Capítulo 1

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Jess estava obcecada pelo livro negro de São Cipriano. Sentia uma vontade irresistível de colocar as mãos naquele livro de aspecto sombrio e encapado com pele humana. Era mais forte do que ela. Desde que Anna morreu, não havia um único dia em que a bruxa não aparecia nos seus sonhos para perturbá-la. Já estava se tornando chato.

Três meses se passaram após a morte de Anna. Nada estranho estava acontecendo na cidade. Seja lá quem fosse até lá procurá-los estava atrasado. As aulas estavam prestes a recomeçarem e os quatro amigos marcaram de se encontrar. Ela queria uma tarde comum, sem nenhuma preocupação relacionada à magia ou que trouxesse à tona Anna – sabia que as palavras tinham poder e quanto menos pensasse nela, melhor.

Babi estendeu a toalha no parque. Ela odiava quando a grama pinicava sua pele e a fazia ficar com vontade enlouquecida de se coçar. Léo a olhava com paixão. Os dois haviam viajado juntos nas férias.

– Então, como foram suas férias? – perguntou Jess, mais animada, se lembrando de como tinha sido horrível a última vez.

– Maravilhosas – respondeu Léo. – Comemos muitos crepes em Paris e fomos em algumas apresentações iradas de Rock em Londres.

– Perfeitas – disse Babi, com tanta alegria, que mal parecia aquela garota rebelde, desesperada para jogar na cara dos amigos como a sua vida era o máximo. Usando a sensibilidade feminina que faltava no namorado, ela pensou que talvez não fosse legal ficar falando o tempo todo da viagem. Tinha sido mágico, porém ela se sentia mal por Jess e Manu não puderem tê-los acompanhado. – E a de vocês?

– Mágicas – disse Manu, que parecia mais maduro. Sua voz estava mais grossa e ele havia crescido alguns centímetros, embora continuasse menor do que Léo. Eles não foram os únicos a mudarem, o corpo de Jess e Babi também passaram por algumas transformações.

Léo coçou o queixo, pensativo. Jess percebeu que ele estava ansioso e logo deduziu que a sua tão desejada tarde sem dramas mágicos havia acabado.

– Há algo que eu preciso falar. Eu sei que não querem tocar no assunto, mas eu estou sentindo uma energia diferente na cidade.

– Você também? – questionou Manu, dando um olhar de desculpas para Jess. Não queria desapontar a namorada.

– Vocês repararam como tudo está calmo demais após a morte de Anna? – perguntou Léo. – Não sei se é só minha imaginação, mas aquilo que ela te disse, Jess, realmente mexeu comigo. Anna não parecia ser o tipo de pessoa que fazia ameaças na brincadeira. Pelo que percebemos, ela levava a sério.

– Se for verdade o que ela disse, precisamos nos preparar... – disse Babi e fez uma pausa para respirar – Mas não hoje. Será que não podemos ter um dia normal?

– Eu estou com a Babi nessa, meninos. As férias chegaram ao fim e logo vamos ter que voltar para a rotina de estudos. Sem falar que eu estou exausta do trabalho.

– Trabalho? – perguntou Léo, cheio de espanto, como se a ideia de trabalhar naquela idade devesse ser algo proibido.

– Sim. Achei que eu tivesse contado para vocês. Eu estou trabalhando na loja Céu de Estrelas, dando uma ajudinha para o Sylvanus, em troca de um salário razoável e do conhecimento dele.

– Entendi! – respondeu Babi, piscando para a amiga.

– O que? – disse Jess, com um olhar curioso aos amigos. – Vocês acharam que eu ia ficar de braços cruzados, esperando bruxos, que não temos ideia de quão perigosos possam ser, chegarem à cidade e nos destruírem? Crianças, eu aprendi a minha lição – respondeu ela, falando como o seu chefe. Nada poderia estragar o bom humor dela naquele dia.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora