Capítulo 7

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Enquanto o taxista seguia até a Avenida dos Corvos, Jess aproveitou para ler o livro da avó. O motorista tentava espionar, mas se concentrava no trânsito para não atropelar nenhuma pessoa ou se meter em um acidente.

Jess se concentrou nas palavras de Hortênsia.

"Vampiros são reais. Tão reais quanto bruxas. Eles não são como vocês imaginam. Muitos não têm dentes afiados e seus rostos não se transformam. Alguns gostam de beber sangue, mas eles evoluíram, para sobreviver. Tão poderoso quanto o líquido vermelho que corre em nossas veias, o que eles gostam mesmo é de nossas energias vitais.

Para cada luz que habita dentro de nós, há uma porção de sombra. Algumas pessoas nunca pararam para perceber. Eu mesmo não acreditaria se me contassem. Meu nome é Hortênsia e eu sou uma sobrevivente.

Tudo começou numa tarde após o colégio. O aluno novo tinha algo que despertava a minha atenção. Eu sempre gostei de rapazes exóticos, mas ele, bom, ele era diferente dos outros. Desde o primeiro instante em que nossos olhares se cruzaram, eu senti um leve formigamento nas minhas mãos. A princípio pensei que fosse a excitação e deixei pra lá. O professor falava sem parar sobre como as bruxas foram queimadas em Salem e como as pessoas precisavam de um culpado para os problemas da época. Se chovia demais, se fazia seca, se alguém ficava doente, se alguém morria abruptamente, se alguém ficava pobre, se alguém ficava rico. De alguma forma, milhares de pessoas perderam suas vidas – em sua maioria mulheres.

Mas eu estou divagando. Não posso perder o foco. Na cidade de São Cipriano tudo acontece por um motivo. Começando pelo estúpido nome. Uma vida toda querendo sair daqui, sonhando com lugares mais movimentados. Foi nessa armadilha que ele me conquistou. O que um garoto que passara anos em Londres poderia querer nesta cidadezinha?

Será que você pode me ajudar? – Sua mão tocou o meu braço e foi como se um raio tivesse me atingido.

Claro.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, tudo ficou escuro. Foi como se eu tivesse mergulhado dentro da minha própria mente e não soubesse como sair dali.

Acordei com ele no meu quarto. Não tinha ideia de como ele entrou lá... Ele me beijava e dizia que eu era especial. Não levou muito tempo para que eu acabasse me apaixonando.

Meu coração se acelerava quando eu estava com ele. Em uma cidade monótona, não havia nada como o amor para deixar tudo parecer aceitável novamente, alguém que te fizesse sentir vontade de aproveitar o momento.

Então, fui me isolando cada vez mais do mundo. Deixei de me importar com coisas que antes eram importantes. Deixei de meditar e minha mente ficou uma bagunça. A gente sempre sabe quando algo está errado, mesmo quando não queremos admitir em voz alta.

O problema não era como eu me sentia quando estava com ele, mas quando não estávamos juntos. Ele me transportava para um mundo só nosso. Um dia eu acordei me sentindo tão fraca, que achei que não ia conseguir sobreviver... Dizem que são nos momentos de crise que enfrentamos nossos próprios demônios. O nome dele girava em minha mente e em um delírio febril eu o chamava..."

Quando o carro estacionou na frente da loja Ceu de Estrelas, Jess e os amigos saltaram do táxi. Leo e Babi ainda estavam lentos, como se tivessem acabado de acordar. Manu e Jess os ajudaram a entrar na loja. Sylvanus estava atendendo uma cliente. Uma senhora reclamanva de uma erva que ela tinha comprado para colocar no travesseiro e ter bons sonhos e acabara tendo pesadelos. Ela pedia o dinheiro de volta para Sylvanus e o homem tentava convencê-la a tentar mais uma vez.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora