Capítulo 13

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Quando colocou os pés em casa, Babi foi correndo para o quarto e fechou a porta. Aprendera a disfarçar muito bem, mas precisava chorar um pouco, gritar e colocar para fora a dor que ela estava sentindo. Era como se agulhas em chamas estivessem perfurando o braço dela, entrando e saindo sem parar. A agonia era tanta que ela sentiu vontade de arrancar a cicatriz. Se pudesse, Babi usaria a magia para fazer a marca desaparecer, mas ela sabia que havia coisas que nem mesmo os seus poderes poderiam ajudá-la. Desde o dia em que aquela criatura profana avançara contra ela, Babi torcia para que magicamente tudo se resolvesse e, eventualmente, sua vida voltasse ao normal. Os últimos tempos foram marcados por tantas loucuras, que ela já não sabia mas o que esperar.

A dor vinha em ondas e quando ela menos esperava e achava que não ia mais aguentar, seu braço já não queimava. Babi anotara em seu livro das sombras todas as horas e dias em que a marca a incomodou, na tentativa de achar um padrão e encontrar uma solução. O corpo inteiro chegava a tremer e ela se sentia como se suas energias tivessem sido consumidas.

Ela encostou a cabeça no travesseiro e escutou a voz de Belinda. Com os olhos entreabertos, a visão estava tão enevoada que quando ela viu a sombra se aproximando, só conseguiu resmungar e tudo ficou escuro.

***

As janelas de vidro se abriram. Mesmo em estado de vigília, Babi sentira uma presença no quarto. Ela queria dizer para seja lá o que estivesse ali que a deixasse em paz. Era como ficar presa em um daqueles malditos sonhos em que não conseguia acordar. Pensou em Jess. Queria que a amiga a ajudasse, mas o medo que ela estava sentindo era maior do que qualquer tentativa de se comunicar através dos pensamentos.

– Eu posso te ajudar... Mas tudo tem um preço – a sombra se moveu pelo quarto.

Babi queria se agarrar à esperança de que aquilo tudo fosse só um sonho e que quando seus olhos abrissem, ela estaria sozinha. Ela tentava se mover, mas se sentia aprisionada em um casulo. A garota tentou gritar e chorar, mas tudo o que saiam dos seus lábios eram lamúrias.

– Filha, está tudo bem? – disse Belinda, batendo na porta.

– Fique quieta ou vou ter que matá-la – pediu a voz rouca.

No mesmo instante, Babi ficou em silêncio. Os pensamentos eram como ratos famintos presos em um labirinto na sua cabeça que se atacavam para sobreviver.

– Agora, ouça bem o que eu vou falar. Quando eu contar até três, você vai abrir os seus olhos. Não me faça me arrepender de ter te poupado, garota. Um, dois, três...

Como se tivesse acabado de sair de um estado hipnótico, os olhos de Babi se abriram. A luz desenhou o rosto dentro do quarto escuro.

– Você... Quem é você? O que você quer de mim?

– Você precisa da minha ajuda. Essa gracinha no seu braço não vai te deixar em paz. Como dizem, uma mão lava a outra...

Os olhos dela eram escuros como a plumagem de um corvo. Foi como se uma vela tivesse se acendido na mente de Babi. Ela era tão parecida com a criatura que a atacou.

– Você... Eu estou te reconhecendo.

– Não seja tola! – Ela abriu as duas mãos e usou a energia para iluminar o quarto. – Talvez você esteja me confundindo com o meu irmão. Este, sim, adorou te dar umas bicadas – Ela deu uma risadinha suja, se divertindo com a expressão de Babi.

– Como eu posso saber que você não está mentindo?

– Você não pode. Tudo o que você precisa saber é que se eu quisesse te machucar ou te matar, eu já teria feito. Às vezes, tudo o que basta é um toque para que o coração pare de bater – Ela se aproximou e os lábios tocaram os de Babi. O beijo era magnético e Babi nem mesmo tentara lutar. Seu coração acelerara, era como se toda adrenalina de fazer algo errado estivesse explodindo dentro dela, gerando ondas de calor e eletricidade. Era como observar uma tempestade e sentir na pele a chuva e, de uma hora para outra, o céu se abrir; Foi assim que Babi se sentiu quando os lábios descolaram.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora