Capítulo 12

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Havia algo em Babi que fazia Léo se sentir vivo. Todo mundo precisa ter alguém que desperta isso no outro, pensou o rapaz. Quando a namorada ligou para ele, Léo sentiu a angústia que se formara dentro do peito dele começar a derreter. O clima estava estranho em sua casa. O pai e a mãe pareciam dois adolescentes. Quando Carlos dizia alguma coisa, Teresa fingia não escutar e continuava mexendo no celular. Já quando Léo se aproximava deles, o teatro estava de volta. Os dois conversavam como se nada de errado tivesse acontecido. Aquilo estava quase enlouquecendo Léo. Mentiras silenciosas são mais venenosas do que verdades cruéis.

Quando estava com a namorada, Léo se esquecia dos problemas em casa. Com tantas coisas acontecendo em São Cipriano e as preocupações com aquelas criaturas malignas à solta, lidar com os dramas dos pais era algo que ele não queria no momento, ou para ser sincero, nunca.

Ele não quis contar para Babi sobre a guerra fria que se repetia em sua casa dia após dia nos últimos tempos.

– Você está pronto? – Babi abriu um sorriso para Léo, quando os dois estavam prestes a bater na porta da frente de Jess.

– Com você ao meu lado? Sempre!

Léo beijou Babi, como se o mundo pudesse acabar a qualquer instante. Desde antes de Anna aparecer na cidade, quando ele foi sequestrado, Léo se dera conta de como tudo podia mudar de uma hora para outra. Se a existência era tão frágil e passageira, tudo o que ele queria era aproveitar o tempo com a namorada e os amigos. Sabia que pensar daquele jeito poderia ser traiçoeiro. Ele ainda precisava se dedicar aos estudos e planejar o seu futuro.

Quando Jess abriu a porta, Léo notou a ruga de preocupação na testa dela. Sentia falta de quando as coisas eram mais simples e, mais uma vez, não sabia se era alguma pegadinha da nostalgia: teriam sido fáceis algum dia? Não importava. Léo tinha os amigos e independente do que acontecesse, sabia que poderia contar com eles.

– Vocês querem beber alguma coisa? – Jess ofereceu. Léo notava como ela tentava se mostrar serena, mas que estava preocupada.

– Onde está seu príncipe encantado? – Babi revirou os olhos de brincadeira e deu um soco leve no braço de Jess.

– Deve estar aqui a qualquer momento.

– Vou ligar para ele – respondeu Léo, fazendo com que as duas garotas olhassem para ele com curiosidade. Quando foi a última vez que elas tinham visto Léo tão preocupado com Manu? Os dois eram amigos há tanto tempo. Embora Manu não tivesse de revelar sua afeição pelas pessoas, Léo aprendera com os pais como preservar seus sentimentos. Ter uma mãe psicóloga poderia ferrar com sua cabeça, ele pensou.

– Então, o que está pegando, Jess? Eu te conheço e você pode inventar a história que quiser, que eu saberia distinguir se é verdade ou mentira – Babi colocou as mãos no rosto da amiga e observou os olhos da outra.

Léo notou que Jess tentava se controlar. Ele se virou para deixá-las conversando, mas ficou se concentrando nas vozes das duas.

– O livro maldito caiu das minhas mãos e eu li sem querer...

– Ninguém lê nada sem querer. Você estava curiosa e eu entendo. Eu não aguentaria manter por perto todo esse tempo e não dar ao menos uma espiadinha.

– Eu não estou mentindo. O livro, literalmente, se abriu para mim. Primeiro, tudo estava em branco, até as palavras em vermelho se revelarem diante dos meus olhos...

Um arrepio subiu pelos braços de Léo, enquanto ele escutou o que Jess dissera. Ele estava tão focado na conversa das garotas, que nem se deu conta de que Manu atendera a ligação. Na mesma hora, a porta se abriu e Manu entrou.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora