A onda de choque atingiu rápido o meu corpo. Toda a felicidade, vinda do fato de eu estar lá, finalmente concretizando meu sonho se transformou em horror, desesperança e vergonha.
A vergonha foi tanta, que senti meu rosto esquentar, como se Peter Firest tivesse me visto nua. E o fato dele estar vendo meu rosto inteiramente corado, me fez encolher ainda mais, com toda essa vergonha elevada a enésima potência.
Eu era uma vergonha.
"Não que você não tenha talento e nem que sua escrita não seja boa, Brenda. Você é muito talentosa. Mas quando li Algumas Cartas, me vi lendo centenas de outros livros exatamente iguais ao seu. Este é, no mínimo, uma versão crua de Diário de uma Paixão."
O líquido quente e salgado começou a brotar dos meus olhos. Senti minha mão trêmula em baixo da mesa e pedi a Deus pra que eu não desabasse ali. Não ali. Não na frente dele.
Ele percebeu minha reação. Parecia que eu tinha perdido tudo. Tudo... Meus vários finais de semana imersa na escrita, todas as folhas de papel jogadas fora, com rascunhos que não deram certo, minha dedicação em montar uma lista com todas as características, gostos e detalhes mais precisos de Dimitri. Subi uma escada gigantesca para ter a mais dura queda que qualquer pessoa poderia sentir.
"Por favor, não estou falando isso para que se sinta mal, nem para que se ofenda. Você pode crescer muito, Brenda. Mas críticas são mais que necessárias."
Respirei fundo e as lágrimas começaram a escorrer.
"Não... Me... Me desculpe, senhor Firest. O senhor me pegou de surpresa.", sequei as lágrimas com meus dedos.
Ele tirou de dentro de uma de suas gavetas uma caixa com lenços de papel para mim. Parecia que ele já estava acostumado com esse tipo de situação: ser o responsável pela destruição dos sonhos de jovens escritores.
Mesmo com toda a raiva que eu estava sentindo, não poderia simplesmente disparar a torrente de palavrões que passavam pela minha cabeça naquele momento. No fundo eu... Sabia que Peter Firest estava certo e sabia que se ele não criticasse, eu estaria caminhando no desconhecido. Seria bem pior ouvir críticas assim de jornais, blogs e milhares de leitores. Mas compreender isso não amenizava em nada minha dor.
"Brenda, não estou falando que sua obra é descartável. Nem que você deva desistir.", ele tirou uma pasta de dentro de outra gaveta e empurrou para mim. "Anotei algumas coisas aqui. Erros, coisas que você deveria mudar na sua obra. Minha resposta acerca da publicação do seu livro, pela Live Our Way hoje é não. Mas, quem sabe, um dia... Depois de você incrementar seu livro e me trazer algo diferente, eu não possa reconsiderar?"
Pisquei algumas vezes para limpar minha visão molhada e peguei a pasta.
"O-obrigada.", balbuciei.
Então ele se levantou e eu senti que deveria fazer o mesmo. A conversa estava se encerrando.
Ele apertou minha mão, calorosamente e seu olhar me moeu ainda mais. Era um olhar de pena.
"Sinto muito."
Assenti e sai da sala.
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Sai do prédio completamente sem rumo, me perguntando o que fazer. As lágrimas finalmente encontrando seu caminho de liberdade e caindo. Segurei forte a minha bolsa e a visão dos carros, das pessoas... Da cidade me trouxe vertigem. Antes que eu pudesse cair, Kevin apareceu do meu lado."Brendy? Aconteceu alguma coisa?"
Tentei respirar fundo. Não demonstrar que eu estava desmoronando, então respondi a pergunta dele com outra pergunta:
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Você Não Existe
FantasyO que você faria se algo que você inventou realmente existisse? Brenda Mitchoff, aluna de literatura em Vancouver, escreveu o seu primeiro livro: "Algumas Cartas", nos últimos anos da universidade. O livro teve toda a sua dedicação, já que ele seria...