Capítulo 2 - Eu vou ao hospital e Jess a um encontro

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Minha mãe e eu não nos falamos muito no carro, então é comum ficarmos em silêncio ouvindo o rádio.

Admito que nem com a minha mãe eu falo muito, não quero que ela saiba o que eu estou pensando. Tento me distrair e reparo nas ruas da cidade, é uma cidade grande e cheia de gente, tem alguns parques mas não é tão cheio de verde.

Eu e mamãe estamos voltando pro nosso pequeno apartamento, mas, de repente, começo a me sentir estranha.
Percebo que desde que saímos dá consulta preciso fazer mais força pra respirar. Sinto agora bastante dificuldade em respirar e parece que há algo preso em minha garganta.

Droga.
Droga.
Droga.

De novo não.

Quando percebo o que está acontecendo isso piora, é sempre assim.

Sinto que minha garganta começa a se fechar e não consigo respirar, tento tossir mas tudo que faz é piorar, cubro minha garganta com as mãos como se isso fosse impedir de uma dor horrível de se espalhar.

- Mãe! -Tento gritar pra minha mãe me levar ao hospital mas o que sai é um gemido de dor.

Ela me olha e pisa no acelerador, é comum eu ter esses ataques de asma, então não é novidade pra ela. Mas mesmo depois de tantas vezes ela ainda morre de susto e desespero quando isso acontece.

Minha visão começa a escurecer e meu pulmão arde como se estivesse sendo queimado. Sinto lágrimas finas descerem pelo meu rosto. Odeio essa sensação.

Ela entra correndo no estacionamento do hospital e estaciona o carro o mais perto possível da porta.

Saímos do carro e ela me ajuda a correr para dentro da emergência, meus joelhos doem muito, minha mãe grita por ajuda e rapidamente enfermeiras chegam com uma maca e me colocam lá. Elas me dão uma mascara de oxigênio improvisada, me encolho na maca como um bebe, a dor é insuportável.

Com a última energia que tenho eu levanto a cabeça pra ver minha mãe, nunca sei se é a última vez ou não.

Mas minha visão está tão escura...

Agora a única coisa que eu conseguia ver era o rosto de minha mãe desaparecendo no fim do corredor.

***

Acordo assustada, meu olhos parecem muito pesados mas consigo abri-los depois de um tempo. Vejo que estou em uma cama de hospital, com fios e fios enfiados em minha pele e uma mascara de oxigênio. Minha cabeça parece girar, estou tonta.

Minha mãe esta sentada na poltrona ao meu lado, dormindo calmamente com a cabeça no ombro e o cabelo claro bagunçado, seu rosto esta vermelho e um pouco molhado, sei que ela esteve chorando.

-Mamãe, acorde - falo rouca, ela me ouve e abre os olhos, ao me ver seu rosto expressa alivio, alivio de eu não estar morta, de eu estar melhor.

- Mãe, que dia é hoje? -pergunto. Ela não parece surpresa com a pergunta, da última vez, fiquei desacordada por dois dias.

- Você só ficou aqui por um dia amor...

Agradeço.

-Como se sente minha princesa? - ela finalmente pergunta.

-Estou bem..., arrgghh - uma dor lacerante invade meu corpo, meus pulmões ardem e minha cabeça dói. Como a dor veio tão de repente?

Minha mãe entende que eu voltei a sentir o pulmão dolorido e chama o médico, ele traz um saquinho cheio de um analgésico ou coisa do tipo, assim que ele enfia uma seringa cheia dele em meu braço, a dor começa a parar.

A minha asma não é como as outras, o médico fala que a minha depressão faz ela piorar, e pânico e raiva podem desencadear esses ataques.

O médico pediu para conversar com a minha mãe fora da sala onde eu estava, provavelmente para dar alguma notícia ruim.

O leito onde estou é pintado de ciano e a coberta é lilás, sim, eu percebo até os mínimos detalhes, quando importam ou não. Vou colocar isso na lista do Dr.Will.

Alguns minutos depois minha mãe e o médico voltam, ele sai e me deixa a sós com ela.

Recebi alta no mesmo dia de noite, e enquanto a gente voltava para casa mamãe queria falar comigo sobre algo importante.

-Eu conversei com o médico, ele disse que você esta bem, nada fora do " comum" mas a poluição e fumaças da cidade estão fazendo sua asma piorar. Então decidi que era melhor você passar suas ferias de verão no campo.

-No campo? Aonde? - pergunto.

-Você vai ficar com a sua tia avó Clarice e seu tio avô Joe, eles moram em uma cidade pequena e praiana, nós já fomos lá quando você era pequenininha.

Eu sei que parece ser o melhor, mas eu não quero ir. Prefiro sufocar e morrer em casa.

-Não me lembro, quando eu vou?

-Amanhã, vou te levar a estação de trem e de quando chegar eles estarão te esperando - ela sorri.

Eu não tenho muita escolha, nem questionei, um tempo sozinha, longe das pessoas, talvez não seja tão ruim.
Ao chegar em casa minha mãe me ajuda a arrumar as malas e me conta o que eu tenho que fazer, qual caminhos pegar.

Meu quarto é tecnicamente bem ordinário, com alguns pôsteres de bandas, como do Imagine Dragons, Gorillaz e Coldplay. Uma prateleira longa cheia de livros, novos e clássicos e uma escrivaninha com materiais de artes.

Meu quarto básicamente é meu esconderijo.

Assim que minha mãe vai a cozinha preparar alguma coisa de janta meu celular começa a tocar.

- Sim? - falo impaciente.

-Oiii Jedy - é a Jess, logo substituo a cara de raiva por um sorriso  - Sua mãe me contou o que aconteceu ontem, você esta bem?

Sim, apesar de que eu quase morri sufocada. Além disso, tudo de boa.

-Sim, já estou bem melhor, aliás, eu vou passar minhas férias no campo - falo fingindo estar animada.

-Uau! A menina antisocial vai se adaptar bem ao campo? - ela fala rindo, eu rio também, ela sabe do meu problema e do acidente mas mesmo assim sempre tenta me animar.

-Não sei, a menina viciada em celebridades e revistas de fofocas vai sobreviver na escola de verão?

-Hahahaha... lembre-se, você é a depressiva nerd e eu sou a modelete viciada em moda. Não se preocupe, aquela escola não vai me mudar. Eu te prometo que aqueles uniformes ridículos, aquela construção da idade média ridícula e os professores de mais de 300 anos ridículos não me farão uma chata, a Jess nunca desiste baby.

Ela e tão determinada, confiante e corajosa, praticamente meu oposto. Me impressiona de que somos amigas, sempre fomos muito diferentes.
Nos conhecemos no jardim de infância - eu acho, não lembro de nada dá minha infância mas ela me contou isso - ela brincava com bonecas e eu lia um livro da branca de neve. Ela me perguntou se podia brincar comigo, aceitei e comecei a ler em voz alta enquanto ela mexia a boneca conforme a historia se desenvolvia.

A partir dai começamos a ficar juntas, eu trazia os livros e ela as bonecas. Pelo menos é isso que ela me diz.

-Olha gata desculpa por isso, mas, eu vou sair com o Daniel, vai ser o último encontro antes da escola começar, agente se fala depois. Beijos Jedy.

-Thau, divirta-se - falo desanimada de novo.
Desligo o telefone.

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