, mas ele simplesmente saiu de casa e das nossas vidas depois de um acidente.

Eu só tenho uma amiga, eu a chamo de Jess.

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Olá,

Se você chegou até aqui significa que eu consegui fazer você se interessar pela obra pelo menos um pouquinho né?

Obrigada por clicar, sério. Mesmo que você nem queria continuar a ler eu te agradeço.

Eu tento escrever o melhor que eu consigo... Se puder, dê uma chance :)

Espero que goste...

- Anêmona

Onde As Estrelas Não Brilham Onde histórias criam vida. Descubra agora