Capítulo 5

1.6K 185 95
                                    

Jess chegou em casa. Amanda já havia saído, mas deixara a comida preparada sobre o balcão da cozinha, para que a garota não se atrasasse para o trabalho. Trabalho, pensou Jess, lembrando o quanto estava se divertindo na companhia de Sylvanus na Céu de Estrelas. Havia tanto para aprender sobre o universo da magia.

Aquela manhã no colégio dera a certeza a Jess de que a cidade de São Cipriano não estava livre do mal. Ela não quis deixar os amigos preocupados e se controlou. Sentia que era sua responsabilidade encontrar as respostas para aqueles problemas. Jess pensou nas palavras de Léo a acusando de ter lido o livro de São Cipriano. A verdade é que desde que ela guardara o livro, não tivera coragem nem de abri-lo. Sabia que algumas coisas não podiam ser esquecidas – era por isso que muitas pessoas achavam que a ignorância era uma benção.

Jess esquentou a comida e devorou o prato. Não havia tempo para perder. Ela correu até o banheiro e tomou um banho rápido. Era um daqueles dias em que você nunca sabia se a tarde ia estar fria ou quente. Jess colocou um casaco na bolsa e foi para o ponto de ônibus. Ela olhou para o relógio do celular e viu que já estava atrasada. Seus pensamentos se voltaram para Babi. Será que a amiga estava bem? Ela ligou para Babi, mas ninguém atendeu.

Dentro do ônibus, Jess tirou da bolsa um velho livro sobre paganismo que havia pegado emprestado de Sylvanus. As folhas estavam amareladas e manchadas com pingos marrons que lhe lembravam café. Ela segurou o livro com a estrela de cinco pontas na capa e colocou dentro de uma apostila do colégio. Sabia o quanto as pessoas eram curiosas em São Cipriano e como gostavam de julgar as outras. Tudo o que ela não precisava no momento era de alguém espalhando para os outros que ela era uma bruxa, chegando até os ouvidos da mãe e das outras pessoas da cidade. Já bastavam os olhares de pena que Jess recebia, sempre que alguém se lembrava que ela havia perdido o pai, a avó e o ex-namorado.

O livro falava sobre como os elementos estavam relacionados às coisas que aconteciam dentro das pessoas e ao seu redor. Jess percebeu como algumas informações batiam com as afinidades dela e dos amigos... Como a coragem do fogo, a estabilidade da terra, a emoção da água e o intelecto do ar. Os ventos frios entravam pela janela e Jess encostou a cabeça. Quando ela abriu os olhos, foi como se o ônibus tivesse vagando em meio à fumaça: Jess tentava olhar para a paisagem, mas nada podia ver. Ela se levantou e reparou que o ônibus estava vazio.

– Motorista... Onde estamos indo? – Jess cutucou o ombro do homem e quando ele se virou, ela sentiu uma dor no peito. Os joelhos de Jess quase cederam, mas seguraram sua mão.

– Jess, o que você está fazendo aqui?

As pálpebras tremiam e os braços pareciam fora de controle. Ela tentou respirar, mas era como se estivesse sem energia.

– To-tomás? O que...

Jess sentiu como se fosse cair a qualquer momento. As fumaças estavam entrando pela janela do ônibus e cada vez mais lhe faltava forças.

– Você precisa acordar, Jess.

– O que é esse lugar?

– Não queira nunca descobrir. Há algumas coisas que eu não gostaria de ter feito e agora preciso pagar... Faz parte do equilíbrio. Você me ajudou aquela vez, deixa eu ser a sua luz agora. Para onde você precisa ir?

– Céu de Estrelas.

– Preste atenção em mim, Jess. Coloque uma mão em meu peito e a outra em meus olhos. Agora, sinta a energia circulando pelo seu corpo. Quando se sentir forte o suficiente, eu preciso que você encontre o caminho de volta. Eles estão se aproximando... – Tomás começou a gritar. – Por favor, vá logo!

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora