Capítulo 6 - Minha primeira aula de piano

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Acordo com a boca seca, seca como um deserto.

Apenas depois de alguns segundos olhando para o teto eu me sinto pronta pra sair e enfrentar o dia.

Sinto que estou esquecendo algo importante, mas logo afasto esse pensamento da cabeça e vou no banheiro lavar meu rosto.

Olho no espelho e pareço uma zumbi, uma zumbi bem morta. Ou morta viva, sei la!

Me visto com meu macacão amarelo e desço as escadas, tia Clarice está na cozinha fritando o que parece ser ovos com tomates. Ela me serve um pouco e admito que esta muito bom.

Quando se senta pra comer, ela fala:

- Jandi, quando eu fui te buscar eu trombei com a professora de musica da cidade, Senhora Victoria, e ela ouviu falar que você estava por aqui e lhe convidou a ir lá. O que acha?

- Pode ser - respondo sem pensar, porque falei isso?

- Ótimo! - ela parece bem feliz.

***

Quando chegamos noto uma plaquinha pendurada na entrada da loja, "matriculas de verão abertas". Somos recebidas por uma mulher que parece estar com seus 40 anos, ela usa um coque castanho na cabeça e usa um vestido preto que acentua suas curvas, ela usa óculos que deixam deus olhos pequenos e sua voz tem um sotaque estranho.

- Bem vindas! Você deve ser a Jandi, não é?

Concordo com a cabeça.

- Prazer em conhece-la - falo.

Ela da uma risada.

- Ela e adorável Clarice! Vamos querida, fique a vontade.

Entro no que parece ser a sala de musica, a luz da manha bate nos instrumentos que refletem certa parte dessa luz no teto, há um piano grande, guitarras, baterias e violinos. Ela me lembra um pouco da sala de musica da minha escola, ela era bem menor e havia cadeiras para todo lado, essa é claramente mais espaçosa.

Sra. Victoria entra na sala e me pergunta qual instrumento eu gostaria de tocar. Penso bem, e escolho o piano, ele simplesmente parece o mais fácil de todos. Me sento na cadeira e ela me entrega uma pasta cheia de papeis, com varias notas escritas de uma maneira que eu não consigo ler, eu não sei de nada sobre musica. Felizmente há o som de algumas notas escritas abaixo. Há tantas opções. Me deparo com uma musica escrita "Onde as estrelas não brilham"

Escolho ela, e Sra. Victoria me olha com uma certa preocupação e fala:

- Tem certeza que quer tocar essa? - faço que sim com a cabeça, ela aceita - Foi escrita por um aluno de verão meu há uns dois anos atrás, o garoto era um talento. Quem me dera se meus sobrinhos fossem assim - ela suspira.

Olho bem para as notas e olho para o piano, ele tem as notas escritas em suas teclas, o que facilita muito.

Começo bem devagar, depois de conseguir tocar o refrão eu me lembro...

Oque parece apenas ser uma musica, é a musica que aquele menino estava cantando no meu sonho. Como é possível? Ele escreveu a musica? Ele já tocou ela? Minha cabeça se enche de perguntas. A cada nota eu me lembro dele.

Quando percebo, estou tocando super rápido, não consigo me concentrar. Então paro.

Sra. Victoria me pergunta se estou bem, e respondo que sim. Guardo a partitura da musica, e folheio a pasta em busca de outra. Depois de uma hora Sra. Victoria diz que nosso tempo acabou, e que ela deveria atender a outra pessoa.

Ela se despede de mim com certa estranheza, mas não falo nada.

***

Saio da sala e caminho de volta pra casa, observo o mar e as casas ao longe, há poucas pessoas no mar, a maioria deve estar pescando. Gaivotas voam no ceu e as nuvens parecem finas e bem espalhadas.

Eu decido não voltar pra casa, mas sim explorar o resto do campo. Ando pelo mesmo caminho que fui pela ultima vez. Sento na grama na mesma colina de antes e observo a paisagem. Abraço meus joelhos junto ao corpo e fecho os olhos.

Bem que você poderia parar de se esconder

Abro os olhos e levo o maior susto, dois olhos de cores diferentes me encaram a pouco centímetros de mim. Dou um grito e pulo pra trás.

Ele sorri de um jeito engraçado e parece se divertir com a minha reação.

- Nossa - ele diz - eu sou tão feio assim?

- O que? Ah... não, qualquer um se assustaria se alguém as assustasse desse jeito.

Ele olha pro céu, parece pensar profundamente. Logo olha pra mim e sorri.

- Você ta certa. Desculpa.

Ele se levanta e estende a mao pra mim, eu a pego e ele me levanta com uma certa delicadeza.

- Que esquisito - falo franzindo a testa.

- O que foi?

- Eu tenho a sensação de que já te vi antes, em um sonho.

Ele me olha com duvida, da de ombros, se vira e começa a andar para a floresta. Ele olha pra trás e quando percebe que eu não o estou seguindo ele pergunta:

- Venha logo! Porque ainda ta ai parada que nem uma mula?

- Hã? Eu mal te conheço, nunca te vi antes, porque eu te seguiria? - pergunto.

- Ue - ele fala - você não acabou de dizer que me conhecia dos seus sonhos? - ele sorri.

Onde As Estrelas Não Brilham Onde histórias criam vida. Descubra agora