Capítulo 14

1.1K 141 24
                                    


Manu estava concentrado na leitura quando escutou uma batida na janela. Ele colocou a cabeça para fora, mas não viu nada. Ele voltou a ler o livro que Petrus deu para ele. Ultimamente, com tanta coisa acontecendo, o jovem mal conseguia se concentrar nos estudos. Como ele ainda estava indo bem nas avaliações, não tinha ideia. Ele tentava prestar atenção ao máximo nas aulas, para que quando estivesse em casa, pudesse pesquisar.

Os olhos se moviam inquietos. Quanto mais rápido avançasse na leitura, mais informações teria. 

"Em um mundo que nos fizeram acreditar que tudo era fantasia, nós continuamos persistindo na arte da grande magia. Somos muitos – não tantos quanto costumávamos ser, mas estamos distribuídos pelo mundo. Não somos iguais. Não temos os mesmos objetivos [...] Druidas gostam de cultivar e proteger as forças da natureza. Ter conhecimento sobre o clima e como o sol e a lua influenciam a magia, bem como alguns animais. Druidas são fiéis, como alguns lobos são aos homens. No entanto, basta que a confiança seja quebrada para que a fúria seja despertada".

Desde que tomara gosto pela leitura, Manu adorava se perder entre as páginas do livro. Nos dias em que a realidade parecia pesada demais para suportar, as histórias eram sua salvação, mas aquele não era um livro qualquer, tampouco se tratava de alguma ficção. Manu percebeu que muitas narrativas de fantasia bebiam em fontes muito mais antigas.

O coração se atropelara quando ele escutou o barulho da janela se abrindo e viu a figura em seu quarto.

– Desculpa chegar deste jeito. Se você visse sua cara, como seus olhos saltaram e a cor desapareceu...

– O que você quer?

– Precisava conversar com alguém.

Manu fez um sinal para que Léo se sentasse na cama. Ele fora pego de surpresa.

– Atrapalhei sua leitura? – perguntou Léo, observando o livro grosso aberto sobre a cama de Manu.

– Você sabe que estou sempre lendo. Não se preocupe. Para você ter vindo até aqui, deve ser algo importante.

– Babi... Ela foi beijada – Manu viu a decepção endurecer o rosto de Léo, enquanto os olhos pareciam feitos de gelo prestes a derreter.

– Quem foi o engraçadinho?

– Não foi ele. Foi ela.

Não era nenhum segredo para Manu dos boatos de que Babi já beijara outras garotas, mas ele também não esperava que Léo fosse ficar tão decepcionado. A vida era, literalmente, um círculo, pensou Manu, quando Léo continuou falando:

– Uma daquelas criaturas entrou no quarto dela. Babi disse que era como a ave que a atacara, até vê-la se transformando em uma garota. Ela beijou os lábios de Babi para descobrir quais segredos ela estava escondendo, em troca de livrá-la da marca no braço.

Para que a garota tivesse removido a marca de Babi, pensou Manu, era preciso que ela tivesse tanto poder quanto a criatura que a amaldiçoara. Como se estivesse lendo sua mente, Leo prosseguiu:

– Babi me falou que aquela coisa era irmã daquele maldito parasita de energia.

– Bom, isso explica bastante – respondeu Manu.

Inquieto e precisando se aliviar, Manu foi até o banheiro e esqueceu o livro aberto em cima da cama. O primeiro instinto de Léo foi o de observar as letras esverdeadas e as ilustrações de nanquim. Ele estava tão acostumado a ver Manu lendo livros de fantasia, que em um primeiro momento não achou que pudesse ser algo diferente.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora