12 - 94 Velinhas para o Sr. Strauss

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Kevin ainda não acreditava no que eu acabara de falar.

"Você está dizendo que... Aquele cara que não larga mais do seu pé e do da Kat é seu personagem? É seu Bimbo?", ele piscou algumas vezes, estralando as juntas dos dedos.

"Por quê? Depois de tudo o que você me contou, ainda não acredita, Kevin?"

Ele pareceu um tanto desconcertado, mas negou com a cabeça.

"Bom... Faz sentido vocês andarem tão juntos. E provavelmente você tem sentimentos por ele."

Seus ombros murcharam em sincronia com as palavras recém ditas e eu corei, pensando "será que é tão óbvio assim?".

"Por que acha isso?"

"Brenda, o Bimbo era um cachorro, mas era tudo pra mim. Sabe eu passei minha infância toda sendo ignorado pelos meus pais ricos, que tinham seus negócios pra cuidar. Negócios que sempre me pareceram muito mais importantes do que eu. Eu sei, parece clichê, mas eu também não tinha amigos. Nenhum. Bimbo era meu amigo imaginário e, por mais que eu tenha crescido, ele continuou sendo."

Um caminhão me atropelando teria me deixado menos arrasada depois de ouvir isso.

"Então por isso acho que você tem sentimentos por esse cara. Só que acho que são sentimentos... Amorosos."

Fiquei em silêncio, sem revirar ainda mais este assunto. Até que perguntei:

"Doeu muito? Quando o Bimbo..."

"Você não faz ideia.", ele respondeu entre suspiros.

"Por que continuou na Beta?"

Ele deu uma risadinha, carregada de mágoa.

"Para manter as aparências. Ou porque sou um idiota."

Abaixei a cabeça, encarando meus cadarços, como se fossem a coisa mais interessante do mundo.

"Vamos tomar um milk-shake, Brendy?"

Caminhamos pelo parque do Campus, depois de pegar milk-shakes na lanchonete. Uma brisa fria bateu sobre nós e Kevin tremeu, chacoalhando um pouco o seu copo de plástico.

"Uh... Devia ter trazido um moletom na bolsa da academia.", ele riu, abraçando o seu corpo, quase se esquecendo de equilibrar o copo.

"Como aguenta esse frio de regatinha?", zombei.

"Sou canadense, Brendy. Pra mim isso aqui é calor. Mas admito que um moletom..."

Praticamente ignorei suas palavras acerca do frio, ainda ruminando cada uma de suas palavras. Tinha que saber mais sobre o que houve depois de Bimbo.

"Voltou a escrever livros do Bimbo depois do trote?"

Ele suspirou, e falou seco como o deserto.

"Tentei, mas acho que o Imaginare meio que me amaldiçoou depois da queima das páginas. Toda vez que tentava escrever é como se uma amnésia viesse e eu não tivesse ideia sobre o que falar. Como um enorme bloqueio literário. Outro motivo de eu ter desistido de estudar literatura foi esse."

Você Não ExisteOnde histórias criam vida. Descubra agora