No dia seguinte eu ajudo tia Clarice a cortar os tomates de seus talos e a coloca-los em cestas de palha.
Não há nenhuma nuvem no céu- Sabe porque eu gosto tanto de fazer isso Jandi? – tia Clarice pergunta, seu grande chapéu de palha cria uma sombra em seu rosto e disfarça algumas de suas rugas.
- Hmm, não – falo, cortando mais um tomate – porque tia? – pergunto.
Ela respira fundo e sorri, como se ela estivesse no céu dos tomates.- Porque a natureza esta em todo lugar, ver ela germinar, crescer, florar e dar frutos. Olhe em volta. É um ciclo interminável de beleza e vida. Pode não parecer, mas cada semente tem um proposito, um dever. Pode ser germinar, crescer e morrer, ou produzir frutos ou flores, e eu adoro viver entre toda essa vida e beleza – ela faz uma pausa e olha pra mim – E é a mesma coisa com pessoas sabia? Cada uma tem sua vida, cada uma é única e cada uma tem um destino próprio- seu sorriso é substituído por uma cara séria - Infelizmente alguns não tem um final feliz.
- Porque esta me contando isso? – pergunto, o chapéu de palha que estou usando agora faz minha cabeça coçar.
- Porque você precisa entender nem todos tem a sorte que você tem.
Sorte?
Ela da um sorriso rápido e fala:
- Sei. Sei que você não é a menina mais sortuda do mundo, sei de seus problemas e desafios. Mas falo que você tem sorte de ter tantas pessoas ao teu lado sabe? Eu não tinha nada quando minha mãe morreu, eu já era crescida, mas, eu não tinha pra onde ir já que depois de um tempo o governo tirou minha casa de mim. Eu não tinha mais minha fazenda, minha mae – uma lágrima fina rolou por sua bochecha – mas sabe, eu tinha um amigo, um amigo de infância que esteve comigo o tempo todo, me ajudou – ela olhou por um tempo o tomate em sua mão – Joe me ajudou tanto nessa época, ele era tudo que eu tinha.
Ela sorriu e olhou ao redor – Eu consegui me recuperar de tudo – ela fala – Agora você terá que se recuperar pelo o que vai acontecer, pois sabe, os desafios são uma droga, mas não deixe eles derrubarem você.
***
Quando o relógio bate as sete da tarde Tia Clarice me arrasta pro quarto pra me ajudar a escolher o que usar. Eu pensava que estaria bom apenas ir de calça e uma blusa normal, mas ela insiste que eu devo ir com um vestido.
Me sento na cama enquanto ela cava no armário, revirando roupas e desarrumando blusas, que eram da sua filha, que agora estuda moda em Paris.
Ela me mostra vários vestidos chamativos mas eu apenas os recusei, peço pra ela um mais simples, e ela tira um vestido verde claro com mangas curtas e saia que vem ate os joelhos. Escolho esse.
Quando saio vestida do banheiro, Clarice me olha de cima a baixo e fala:
- Jandi, vendo você de perto, não se parece nada com Lisa não é? Você se parece mais com Sam – ela esta certa, minha mae é loira, beeem loira, mas pela idade agora seus cabelos são mais uma mistura de loiro claro com um pouco de branco, mesmo ela tendo menos de 40, da pra perceber que herdei praticamente toda a aparência do meu pai, como o cabelo e as poucas sardas. Bem, menos os olhos.
Não quis colocar maquiagem ou coisa parecida, mas coloquei um tênis azul que combina com o vestido, nada demais.
Quando saio de casa, sinto que esta um pouco frio, o vento esta forte. Não tem nenhuma nuvem no céu, então a lua ilumina aonde vou. No caminho, penso nas coisas ruins que podem acontecer, penso nos problemas que posso causar e nas confusões que eu posso atrair. Nenhuma delas é convidativa.
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Onde As Estrelas Não Brilham
Teen FictionÉ estranho como uma pessoa pode mudar a vida de muitas, acidentes mudarem totalmente alguém, e traumas te assombrarem pelo resto de sua vida. As vezes até as melhores pessoas e seus passados escondem algo ruim. Nem tudo é o que parece. E é isso que...