Capítulo 37

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Amanda levou Manu para um veterinário. Ela viu o olhar de esperança no rapaz. O mesmo olhar que via na própria filha quando ela perguntava se o pai voltaria para casa sempre que ele precisava viajar, até que as duas se viram mergulhadas em lágrimas e aquelas faíscas se apagaram em Jess.

O choro do cachorro estava cada vez mais fraco. Manu permanecia com as mãos sobre o bichinho, envolto nas luzes verdes – não precisava ser bruxa para saber aquilo, até mesmo Amanda se lembrava de uma vez ter lido sobre como a luz verde estava relacionada à cura e como muitas pessoas usavam isso, especialmente quando estavam doentes ou precisavam recarregar as energias.

Babi e Jess estavam com as palmas das mãos voltadas para cima sobre os seus colos, como se estivessem conectando suas energias com as de Manu. Mesmo com o silêncio dos jovens, Amanda podia perceber como parecia que havia fios ligando eles.

Amanda estacionou o carro em frente a uma clínica veterinária da cidade que tinha atendimento 24 horas. Um alívio desceu pela garganta. Estava se sentindo inútil diante daquela situação. Por um minuto ela desejou que também tivesse poderes e pudesse ajudá-los a curar o animal.

– Filha, eu me sinto tão mal... – Amanda sussurrou. – Você acha que algum dia eu poderei aprender algo? Não estou dizendo que eu quero me tornar uma bruxa, mas seria maravilhoso poder contribuir em alguma emergência.

– Você dirigiu até aqui. Já imaginou qual teria sido o destino do cachorrinho caso você não estivesse junto? – A imagem da própria filha segurando o pescoço do bicho se repetiu em sua mente. – Posso tentar te ensinar uma coisa ou outra. Acredito que você vai precisar de um pouco mais do que sorte para conseguir seu emprego de volta ou encontrar outra vaga. Todos aqueles dias perdidos com Lónan.

– Não diga assim, minha filha. Nós nunca sabemos toda a verdade sobre o que levou o outro a se perder pelo caminho.

Manu foi correndo até a recepção. Jess tentou alcançá-lo. O garoto olhava para o cachorro e para a mulher falando, como se parte dele estivesse torcendo para que ela fizesse alguma coisa primeiro.

– Por favor, será que você pode pedir para alguém ajudá-lo. Ele perdeu muito sangue! – Manu falou tão alto, que Jess sentiu os próprios olhos queimando.

– Antes você precisa preencher as informações.

– Agora – Jess olhou para a recepcionista e foi como se suas palavras estivessem encantadas. – Peça para que alguém dê prioridade ao atendimento.

A enfermeira assentiu e levou o cachorro para dentro.

– Obrigado.

– Não me agradeça ainda. Ele está bem fraco.

Os olhos de Manu estavam lacrimejante, como se a qualquer momento ele fosse perder o restante do controle. Era isso o que a esperança fazia com você, pensou Jess, te dava algo para acreditar, mesmo que não houvesse nenhuma certeza.

– É difícil aceitar que criaturas inocentes podem ser vítimas de tanta crueldade – disse Manu, abaixando a cabeça em uma tentativa de não revelar mais suas emoções. Quando se tinha afinidade com as energias, era uma tarefa quase impossível.

– Eu sei. Vai saber o que se passava na cabeça daquele homem. Eu estou feliz que nossos caminhos tenham se cruzado. Pelo menos, faremos alguma justiça.

Os quatro se sentaram na sala de espera. Manu recebeu uma ligação de Jasmine e ele explicou por cima que haviam encontrado um cachorro machucado, mas que logo voltaria para casa.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora