Capítulo 15

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Jess não queria deixar os amigos preocupados, mas precisava de um tempo sozinha. Como muitos artistas aprenderam ao longo de suas existências, ela sabia que muitas respostas só vinham em momentos de solidão. A magia era uma arte e deveria ser cultivada como tal.

Amanda bateu na porta da filha. Nos últimos dias, ela percebera que Jess estava se isolando mais do que o normal.

– Você brigou com Manu?

A garota estava tão concentrada na leitura que respondeu com um leve balançar de cabeça para o lado. Jess colocara uma capa de tecido com estampas de corujas sobre o livro maldito para que a mãe não visse aquela horrenda capa de pele humana.

– Você está preocupada com emprego? Se o problema é esse, eu posso fazer algumas horas extras.

– Não é isso, mãe – respondeu Jess, sentindo o sangue ferver ao lembrar que Sylvanus se fora e em breve precisaria procurar outro lugar para trabalhar, sem que atrapalhasse suas horas de estudo e os encontros com os amigos. A magia era um caminho sem volta para Jess. – Eu só preciso pensar um pouco.

A mãe levantou os ombros e Jess viu a decepção se formar no rosto cansado.

– Se você não estiver se sentindo bem, podemos procurar uma psicóloga. Faz mal ficar remoendo pensamentos e memórias de experiências negativas – insistiu Amanda.

Ao notar que a filha continuava imersa na leitura, ela avisou que logo a janta estaria pronta e para ela não esquecer de colocar a roupa suja para lavar. Jess assentiu com a cabeça.

Todo esse tempo para três malditas páginas introdutórias. Jess não havia descoberto nenhuma informação que pudesse ajudá-la. Os olhos estavam vermelhos e nem mesmo com muita maquiagem conseguiria esconder aquelas olheiras roxas. Precisava de ajuda de alguém em quem pudesse confiar sem medo. Pensou na avó. Tentou se conectar à energia dela, mas foi como se ela estivesse fora de sintonia.

Deixou de lado o livro de São Cipriano e se concentrou no que precisara. Quanto mais usava o livro das sombras de Hortênsia, mais afinidade sentia com a escrita e encontrava com mais facilidade o que estava procurando. Enquanto as coisas fluem com facilidade com a energia de sua família, quando se tratava do livro maldito, era como estar diante de uma equação que ela não sabia resolver. Jess simplesmente travava. Parte dela temia e desejava não saber o que São Cipriano escrevera ali – palavras significavam poderes, desde que o homem aprendera a usá-las –, enquanto a outra desejava acabar de uma vez por todas com aquela angústia. Lutar com um inimigo nas sombras era mais difícil do que reconhecê-lo, mesmo quando a batalha não parecia justa.

Então, Jess teve uma ideia de como poderia entrar em contato com a avó. Ela encontrara uma técnica entre os rabiscos de Hortênsia.

Ela pediu desculpas para a mãe e disse que precisava ir às pressas na casa de Babi. Amanda perguntara se acontecera alguma coisa com a garota ou com a família dela. Conhecendo como Belinda era, Amanda imaginou se a mulher tinha soltado suas palavras venenosas para Babi mais uma vez.

O coração de Jess estava acelerado. A ansiedade rasgava o peito de forma que lhe faltava o ar. Ela correu até o quarto e escondeu o livro de São Cipriano. Pensou em usar sua magia para criar uma espécie de máscara e ocultar o objeto, mas era arriscado demais deixar sua energia ali. Mesmo sabendo que Amanda não conseguiria ler as palavras, Jess preferia evitar mais um problema. Se aquelas coisas foram atrás de Babi, poderiam importunar sua mãe. Pensou em ir correndo até a casa de Babi, mas levaria tempo demais. Jess olhou para o relógio do celular e viu que teria que esperar quase uma hora até o próximo ônibus passar. Ela colocou o livro da avó da mochila e correu até a cozinha.

O Livro - Os Bruxos de São Cipriano Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora