Quando Babi pisou fora da sala, sentiu o frio gelando suas pernas e braços. Ela esfregou as mãos e caminhou até o banheiro. As portas estavam abertas e Jess não estava lá. Antes de voltar para sala de aula, ela escutou uma voz em sua cabeça: "Eu estou aqui fora" e um arrepio subiu pelos seus ombros.
Babi não sabia se estava imaginando coisas, simplesmente sabia que era a voz de Jess. Ela passou pelo corredor e viu a amiga sentada no banco do lado de fora. O rosto dela não mentia, Jess despejara seu coração. Babi odiava ver a melhor amiga triste.
– Então, você quer conversar? Se preferir posso ficar quieta, te fazendo companhia... – disse Babi, olhando para os pés de Jess balançando para frente e para trás.
– Eu estou bem. Eu só...
Jess engoliu o choro e soluçou. Babi abraçou as próprias pernas e ficou sob o sol, tentando esquentar o corpo.
– Eu odeio o fato de as pessoas pensarem que Tomás se matou. Ele não era perfeito e quem de nós está em posição de criticá-lo? Se não fosse por Anna... Nada disso teria acontecido.
– Jess...
Babi olhou para as próprias mãos e tentou pesar as palavras, mas não sabia o que dizer para confortá-la. Não guardava nenhum rancor de Tomás. Como poderia? Ele estava morto. Porém, ela sabia que se o rapaz continuasse vivo, ele continuaria quebrando o coração de sua amiga. Talvez fosse um pouco egoísta pensar assim, mas era a verdade.
– Não precisa dizer nada, Babi. Eu sei que você não gostava de Tomás e ficou aliviada quando ele finalmente se foi... – Jess se controlou para não voltar a chorar. – Você é minha melhor amiga e eu sei que você acha que foi o melhor para mim, mas ninguém deveria ter tirado essa escolha dele.
Antes que pudesse dizer algo mais que fosse se arrepender, Jess continuou:
– Me desculpa. Eu não tenho o direito de dizer nada... Quase tirei a vida de Anna.
– Por favor, Jess... Você me conhece há anos e sabe que não estou chateada. E aquela maldita merecia. Se eu soubesse toda a desgraça que Anna causaria, eu teria chutado o traseiro dela bem antes e mandado ela direto para o inferno.
Babi abraçou a amiga e lembrou a ela que precisavam voltar ou ficariam com zero na redação. Já haviam perdido algum tempo ali fora e o professor havia ficado irritado quando viu que ela também saíra da sala. Jess agradeceu a amiga, passaram no banheiro para lavar o rosto e voltaram para a aula.
O professor levantou as sobrancelhas quando viu que as duas estavam de volta e bateu os dedos contra o pulso, alertando sobre o horário. Babi se sentou e ficou pensando nas palavras da amiga. Será que eu preferia mesmo que Tomás estivesse morto? Não. Ele poderia ser um babaca, mas desejar a morte dele era demais. Suicídio... Está aí um assunto que eu conheço muito bem.
Perdera a conta de quantas vezes Babi se trancara no banheiro de sua casa, se sentindo feia. Aquilo tudo era passado, mas era como um fantasma que ainda a assombrava. Antigamente, Babi se olhava para o espelho e tudo o que sentia era repulsa. Terminava de comer e saia correndo olhar o próprio reflexo. Os comentários de sua mãe não ajudavam. Parecia que Babi nunca era boa o suficiente. Foi nessa época que os boatos sobre sua anorexia se espalharam pelo colégio. O que ninguém sabia é que às vezes, Babi sentia vontade de desaparecer. Em alguns dias, tudo o que ela sentia vontade de fazer era dormir. Ela chegou a inventar várias vezes para os pais e para os amigos que estava com alguma intoxicação alimentar – era a desculpa perfeita para explicar porque estava emagrecendo de forma tão rápida e porque se sentia tão fraca e cansada. A garota só conseguiu se livrar daquele pesadelo quando passou a não se importar com o que as outras pessoas pensavam, em sua fase marcada pela rebeldia.
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O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2
FantasyLivro 2 da série Os Bruxos de São Cipriano. Uma vez iniciados no caminho da magia, a amizade fortalecida dentro do círculo se vê mais uma vez ameaçada diante dos segredos e do desconhecido. Assim como os laços de energia se transformaram e poderes...