Capítulo 22 parte 2 - O moinho

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Vamos andando até a praia e ficamos um tempo juntando areia. Construindo castelos com gravetos, pedrinhas e conchas.

O vento forte trazendo o cheiro de mar e as nuvens de chuva vindo em uma velocidade assustadora não me assustam, sinceramente nem me importo com elas, chuva não é tao ruim.

- Como está o meu? – Hayden pergunta ainda trabalhando no castelo, que tem dois andares, janelinhas e um túnel que passa por baixo.

Sorrio com a pergunta – Ótimo – respondo – E o meu?

Ele levanta o olhar ate o meu, que não é lá dos melhores. Tentei fazer um castelinho bem simples mas ficou parecido com um pudim estragado com conchas e gravetos ao redor.

Ele ri tentando disfarçar – Parece um pudim estragado – ele fala – sem ofensa.

- Eu sei – falo com um sorriso de lado – Faz anos que não construo um castelo.

- Quer me ajudar nesse? – ele pergunta.

- Pode ser – respondo, vou ate onde ele esta e me ajoelho perto do castelo.

A esse ponto as ondas começaram a ficar mais fortes, assim que sai de perto do meu pudim estragado ele foi engolido pelo mar já que estava mais próximo dele que o de Hayden.

Pergunto o que devo fazer a Hayden, ele fala que devo desenhar mais janelinhas com um graveto pequeno do lado do castelo.

Assim que começo um vento forte passa e joga meu cabelo na minha cara. Quando o tiro do cabelo vejo que Hayden esta olhando pra mim. Do nada ele sorri.

- O que foi? – pergunto sem graça.

- Seu cabelo – ele fala, ainda sorrindo, desviando os olhos ao castelo.

- O que tem ele? – questiono.

Ele olha pra mim mais uma vez – Ele ta maior.

Me pegou de surpresa.

- Sério? – pergunto. Ele afirma com a cabeça.

Limpo minhas mãos cheias de areia no meu macacão e passo a mão pelo meu cabelo. Ele tem razão, minha franja esta na altura da bochecha e meu cabelo na parte de trás esta maior.

- E isso é uma coisa boa? – pergunto relutante.

- Claro que é – ele fala – falam que pessoas felizes crescem o cabelo mais rápido.

- Duvido que seja verdade – falo.

- As vezes as coisas mais surreais podem ser a verdade. Quem sabe?

- Como oque por exemplo? – pergunto.

- Bem, joaninhas são carnívoras. O chiclete não fica 9 anos no estômago. Um dia o sol vai engolir todos os outros planetas. Existem melancias amarelas e melões vermelhos. Você não é culpada pela sua irmã. Demora um tempão pra fazer mangás...Tipo isso.

- Ahm – falo. Não pude ignorar o que ele disse sobre mim e começo a pensar bastante.

Fico tao feliz que ele tenha me ajudado desse jeito, ele parece sempre ajudar quem precisa. Quero ser que nem ele, quero ajudar...

- Hayden? – pergunto.

- Sim – ele fala.

- Do que você mais tem medo? – pergunto a ele, ele olha pra mim e depois pro castelo novamente como se pensasse bastante.

- O moinho – ele fala.

- Aquele moinho em cima do morro?
- Sim, na verdade ele é praticamente um silo já que é enorme. Mas sim, tenho medo do moinho.

- Porque?

- Não sei...

- Que tal irmos lá? – pergunto, ele olha pra mim com dúvida – Você me ajudou a superar um medo meu, e eu quero ajudar você...

- Didi – ele fala sorrindo – não precisa me ajudar.

- Mas eu quero! – falo – Deixa eu te ajudar dessa vez, você já fez tanto por mim...

Ele suspira e olha pra mim – Tudo bem, pro moinho iremos então.

Abro um sorriso, seguro sua mao e começo a puxar ele em direção ao moinho.

                             ***

No caminho, enquanto andamos ate o morro pela floresta, começa a ventar ainda mais que estava antes, as nuvens de chuva estão bem encima de nós.

Ate chegarmos a uma escadinha de pedra pra chegar no moinho Hayden não falou uma palavra. Paro de andar quando estamos quase na curva e lhe pergunto:

- Você esta bem?

Ele não olha pra mim, mas fala:

- Claro que sim, até porque não deve ter nenhum perigo não é.

Ele continua andando sem mim e faz a curva. Eu fico parada pensando no que ele disse.

Não tem perigo nenhum...

Ele já disse isso? Tenho a sensação que sim. Mas quando?

Não tem perigo nenhum...

Ele já me falou isso.

Quando volto a si percebo que Hayden já tinha ido ao moinho há uma tempo, talvez ele já esteja lá. Porque eu o fiz esperar?

Quando chego em cima do morro a chuva começa a cair bem de leve. Vou até a entrada do moinho.

Ele esta bem velho, muito velho. As paredes de pedra tem vinhos crescendo dentro e fora e por dentro é ainda mais assustador. A agua da chuva penetra no moinho por grandes buracos no teto lá em cima e fazem varias poças enormes de agua sob meus pés.  Esta estranhamente silencioso. Apenas pela chuva e o som da água pingando aquele lugar parece assombrado.

- Hayden!? – grito.

Ninguém responde.

Grito outra vez – HAYDEN!

Dessa vez ouço uma voz vindo de cima meio abafada pelo som da chuva. Quando entro percebo que o moinho parecer grunhir, um som estranho de madeira estalando e o vendo uivando.

Crio coragem de dentro de mim e decido subir as escadas.

( Continua na parte 3)

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