Há dois anos
Quando saio de casa percebo que está mais frio do que pensei que estivesse, mas realmente não me importo.
Todo ano nesse mesmo dia eu vou a floricultura comprar flores de Iris.
Quando chego na floricultura, Sarah, a estudante de Botânica, já sabe o que vou pedir. Quando me vê ela vai rapidamente aos fundos.
Enquanto espero ela voltar, reparo em um menino que nunca via antes, ele está apoiado na porta dos fundos, seu cabelo é de um loiro bem claro. Será que ele é aquele menino que todos estão falando? O vindo da cidade grande? Depois de analisar sua aparência ele olha pra mim e de repente começa a me encarar.
Desvio o olhar.
Quando Sarah volta ela está com um buque de flores Iris com ela, eu lhe entrego o dinheiro e ela as Iris.
- Aqui esta querido – ela fala com compaixão – Sinto muito por Cristina.
- Obrigado – falo.
Quando estou saindo percebo que aquele garoto ainda me olha.
***
Estou olhando pela janela do meu quarto, sem nada pra fazer. As folhas das arvores estão laranjas e o tempo esta um pouco frio, eu não gosto muito dessa época do ano. Hoje poderia ser um dia comum. Pena que não é.
Quando acordei achei que hoje poderia ser diferente, mas a escuridão ainda está aqui.
Quando a floresta para de ser interessante e eu decido sair de lá, do nada algo se mexe entre as árvores. É uma pessoa, ou melhor, um menino. Ou pior, o menino novo vindo da cidade grande que me encarou na floricultura no mesmo dia.
Ele tem um cabelo tão claro que parece branco, nem parece real, e seu rosto, apesar de ser bem comum, parece tão diferente e interessante agora que eu o vejo pela segunda vez. E ele está olhando pra mim. Logo percebo que o estou encarando, ou pior, nós estamos nos encarando. Sinto um arrepio e uma pontada de arrependimento.
Saio do transe e me afasto da janela, o que foi isso?
- Ei – ele grita lá de baixo – Desce aqui, Iris.
Ele me chamou de Iris?
Vou até a janela, o menino ainda esta lá.
- Eu? – pergunto.
- Sim – ele fala – vem aqui.
- Porque eu iria? Eu não te conheço.
- E dai Iris? – ele sorri – não é assim que fazemos novas amizades?
Quem ele acha que é?
- Como posso saber se você não vai me matar no meio da floresta?
- Não sei – ele fala – não tem como saber – ele sorri, só que, um sorriso sincero, talvez ele não faça nada - e como eu sei se VOCE não vai me matar na floresta?
Touchée.
E se tentar me matar, tenho até uma chance de participar de um filme de ação e terror. Eu já o vi antes, e ele não parece do tipo que vai fazer algo ruim.
E além do mais, não ligo mais pra o que acontece comigo. Não me importaria se alguém me matasse.
- Ok – falo, o sorriso dele aumenta.
***
Quando chego lá ele me espera encostado em uma árvore. Quando me vê ele acena com a cabeça e fala:
- Eu vou catar conchas na praia, quer vir Iris?
Eu já estou aqui mesmo – P – Pode ser - falo.
Nós andamos entre as árvores e folhas secas no chão. O sol esta brilhando muito fazendo o céu e tudo ao redor parecer mais laranja e dourado, passamos um pouco de tempo caminhando sem falar nada. Olho pra ele, seu cabelo agora parece dourado. Ele é mais alto que eu e quando ele retorna o olhar vejo que seus olhos são de cores diferentes. Desvio o olhar rapidamente.
- Então Iris – ele fala – Qual seu nome?
- Rhys.
- August.
August, seu nome é August.
O misterioso garoto da floricultura agora tem um nome.
O fico encarando discretamente o resto da caminhada, tem algo de interessante nele. Talvez seja o jeito de andar, o jeito como ele sempre parece estar olhando ao horizonte, o jeito que ele sorri, e o jeito que ele cerra os olhos ao me encarar e...
- Você sempre encara as pessoas assim? – ele pergunta.
Droga. Sinto minhas bochechas ficando vermelhas, por que isso esta acontecendo?
Chuto algumas folhas pra longe e acabo atingindo meu pé em uma pedra. A dor se espalha pela minha perna e solto um grunhido de raiva.
- Grita alguma coisa – ele fala sorrindo – ajuda a disfarçar a dor.
Rhys seu idiota, não estrague tudo! Você sempre estraga tudo!
- É TUDO CULPA SUA! – grito pra ele sem querer, me arrependo na hora - Ahmm, e-eu não estava...
Ele arregala os olhos de duas cores como se estivesse surpreso com o que acabara de ouvir, em seguida ele começa a rir, ou pior, gargalhar.
- Me desculpa – ele ainda esta gargalhando, e por algum motivo parece que a risada faz parte dele, o ilumina e o faz parecer mais humano.
- Porque você esta rindo? – pergunto.
- Desculpa – ele fala entre gargalhadas – eu tenho ataques de riso quando estou nervoso – ele volta a rir.
Como se fosse uma doença, a risada dele começa a me contagiar, não me importo se ele esta rindo por minha causa ou de mim. Aos poucos começo a rir também e quando percebo estamos os dois rindo por uma coisa completamente idiota. E quando estamos quase perdendo o folego eu falo outra vez " e tudo culpa sua" e começamos a rir outra vez. Isso dura bastante tempo, já não sei mais quanto, perdi a noção do tempo. E então paramos, voltamos a estaca zero de estranheza, foi o que eu pensei, a partir dai parece que somos amigos a bastante tempo. Ele é estranho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Onde As Estrelas Não Brilham
Teen FictionÉ estranho como uma pessoa pode mudar a vida de muitas, acidentes mudarem totalmente alguém, e traumas te assombrarem pelo resto de sua vida. As vezes até as melhores pessoas e seus passados escondem algo ruim. Nem tudo é o que parece. E é isso que...