35 - Algumas Cartas

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Os barulhos de destruição no exterior do meu cativeiro retumbavam em meus tímpanos. Uma dor agonizante vinda do meu ventre fazia tudo ficar pior.

Mas minha alma se alegrava. Eles haviam chegado. Seria a esquadra do meu Dimitri que estaria atacando os monstros alemães que tanto me fizeram sofrer? Será que vamos poder escolher juntos o nome de nosso filho?

Ainda não sei se é menino ou menina. Escolhi dois nomes. Dois para as duas possibilidades. Lukas e Natasha.  Seu segundo nome e o nome de sua mãe. Mas preciso saber se ele também quer isso. Preciso da opinião dele.  Preciso vê - lo de novo.

Os sussurros da mente de Sondra Yelzen ficaram cada vez mais altos em minha mente. As vezes se tornavam gritos.

Eu passava alguns minutos olhando para o espelho, para ter a certeza de quem era eu.

Você é Brenda Mitchoff. Brenda Mitchoff.

Olhar para o meu rosto ajudava. Mas as lembranças terceiras criavam um nó tão grande na minha consciência que parecia, as vezes, que eu estava sob um transe sobrenatural. E não deixar transpassar isto para fora da mente se tornava cada vez mais difícil. Ainda mais quando eu estava com Dimitri. 

Naquele dia - o dia do noivado de Allison e Julian - eu demorei muito mais do que o habitual para me aprontar. Tomei banho, arrumei o cabelo em cachos com a babyliss, coloquei uma blusa florida simples com uma calça preta e fiquei quarenta minutos catatônica, encarando o espelho.

Se Kat estivesse lá seria tudo mais fácil. Mas ela havia ido mais cedo para casa de seus pais, me deixando sozinha com Sondra no dormitório. Minutos depois, Dimitri apareceu. Blazer e jeans, como sempre, me arrancando suspiros.

"Bem gato. Está tentando impressionar alguém?"

Ele deu de ombros e segurou minhas mãos.

"Uma certa garota loira e minúscula. Acha que eu consigo?"

"Não sou minúscula!", dei nele um soco.

A festa de noivado de Julles e Allis foi em um bar karaokê com temática nerd: o Mos Eisley Bar. Karaokê me dava lembranças, do dia em que Dimitri ficara bêbado, e eu pedi a Deus que os noivos fossem adeptos a abstinência de álcool.

"Se tiver bebida, pelo amor de Jesus, fique somente no refrigerante.", disse no carro, enquanto estacionava na esquina ao lado do bar.

"Brenda, eu sou um homem crescido. Sei me controlar."

"Ah não, nem me venha com essa! Da última vez que você disse isso fez questão de enfiar a língua na garganta da tal Hazel!"

"Olha se servir de consolo...", ele dizia enquanto soltava o sinto e pegava o presente que compramos no banco de trás. Uma lanterna no formato da máscara do Darth Vader. "... Eu só dei um selinho nela. Um beijo técnico... A única garganta aceitável pra minha língua é a sua, brotinho."

"Ok, legal! Vamos logo, já estamos atrasados."

Graças a Deus, o interior do bar era quente e agradável, pois os primeiros sinais do outono já se manifestaram e, como todos os meteorologistas estavam falando o tempo todo, um dos mais frios outonos em Vancouver em dez anos. Me apoiei no braço de Dimitri, desejando ter algum poder especial que me fizesse capaz de sugar todo o seu calor.

Noah, um dos garotos da galera de Kevin já estava cantando no pequeno palco circular do local. Mesas de madeira, com luminárias de neon azul o circulavam, como uma platéia e garçons, com roupas temáticas do Star Wars, serviam as mesas com petiscos e bebidas. Todos riam.

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