O Jardim Botânico começava a ser iluminado pelos raios alaranjados do pôr-do-sol. As árvores balançavam com a brisa suave de um dia de verão. Crianças brincavam com cães, namorados passeavam, pessoas liam - focadas em livros de diversos gêneros - lembrando muito a mim mesma quando saia de casa apenas para ler e escrever mais, ignorando o lindo, colorido e inspirador mundo que me rodeava.
Já faziam vinte minutos desde que Kat saira para colocar créditos e eu começava a ficar preocupada. Mas Dimitri estava tão concentrado na história de sua nova identidade, que parecia ter esquecido a existência dela.
"Por onde começaremos? Tenho que encontrar uma casa, emprego, uma..."
Ele atropelava suas próprias palavras.
"Ei, calma! Vamos por partes... Primeiro temos que arranjar um novo nome pra você e documentos."
"Mas... Como?"
"A Kat conhece muita gente que faz atividades... Como posso dizer... Ilícitas. Podemos conseguir documentos falsos pra você e depois nos preocupamos com as outras coisas."
"Em circunstâncias normais, jamais aceitaria isso..., mas com tudo o que anda acontecendo...", seus dedos correram pelos cabelos recém-tratados.
"Precisamos pensar em outro nome pra você..."
Ele suspirou e disse num tom de lamento:
"Eu amo meu nome... Faz parte de mim. Não tem mesmo como mantê-lo?"
Imaginei como seria se alguém lesse meu livro e soubesse que existe um Dimitri Strauss de verdade em minha vida. Poderia expor ele ao mundo ou pior... expor a verdade a ele. Aquilo estava fora de cogitação. Então, inventei uma desculpa:
"Todos conhecem sua história e seu nome... Seria bem estranho verem outro Dimitri Strauss, ainda mais tão semelhante ao que viram nos vídeos de 1945. Fariam perguntas..."
Falei, enquanto terminava de mastigar o final da minha casquinha de morango. Ele me olhou, com uma expressão entristecida, e com sua mão suja da casquinha de chocolate dele - sua preferida. Tentei animá-lo, me sentindo profundamente culpada por tudo o que eu estava fazendo ele passar.
"Podemos escolher um nome com as mesmas iniciais que o seu: D e S. Assim seu novo nome teria um fundinho de Dimitri Strauss sempre!"
Ele pareceu mais animado e assentiu.
"Ótima ideia, Brenda! Você é uma garota muito criativa."
Ri do que ele falou, como se fosse uma piada interna. Graças a minha criatividade ele estava ali, vivinho do meu lado.
Ele deu uma sugestão:
"Pensei num nome... Que tal... Demetrio Stanley?"
Se antes eu tinha rido, naquele momento ri muito mais, temendo que o liquido da casquinha voasse pelos orifícios do meu nariz.
"Já que sou criativa, deixa que eu escolho um... Você não é muito bom com essas coisas!"
Ele riu também, concordando esportivamente. Depois disto, pude avistar Kat vindo em nossa direção, com um sorriso enorme estampado na cara.
"Vocês não vão acreditar. Encontrei o Kevin Pyro e o Tyrone Jenkings da Beta, ali na esquina e advinha..."
Não entendia o porquê de Kat encher a boca para falar os sobrenomes daqueles otários. Eles eram os únicos Kevin e Tyrone que conhecíamos. Tinha certeza de que, se eles eram tão metidos, com certeza devia ser por serem tão enaltecidos pelas garotas como Kat.
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Você Não Existe
FantasyO que você faria se algo que você inventou realmente existisse? Brenda Mitchoff, aluna de literatura em Vancouver, escreveu o seu primeiro livro: "Algumas Cartas", nos últimos anos da universidade. O livro teve toda a sua dedicação, já que ele seria...