Capítulo 8 - Conchas

42 4 1
                                    

Ele pensa por um segundo e fala:

- Ok, então você gosta de desenhar não é? - ele sai do assunto.

Concordo com a cabeça.

- Deu pra ver, aquele desenho da paisagem estava bem realista.

Olho pra ele, está sorrindo, e agradeço com outro sorriso.

***

Enquanto ele anda, eu observo o chão, a terra e a grama. Na cidade a varias arvores e um parque bem grande, onde eu e Jess íamos as vezes. Ela enchia meu celular de mensagens e me ligava mil vezes ate eu poder sair de casa, e o pior é que minha mae deixava, porque no parque tinha mais arvores, e como consequência, eu respirava e me sentia melhor, e admito que nem era tao ruim sair com ela, o pior era ver os meninos olhando pra ela, e nenhum olhando pra mim.

Sei que é ridículo, mas sempre tive inveja de como todos adoravam Jess, mesmo que ela seja barraqueira de vez em quando. Os meninos gostam dela porque ela é bonita, eu não me sentia bem.

Mas pior que isso é a aula de educação física. Eu não posso correr muito, na verdade, mais de dez segundos correndo bem rápido já me fazem ficar cansada e ofegante. Uma vez eu ate já desmaiei em um jogo de basquete.

-No que esta pensando? - Hayden me pergunta, me tirando do meu mundo.

-Ah, em nada.

-Olha chegamos! - ele fala animado.

Ele aponta pra uma pequena falha nas arvores, ele corre ate lá e afunda.

No começo eu não entendi o que aconteceu, ate a cabeça dele surgir e sua mão fazer o sinal pra eu seguir ele.

Ele havia decido uma colina de areia e estava em uma parte da praia. Bem pequena cercada de alguma rochas.

-Ue, porque aqui? A muitas outras praias mais perto da cidade - pergunto.

Ele me olha com seus olhos de duas cores.

-Porque aqui tem as conchas mais bonitas - ele enfia a mao na areia levanta e abre, muitas conchinhas estão nela - desse logo!

Não sei como Hayden conseguiu, eu tento tomar o máximo de cuidado, mas a areia esta muito escorregadia e eu caio. Fecho os olhos e sinto o impacto.

Quando abro os olhos eu estou incrivelmente em pe, e percebi que não cai de cara! Estou apoiada nos braços de Hayden. Ele ri com a minha queda.

-Nossa - ele ri - você cai o tempo todo?!

Eu rio junto e respondo que nem sempre.

***

Catar conchinhas me faz lembrar da minha infância. Foi boa enquanto durou, apesar de apenas me lembrar de certas coisas. Minha memoria é um verdadeiro lixo. Mas uma coisa que consigo me lembrar era da facilidade que minha mae achava conchinhas, uma mais linda que a outra. Faria qualquer coisa pra voltar ao passado.

- Achou alguma legal? - Hayden pergunta.

Respondo que não, ele bufa e enfia a própria cabeça no mar, após alguns segundos ele se levanta e grita:

- Achei! - seu cabelo molhado a luz do sol parece ainda mais dourado. Algo que eu so vi no cabelo de Jess, principalmente quando chovia no parque e logo depois o sol retornava.

Ele abre a mao e observa a concha. Seu sorriso logo desaparece e e substituída por uma cara emburrada.

- O que tem de errado? - ele me mostra a concha mais linda que já vi em minha vida. Ela é azul e ao mesmo tempo marrom, mas mesmo tendo cores que não combinam elas ficam lindas na concha. Não entendo como ele não pode gostar de uma concha tão bonita.

- Mas, ela é linda, o que tem de errado?

- Eu gosto de conchas quebradas - ele diz - essa ta inteira.

Realmente não entendo, como alguém pode preferir pedaços quebrados de conchas do que uma concha normal? Quando pergunto isso a ele, ele fala que sofreu bastante bullyng por causa da heterocromia completa. Que é ter os olhos de duas cores ou não misturadas. E seus "colegas" o chamavam de concha defeituosa. Então ele simplesmente prefere conchas quebradas para colar com outras e assim, ela não ser uma defeituosa mas uma especial.

- De onde você tira esses pensamentos? - pergunto.

- Da minha cachola - ele aponta pra sua cabeça.

Faço uma cara tipo "ah serio?", ele ri.

Quando estou perto dele eu sinto estranhamente a vontade, sinto que posso ser eu mesma, contar o que eu penso, o que aconteceu comigo, e ele não se afastara de mim por isso, como muitos fizeram. Por alguma razão eu não quero me afastar dele, como fiz com muitas pessoas, com medo de me apegar e depois sofrer quando as perder.

Um segundo depois de eu desviar o olhar ele me chama.

- Didi.

- O que? - falo

- Penda rápido! - ele joga com força a concha perfeita na minha direção, mas eu não tenho o melhor dos reflexos e não consigo pegar ela. Ela bate com força na pedra atrás de mim e racha do meio. Quando apego nas mãos ela se quebra em dois Pedaços Perfeitamente simétricos.

Continuamos a procurar pedaços quebrados de conchas quando ele me pergunta:

- Didi, você tem aqueles ataques de asma que parece que a garganta simplesmente fecha?

Fico surpresa com a pergunta.

- Sim, mas não é muito comum. Acontece em tempos bem separados, no meu caso e tipo uma vez no mês. Mas eu já conheci uma menina que isso era quase diário pra ela, eu lembro que ela gostava de tocar piano - de repente lembro da musica que eu havia tocado aquela manhã.

- Hayden? - pergunto.

- Sim Didi? - ele sorri sem desviar o olhar da areia.

Sorrio de lado e pergunto:

- Você já foi a aquela senhora que ensina música? A sra. Victoria?

- Já, a bastante tempo - ele responde - porque?

- Você já tocou a musica "Onde as estrelas não brilham"?

Ele me olha com seus olhos multicolor.

- Fui eu que escrevi.

Fico surpresa.

- Serio? - minha voz sai mais fina que o normal.

Ele balança a cabeça positivamente.

- Nossa, você tem bastante talento - falo.

Ele agradece e volta a procurar outras conchas, faço o mesmo.

- Eu escrevi ela pra minha irmã - ele fala.

Volto o olhar pra ele, seu sorriso foi substituído por uma expressão triste.

- Ela veio com você aqui? Qual o nome dela? - pergunto tentando anima-lo, mas parece que faço o contrario.

- Não, eu perdi ela a alguns anos - ele fala, e olha pra mim.

Onde As Estrelas Não Brilham Onde histórias criam vida. Descubra agora