Capítulo 28

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Em um mundo de tecnologias, Natasha não se lembrava de quando tinha sido a última vez que recebeu uma carta. Aquela seria inesquecível. Apesar de ter tomado uma decisão, ela lutava com os pensamentos. Seria uma traição? Não, mas quando Lónan descobrisse, ele se sentiria desta maneira. O que poderia fazer? Lónan estava passando dos limites com aquela ideia obsessiva de colocar as mãos no livro maldito e causar o sofrimento por onde passasse em São Cipriano.

Levar Amanda será a parte mais difícil, pensou Natasha. Preciso descobrir o que fazer com Lónan.

Natasha se sentou com o próprio livro das sombras aberto. Ao longo de sua existência, estudara a magia de várias tradições. Não tinha preferência por uma. No final, havia muito mais em comum entre as diferentes religiões do que as pessoas imaginavam. Ela decorara vários panteões: desde deuses indianos, egípcios e celtas, até gregos, romanos e nórdicos. Para Natasha, não havia prazer maior no mundo do que o do conhecimento. Esse era um poder que ela realmente valorizava, principalmente quando tinha a oportunidade de visitar esses lugares repletos de mistérios, lendas e costumes.

Quando Lónan sugeriu que ela fosse embora de São Cipriano, ela não achou ruim. Já estava se acostumando com a indiferença do irmão. Mas antes de partir, ela tinha que cumprir sua parte. Aqueles jovens não precisavam pagar o preço da loucura de seu irmão. De tudo o que Natasha estudara de diferentes mitologias, religiões e tradições de magia, havia algo que ressoava em cada uma delas: um ego destrutivo era capaz de provocar danos por onde passasse. Não era preciso voltar no tempo para conhecer histórias de reis e rainhas sangrentos, bastava assistir a televisão para ver o caos promovido por políticos corruptos e extremistas. Não adiantava tentar negar, aquela era a natureza do irmão. Babi estava certa, Lónan era um ímã para problemas.

– Você queria me ver? – perguntou Amanda, ao entrar no quarto de Natasha. O coração da garota quase parou.

– Xi... – Natasha fez o sinal e puxou Amanda para o canto do quarto. – Não fale alto. Lónan pode te escutar!

– Lónan acabou de sair. Ele disse que precisava comprar uns objetos mágicos que eram difíceis de encontrar por aqui. Ele resmungou algo sobre a morte do antigo dono não ter acontecido no tempo perfeito. Não tenho ideia do que ele quis dizer com isso.

– Entendo – Natasha engoliu em seco e segurou o rosto de Amanda com as duas mãos. – Você confia em mim?

– Claro, Natasha.

– Amanda, eu estou falando sério. Olhe bem nos meus olhos e responda minha pergunta: você confia em mim? – Os olhos de Natasha brilharam em um tom roxo-escuro.

– Para ser sincera, não completamente, mas eu sinto que preciso confiar em você ou algo ruim vai me acontecer. Lónan pediu para que eu te obedecesse enquanto ele estivesse fora ou eu pagaria o preço da minha rebeldia.

– Você sente falta de Jess?

– Eu... Eu amo minha filha, mas doei minha vida inteira para cuidar dela. Lónan falou sobre uma viagem para a Europa. Eu sempre quis viajar. O dinheiro nunca sobrou e... – Amanda começou a falar as coisas. Tudo era tão artificial, como se as palavras tivessem sido plantadas na memória.

– Amanda, eu não posso remover o que Lónan te fez. Eu preciso que você pare de pensar nele por um minuto. Sua vida acontecia antes de conhecê-lo. Sua visão pode estar borrada, mas o coração nunca mente. Coloque as duas mãos no centro do peito e sinta a energia fluindo. A verdade está ali, não na sua boca, olhos ou ouvidos.

– Eu quero ficar perto de Jess. Ela é a pessoa mais preciosa da minha vida. Eu morreria por minha filha, se fosse preciso.

– Obrigada, Amanda. Minha consciência está tranquila. Eu sei que estou fazendo a coisa certa – Natasha abraçou Amanda e não tentou esconder sua emoção. A lealdade de mãe para filha era algo que fazia falta em sua vida... Era algo que Lónan ou nenhuma outra pessoa poderia oferecê-la.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora