3 - Somente a Verdade

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Nos convencer que Dimitri Strauss estava conosco, ao vivo, era difícil. Convencer ele de que ele não era real era como comer carne de vaca na Índia: Algo completamente improvável.

Era hora do confronto. Dimitri tinha respondido nossas perguntas de bom grado. Era hora de respondermos as dele e isso, tanto eu quanto Kat notamos quando ele mordeu os lábios, franziu o cenho e jogou as mãos para o ar em sinal de dúvida, nos olhando com um jeito fofo, sarcástico, confuso e irritado ao mesmo tempo. Então finalmente disse:

"E então... Já contei o segredo mais profundo da minha vida para vocês. Agora podem me dizer o que está acontecendo? Onde eu estou e onde está a minha noiva?"

Eu olhei para Kat e ela olhou para mim, com o olhar bem assustado. Provavelmente o mesmo que o meu no momento. E, então, praticamente gritou:

"Reunião de garotas!"

E com me puxou para fora do quarto.

Dimitri se levantou, alterado e falou às pressas:

"Esperem eu ajudei vocês e disse tudo, vocês precisam falar!"

"Ahn... Só um minutinho, eu já volto! Eu prometo!", disse ainda sendo puxada. Kat bateu a porta na cara de Dimitri.

"Tá, agora me diz como vamos contar para aquele 'bofe escândalo' que ele é um personagem do seu livro, como?"

"Fala baixo, Kat! Ele deve estar ouvindo atrás da porta.", sequei minhas mãos suadas na calça.

Ela assentiu e sussurrou, mais próxima a mim.
"Então... Brendy, o que vai ser?"

Meu olhar se direcionou ao chão sem vida do corredor e mergulhei em meus pensamentos. Tinha que falar a verdade. Não sabia como, mas deveria ser a verdade. Dessa vez, eu que puxei Kat de volta ao quarto.

"Vamos amiga. Temos que encarar isso. Eu tenho que encarar isso, afinal, ele é meu...  Quer dizer, meu personagem!"

A cada vez que eu pensava isso, sinos se musicalizavam em minha mente, como um alerta animado de que tudo aquilo era absurdo e ridículo. Falando em voz alta, parecia algo solto dos lábios de um louco. Abri a porta. Dimitri estava sentado na minha cama, com as mãos na cabeça, puxando alguns fios de seus cabelos e com a cabeça baixa. Frustrado. Conheço suas reações. Quando nos viu, esboçou pouco entusiasmo. Apenas retirou as mãos da cabeça.

"E então? Já resolveram suas questões?"

Seu sotaque. Era impossível não me derreter com o seu sotaque. Mas, com muito nervosismo, me preparei para abrir o jogo com Dimitri e contar a ele que ele não passava de um mero personagem literário. Contar que ele é apenas algumas palavras em minhas velhas folhas, em meu velho caderno... Talvez até mesmo em um notebook.

"D-Dimitri... Ahn... Então... Não sei como contar isso, mas... AÍ!"

Bati com força o dedinho do meu pé na quina da cama. Cai sentada ao seu lado, encarando a marca vermelha que a pancada causou e depois, inevitavelmente, encarando a expressão implacável de raiva de Dimitri. Ele queria que falássemos logo.

"Ui... Então... É que..."

"Aí já chega! Dimitri, você... não está mais em 1945. Por algum motivo louco você viajou no tempo e Pam, aí está você!"

Kat mentira. Mentira de forma absurda. Mas a história dela de viagem no tempo... Bom... Era bem menos ridícula que “você é um personagem literário, idealizado pra ser perfeito e sofrer os males da Segunda Guerra, atrás de um amor de infância. Você não existe!” Kat era inteligentíssima. Evitara a 3° Guerra Mundial. E lera meus pensamentos. Ela sabia, pelo meu olhar, que eu não cogitava de forma alguma contar a verdade.

Você Não ExisteOnde histórias criam vida. Descubra agora