Capítulo 4

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Léo seguiu ao lado de Babi até o hospital. Ele não conseguia tirar os olhos do braço dela. Embora já não estivesse mais sangrando, aqueles cortes iam ficar marcados. Babi agia como se não fosse nada demais, mas ele sabia que havia algo estranho com aquela ave. Toda aquela agressividade dirigida aos quatro não podia ser uma coincidência.

Quando Babi foi chamada pela enfermeira, Léo teve uma sensação de dèja vú. A última vez que ele acordou no hospital, o seu mundo estava virando de cabeça para baixo. Ele foi até a máquina de café. Tomou um gole e foi como se aquele café amargo e melado tivesse sido feito com água suja. Os pensamentos grasnavam em sua cabeça, como o maldito corvo. O som da explosão e as penas espalhadas pelo chão cheio de sangue. Lembrar daquele incidente fizera o estômago de Léo embrulhar.

Ele saiu até o pátio do hospital. Precisava deixar o ar entrar... Sentia como se estivesse cercado pela fumaça, sem conseguir respirar direito. Pensou na vez em que o fogo se espalhou e teve que correr por sua vida. Observou a estátua de São Cipriano, o mago segurando o pombo com as duas mãos. Léo encarou a ave, como se esperasse que ela fosse se mexer a qualquer momento. Não sabia quanto tempo ele ficou ali, deixando se levar pelos pensamentos.

– Léo?

O rapaz se virou e viu Babi com um sorriso no rosto.

– Eu te falei que não era nada demais.

– O que o médico falou?

– Quando eu disse que um corvo tinha me atacado, ele riu da minha cara, como se eu não soubesse diferenciar as aves e que era impossível ter um corvo aqui em São Cipriano. Ele disse que o pombo que tinha me atacado poderia estar doente e que o crescimento desenfreado dos animais pela cidade poderia estar os tornando agressivos.

– Quanta besteira... – bocejou Léo. – Quer voltar ao colégio?

– Podemos matar aula hoje? Não estou com a mínima vontade de aguentar todo mundo me olhando e comentando sobre o meu braço. Você sabe como eles são...

Babi segurou a mão de Léo e eles caminharam até o parque. As folhas secas cobriam a grama. Léo escutou os sons de alguém caminhando, mas quando olhou para trás não viu ninguém. A namorada percebeu que ele estava inquieto, como se esperasse a qualquer momento que a ave voltasse novamente. Ela estava morta.

– Que tal um pouco de diversão? – Babi abriu um sorriso e como se fosse um espelho, Léo não conseguiu evitar.

Os dois estavam sozinhos no parque. Àquela hora do dia, os mais jovens estavam no colégio, os adultos trabalhando e os mais velhos deveriam estar em casa, preparando o almoço. Babi se concentrou e visualizou em sua mente as folhas levitando pelo ar. Suas mãos estavam abertas ao lado do corpo, como se o vento estivesse obedecendo-a.

– Sua vez... – disse Babi, tentando manter os olhos fixos nas folhas, impedindo que elas caíssem.

Léo olhou para as próprias mãos e sentiu o fogo crescendo.

– Não desse jeito – interrompeu Babi – Eu quero que você sinta nossos elementos se combinando. Relaxe e sinta o fogo se alimentando do ar, como nós dois.

Ele sentiu um calor se espalhando pelo rosto e assentiu. Léo se concentrou e tomou cuidado, qualquer desatenção e as chamas poderiam se espalhar pelo parque. As folhas que estavam no ar começaram a pegar fogo e as cinzas que se formaram flutuaram, até que Babi fizesse o vento soprá-las para longe.

Não sabia quando foi que as coisas tinham ficado assim, mas tudo parecia certo naquele momento. Léo e Babi se beijaram e rolaram pela grama. As folhas grudaram em suas roupas, corpos e pelos e nada mais importava.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora