Capítulo 39

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Dezenas de pessoas andavam pelas ruas da cidade em direção ao parque. Algumas levavam lençóis para que pudessem se sentar na grama. Fazia tempo que Babi não via tantos moradores de São Cipriano reunidos em um só lugar. Era a única coisa diferente para fazer naquela noite na cidade, que parecia esquecida quando se tratavam de eventos culturais. As pessoas se acostumavam com a falta do que fazer. Como poderiam sentir saudade da música, do teatro, dos bate-papos sobre livros, quando eram atividades tão raras? Ela mesma já estava se coçando para botar os pés na estrada para ir escutar e pular com algumas de suas bandas favoritas.

Gradualmente, o céu começou a ficar escuro, conforme a sombra se movia lentamente pela lua. Babi olhou para os amigos e tudo o que ela conseguia pensar era em como a lua servia como uma metáfora para diferentes momentos de suas vidas. Havia tempo para revelar e tempo para ocultar. Parte dela estava se fechando. Se os pais não estavam mais felizes juntos era melhor que eles terminassem. Ela se deu conta de que havia visto Belinda feliz poucas vezes na vida. Isso fez algo espetar o seu coração, um medo de que seu futuro seria como o da mãe e de que a felicidade podia ser traiçoeira.

Léo apertou a mão da namorada e depois a estendeu até os seus lábios e a beijou. Tudo o que ele queria era fazer a dor dela desaparecer, mas algumas coisas só o tempo podem resolver.

– Sua mente está tão longe. Eu sei que esse divórcio dos seus pais está te deixando louca, mas confia em mim, é melhor assim.

Babi assentiu. Era melhor manter o silêncio do que mentir para Léo. Ela viu Sylvanus e Petrus e pensou em como o preconceito ainda era vivo. Dava para sentir que eles estavam loucos para se tocarem, mas não sabiam como as pessoas reagiriam. O tempo passa, mas algumas coisas não mudam. Ela pensou nas mulheres e gays que foram queimados na fogueira durante a época da Caça às Bruxas e nem todos eram praticantes da bruxaria. O diferente incomoda aqueles que não sabem respeitar os outros. Até quando o amor vai incomodar? Por que as pessoas se sentem ameaçadas por bruxos, mesmo quando eles nunca fizeram mal algum a elas? Babi estava cansada de tantas perguntas e de ver que em alguns lugares o ódio estava cada vez mais forte. Se perguntou se algum dia poderia dizer em voz alta que era uma bruxa sem se preocupar com a própria segurança.

Amanda se sentou no chão e se permitiu aproveitar aqueles minutos de tranquilidade. Ela cruzou as pernas e tentou meditar, como Sylvanus havia ensinado, mentalizando boas energias para a pedra dourada. Segundo o bruxo, além de ser boa para a proteção, a pirita ajudaria a atrair riqueza para sua vida.

Manu abraçou Jess e a garota se dividiu entre observar a mãe e a lua. Ele podia ouvir a energia dela vibrando tão forte e oscilando, como se fosse o coração dela inquieto.

– Que meses foram esses. Achei que esse dia nunca fosse chegar – sussurrou Manu, tentando quebrar o gelo e não invadir a privacidade da namorada.

– Todos queremos paz. É uma pena que seja tão transitória – Jess se voltou para o namorado. – Você acha que eu estou diferente? Seja sincero.

– Diferente? Seja mais específica. Todos nós mudamos diariamente.

– Manu... – Ela segurou o rosto dele. – Você já teve a sensação de que não importa o quanto você deseje que as coisas melhorem, no fundo você sabe que tudo é tão incerto? Às vezes, eu paro para pensar e sinto que minha vida seria completamente diferente se eu tivesse nascido em outro lugar.

– Todos teríamos, mas também não seríamos as mesmas pessoas. Não teríamos nos conhecido.

– Não saberíamos que a magia é real e poderíamos dormir tranquilos.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora