Ele pensa por um segundo e fala:
- Ok, então você gosta de desenhar não é? - ele sai do assunto.
Concordo com a cabeça.
- Deu pra ver, aquele desenho da paisagem estava bem realista.
Olho pra ele, está sorrindo, e agradeço com outro sorriso.
***
Enquanto ele anda, eu observo o chão, a terra e a grama. Na cidade a varias arvores e um parque bem grande, onde eu e Jess íamos as vezes. Ela enchia meu celular de mensagens e me ligava mil vezes ate eu poder sair de casa, e o pior é que minha mae deixava, porque no parque tinha mais arvores, e como consequência, eu respirava e me sentia melhor, e admito que nem era tao ruim sair com ela, o pior era ver os meninos olhando pra ela, e nenhum olhando pra mim.
Sei que é ridículo, mas sempre tive inveja de como todos adoravam Jess, mesmo que ela seja barraqueira de vez em quando. Os meninos gostam dela porque ela é bonita, eu não me sentia bem.
Mas pior que isso é a aula de educação física. Eu não posso correr muito, na verdade, mais de dez segundos correndo bem rápido já me fazem ficar cansada e ofegante. Uma vez eu ate já desmaiei em um jogo de basquete.
-No que esta pensando? - Hayden me pergunta, me tirando do meu mundo.
-Ah, em nada.
-Olha chegamos! - ele fala animado.
Ele aponta pra uma pequena falha nas arvores, ele corre ate lá e afunda.
No começo eu não entendi o que aconteceu, ate a cabeça dele surgir e sua mão fazer o sinal pra eu seguir ele.
Ele havia decido uma colina de areia e estava em uma parte da praia. Bem pequena cercada de alguma rochas.
-Ue, porque aqui? A muitas outras praias mais perto da cidade - pergunto.
Ele me olha com seus olhos de duas cores.
-Porque aqui tem as conchas mais bonitas - ele enfia a mao na areia levanta e abre, muitas conchinhas estão nela - desse logo!
Não sei como Hayden conseguiu, eu tento tomar o máximo de cuidado, mas a areia esta muito escorregadia e eu caio. Fecho os olhos e sinto o impacto.
Quando abro os olhos eu estou incrivelmente em pe, e percebi que não cai de cara! Estou apoiada nos braços de Hayden. Ele ri com a minha queda.
-Nossa - ele ri - você cai o tempo todo?!
Eu rio junto e respondo que nem sempre.
***
Catar conchinhas me faz lembrar da minha infância. Foi boa enquanto durou, apesar de apenas me lembrar de certas coisas. Minha memoria é um verdadeiro lixo. Mas uma coisa que consigo me lembrar era da facilidade que minha mae achava conchinhas, uma mais linda que a outra. Faria qualquer coisa pra voltar ao passado.
- Achou alguma legal? - Hayden pergunta.
Respondo que não, ele bufa e enfia a própria cabeça no mar, após alguns segundos ele se levanta e grita:
- Achei! - seu cabelo molhado a luz do sol parece ainda mais dourado. Algo que eu so vi no cabelo de Jess, principalmente quando chovia no parque e logo depois o sol retornava.
Ele abre a mao e observa a concha. Seu sorriso logo desaparece e e substituída por uma cara emburrada.
- O que tem de errado? - ele me mostra a concha mais linda que já vi em minha vida. Ela é azul e ao mesmo tempo marrom, mas mesmo tendo cores que não combinam elas ficam lindas na concha. Não entendo como ele não pode gostar de uma concha tão bonita.
- Mas, ela é linda, o que tem de errado?
- Eu gosto de conchas quebradas - ele diz - essa ta inteira.
Realmente não entendo, como alguém pode preferir pedaços quebrados de conchas do que uma concha normal? Quando pergunto isso a ele, ele fala que sofreu bastante bullyng por causa da heterocromia completa. Que é ter os olhos de duas cores ou não misturadas. E seus "colegas" o chamavam de concha defeituosa. Então ele simplesmente prefere conchas quebradas para colar com outras e assim, ela não ser uma defeituosa mas uma especial.
- De onde você tira esses pensamentos? - pergunto.
- Da minha cachola - ele aponta pra sua cabeça.
Faço uma cara tipo "ah serio?", ele ri.
Quando estou perto dele eu sinto estranhamente a vontade, sinto que posso ser eu mesma, contar o que eu penso, o que aconteceu comigo, e ele não se afastara de mim por isso, como muitos fizeram. Por alguma razão eu não quero me afastar dele, como fiz com muitas pessoas, com medo de me apegar e depois sofrer quando as perder.
Um segundo depois de eu desviar o olhar ele me chama.
- Didi.
- O que? - falo
- Penda rápido! - ele joga com força a concha perfeita na minha direção, mas eu não tenho o melhor dos reflexos e não consigo pegar ela. Ela bate com força na pedra atrás de mim e racha do meio. Quando apego nas mãos ela se quebra em dois Pedaços Perfeitamente simétricos.
Continuamos a procurar pedaços quebrados de conchas quando ele me pergunta:
- Didi, você tem aqueles ataques de asma que parece que a garganta simplesmente fecha?
Fico surpresa com a pergunta.
- Sim, mas não é muito comum. Acontece em tempos bem separados, no meu caso e tipo uma vez no mês. Mas eu já conheci uma menina que isso era quase diário pra ela, eu lembro que ela gostava de tocar piano - de repente lembro da musica que eu havia tocado aquela manhã.
- Hayden? - pergunto.
- Sim Didi? - ele sorri sem desviar o olhar da areia.
Sorrio de lado e pergunto:
- Você já foi a aquela senhora que ensina música? A sra. Victoria?
- Já, a bastante tempo - ele responde - porque?
- Você já tocou a musica "Onde as estrelas não brilham"?
Ele me olha com seus olhos multicolor.
- Fui eu que escrevi.
Fico surpresa.
- Serio? - minha voz sai mais fina que o normal.
Ele balança a cabeça positivamente.
- Nossa, você tem bastante talento - falo.
Ele agradece e volta a procurar outras conchas, faço o mesmo.
- Eu escrevi ela pra minha irmã - ele fala.
Volto o olhar pra ele, seu sorriso foi substituído por uma expressão triste.
- Ela veio com você aqui? Qual o nome dela? - pergunto tentando anima-lo, mas parece que faço o contrario.
- Não, eu perdi ela a alguns anos - ele fala, e olha pra mim.
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Onde As Estrelas Não Brilham
Teen FictionÉ estranho como uma pessoa pode mudar a vida de muitas, acidentes mudarem totalmente alguém, e traumas te assombrarem pelo resto de sua vida. As vezes até as melhores pessoas e seus passados escondem algo ruim. Nem tudo é o que parece. E é isso que...