Meu coração despedaçou com a porcelana do vaso que Dimitri carregava.
Minha voz começou a falhar no microfone e o silêncio barulhento era o único que falava. Somente os barulhos normais das demais vidas do shopping. Fora daquele grupo. Fora da troca de olhares desesperados entre mim e Dimitri.
Algumas pessoas tentaram ajudá-lo, juntando os cacos e pegando o ursinho. Olhares preocupados. Sussurros perguntando se ele estava bem, que não precisavam ser escutados para serem deduzidos.
Dimitri se afastou e saiu andando para longe da multidão. E, de uma hora para outra, larguei o microfone e desci do palco. Olhares me perfuraram. Olhares de dúvida, inquietação, curiosidade e até mesmo raiva e deboche. Os deixei para trás.
"Brenda, tudo bem?", Petunia perguntou. E assim como Dimitri, não fui capaz de respondê - la e saí atrás dele.
Meu olhar passava por todas as lojas, quiosques e pessoas. Pessoas loiras, morenas, negras, asiáticas, pardas... Nenhuma delas era ele. Até que eu o vi, saindo pelo acesso B, em direção ao estacionamento. Desci as escadas rolantes, tropeçando nos degraus e nas pessoas.
Quando finalmente consegui, estava do lado externo, na calçada do estacionamento aberto. Gritei o chamado.
"DY! ESPERE!"
Ele não parou, então fui e puxei ele pelos braços.
"Espere, por favor."
Ele ainda tremia. O olhar perdido atrás de mim e mordendo o lábio inferior.
"O... O que foi aquilo Brenda?", ele sussurrou, ainda desviando o olhar de mim.
"Dy... Por favor...", comecei a lançar palavras sem concordância, enlaçadas em soluços.
"O que foi aquilo, BRENDA?", ele aumentou o tom.
"Eu... Realmente não...", enxuguei as lágrimas crescentes e engoli em seco. "Não é algo que se dá pra explicar de uma vez..."
"Não é algo que... Você não fez o que eu estou pensando, não é? Eu ouvi os nomes e você dizendo que... Você fez do meu delírio uma história?"
"Não!", repliquei. "Não é nada disso, você está entendendo tudo errado. É algo mais..."
"Então explica!", ele praticamente gritou. Algumas pessoas começaram a olhar.
"Aqui não dá. Aqui não...", esfreguei as têmporas.
"Aqui. Agora. Me explique agora! Eu não estou entendendo, Brenda. Por que disse aquelas coisas? O que é aquele livro? Por favor de uma vez por todas, o que está acontecendo?!"
"Você não existe!", disparei.
Ele semicerrou os olhos em descrença.
"Do... que você tá falando?"
Me aproximei e comecei a falar baixo.
"Tudo o que eu disse no palco é verdade! Você... Eu te inventei há três anos. Você...", meu coração disparou em milhões de batidas por segundo e eu senti uma vontade esmagadora de vomitar. "É um personagem do meu livro. Você, Sondra, seus pais, sua esquadra... Eu os criei..."
"Você está louca!", ele fechou os olhos. "Você é louca! Seja sincera comigo uma vez!"
"PELA PRIMEIRA VEZ ESTOU SENDO SINCERA! É loucura, eu sei, mas você sabe, Dimitri que eu tenho razão. Eu sei que você pode sentir. Eu te conheço, você ainda não os esqueceu."
"ESSE NÃO É O MEU NOME!", ele gritou e colocou as duas mãos sobre a cabeça e lágrimas ameaçavam cair de seus olhos.
"É o seu nome! Eu posso te mostrar! Por favor, vem comigo.", supliquei chorando e segurando em seus braços.
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Você Não Existe
FantasyO que você faria se algo que você inventou realmente existisse? Brenda Mitchoff, aluna de literatura em Vancouver, escreveu o seu primeiro livro: "Algumas Cartas", nos últimos anos da universidade. O livro teve toda a sua dedicação, já que ele seria...