Capítulo 9

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Léo acordou com uma dor latejante na cabeça. Depois do enterro de Tomás, ele não se imaginava perdendo outra pessoa próxima tão cedo. Sylvanus era como um tio para ele. Nem sempre ele sabia que se poderia confiar ou não nele, mas preferia acreditar que o outro tinha intenções boas. Não construíra um relacionamento tão sólido com o bruxo quanto Jess, no entanto gostava da ideia de existir alguém mais velho e mais experiente com quem ele e os amigos pudessem contar quando tinham dúvidas sobre os caminhos da magia.

Petrus ligara para Jess e dissera que tomaria conta de tudo. Sylvanus não queria que o seu corpo fosse embalsamado e velado e o amante respeitara sua vontade. Sylvanus preferia ter o seu corpo cremado e as cinzas espalhadas pelos ventos – aquela sensação de liberdade que ele sempre buscara, desde que saíra da casa dos pais e não precisou mais usar uma máscara. Ele escolhera uma vida que pudesse devotar à magia e que não tivesse que se importar com os comentários preconceituosos dos pais, seja pelas diferenças de crenças ou pela orientação sexual dele.

"A natureza é uma ótima fonte de energia para magia e sempre tem as respostas para tudo. Sempre que se sentir perdido, tire um tempo para se conectar e observar como as aves, as formigas, as plantas e tudo mais têm seus próprios ciclos", Léo se lembrara das palavras de Sylvanus certo dia, quando foi pedir ajuda para equilibrar suas emoções, já que às vezes ele sentia a raiva e a paixão o incinerando.

Diante do espelho, Léo observava as marcas em sua testa e a roxidão se espalhando ao redor dos olhos. Quando é que as coisas vão melhorar? Ele não queria pensar nos perigos que ele e os amigos corriam, mas era impossível. Não era como se os problemas pausassem quando algo ruim acontecia. Gostaria ele que a vida fosse fácil assim. Não, às vezes, os problemas vinham um atrás do outro e tudo o que você podia fazer era continuar respirando e tentando se equilibrar pelos fios, torcendo para não cair de cara no chão de novo e de novo. Se não fosse Sylvanus poderia ter sido qualquer um deles. Poderia ser alguém de sua família. Sentiu como se pregos enferrujados descessem pela garganta. Como poderia me defender de forças malignas quando quem respeita as leis universais se controlava para não ultrapassar limites? Seria tão errado se Jess tivesse aniquilado Anna quando teve a oportunidade? Ela não merecia? Aquelas perguntas eram remoídas em sua cabeça. Não tinha ele mesmo incendiado sem querer aqueles homens que tentaram sequestrá-lo? Foi como um presságio.

Vestiu uma camisa branca e calça jeans. Jess pedira aos amigos para que fossem como se sentissem confortáveis, porém lembrara que aqueles que serviam aos deuses não viam a morte como um fim. "A morte é só um começo", Jess repetira as palavras de Petrus no telefone. Léo sabia que dos quatro, a que mais sentiria falta de Sylvanus era ela. Ele se perguntara como ela faria para aguentar as pontas.

Léo entrou no carro do motorista e pediu para que o homem o levasse até o parque da cidade. Não saberia como explicar aos pais qual era a importância de Sylvanus na vida dele. Para falar a verdade, Léo ainda não processara completamente a informação. Sua ansiedade estava se alimentando quando ele pensava no mal que se aninhou em São Cipriano. Olhando pela janela do carro, ele se perguntara se as outras pessoas também estariam tendo um dia ruim. Mesmo com o sol brilhando forte do lado de fora, tudo lhe parecia sem graça, como um dia cinzento. Os pensamentos foram interrompidos quando o motorista avisou que haviam chegado.

Léo agradeceu e seus olhos varreram o parque à procura dos amigos.

Pisando pela grama, seu coração acelerara com o som das folhas e galhos sendo amassados pelos sapatos. Os olhos estavam inquietos. Léo passou pelas árvores e ficou olhando para cima, como se a qualquer instante algum bicho pudesse saltar em sua direção.

O celular começou a vibrar no bolso. O nome da namorada piscara na tela.

– Onde você está? Eu estou aqui sozinho... – Léo não sabia quando foi que ele se transformara no tipo de pessoa que se importava em estar só, mas naquela manhã, a ideia não o agradara nem um pouco.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora