Capítulo 36

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Babi se sentou no banco de trás, ao lado de Manu, enquanto Amanda dirigia pelas ruas de São Cipriano. Jess estava estranhamente quieta, como se estivesse aproveitando para meditar.

– Não sei até que ponto é justo o que estamos prestes a fazer... – Babi sussurrou para Manu.

– Não é como se tivéssemos muita escolha. Você sabe muito bem que se não tomarmos uma decisão de minimizar a situação, mais problemas podem vir para São Cipriano. E eu não sei você, mas esse estresse todo de ter que lidar com inimigos tem diminuído bastante o meu rendimento na escola. É como se todos caminhos ameaçassem nosso futuro.

A garota assentiu. Como era possível manter boas notas quando você nem mesmo sabia se ia estar vivo no dia seguinte? Será que a preocupação com o futuro era normal quando você mal conseguia lidar com o presente? Tantas perguntas. Babi queria que a magia agisse sobre seus problemas mundanos. Nos últimos dias, aquela situação estava a deixando desconectada, como se o ar que ela tanto tivesse sintonia, de alguma forma estivesse trancado em seus pulmões. Ela sabia que aquela sensação era temporária e sempre passava, mesmo quando demorava, mas aquilo estava se tornando cada vez mais comum. A ruiva olhou para a melhor amiga e se perguntou como ela estava lidando com tudo aquilo. Era quase como se Jess estivesse se acostumando ao caos. Babi se lembrava de ter lido sobre aquilo em um lugar antes. Resiliência. De tanto lidar com as dificuldades, Jess aprendeu a não perder sua paz.

– Para onde exatamente estamos indo? – perguntou Manu, tentando quebrar um pouco do silêncio. Ele encostou a mão no ombro de Jess e ela a beijou.

– Minha mãe conhece alguém...

Jess não precisava completar a frase. Aquele pensamento estava tão pesado para os quatro. "Quem tinha o direito de decidir quem merecia ou não?", pensou Babi.

– Aqui vamos nós... – disse Amanda e estacionou o carro em uma rua desértica. Havia uma casa de madeira que parecia abandonada. Os vidros das janelas estavam quebrados, o telhado estava cheio de plantas.

– Quem mora aqui? – Jess perguntou para a mãe.

– Um homem muito mau.

– Eu estou sentindo uma energia opressiva – alertou Manu. – Talvez seja melhor irmos embora.

– Se vocês querem fazer alguma coisa útil, podem se preparar.

Babi desceu do carro e sentiu um cheiro tão forte sendo carregado pelo vento que se perguntou o que era aquele lugar e quem vivia ali. Amanda fez um sinal da cruz e pediu para que eles tomassem cuidado.

– A justiça nem sempre funciona como gostaríamos. Eu me lembro de ter lido no jornal uma reportagem sobre um homem que matava animais e que era suspeito do desaparecimento de pessoas na região, mas nunca descobriram nada que o relacionasse aos homicídios. Vocês eram muito novos quando isso aconteceu, mas a cidade inteira entrou em pânico, especialmente quando ele foi solto. Não havia muito o que fazer.

– Que história bizarra, mãe! – Jess sentiu os pelos dos braços se arrepiando. – Então, você acha que a polícia vai acreditar?

– Melhor do que isso. As pessoas vão ficar aliviadas. Acredite.

– Sua mãe tem razão – respondeu Manu. – A população precisa sentir que a justiça existe, caso contrário tudo o que resta é o caos.

– Apagar a memória da cidade inteira seria impossível. Nós não sabemos quais são os limites da magia – Babi não queria admitir para si mesma, mas parte dela dizia que o simples contato com Lónan e Natasha mudou a perspectiva do seu círculo. Manipular pessoas, isso parecia algo que vampiros de energia fariam. Por outro lado, não era tão ingênua a ponto de pensar que um assassino de animais que poderia ser responsável pelo desaparecimento de pessoas era alguém para se ter pena.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora