Eu não o vi mais desde então.
Três meses se passaram sem que eu sequer visse o rosto dele.
E as coisas em minha vida aconteceram de forma tão rápida e tudo ao mesmo tempo. Meu curso estava no final, e conversas de formatura vinham de todos os lados da minha classe.
Kat parecia muito animada para isso. Dizia que não via hora de finalmente jogar toda essa coisa de prova e trabalho para o alto e finalmente começar a viver a vida de sucesso que ela deveria viver. Já eu... Não ligava para mais nada.
Estava completamente entorpecida. Ora minha mente estava em Dimitri, ora estava nos flashbacks de Sondra e eu realmente parecia que estava perdendo a mim mesma.
Andava calada, nunca saía para nada e nem tinha interesse em nada. Estava pior do que na época em que eu estava isolada em meu dormitório, com a mente toda mergulhada em meu livro. Kat, como a boa amiga que sempre foi, viu bem o meu estado. Certa tarde, enquanto chegava de um dia de compras, ela jogou pilhas de sacolas na poltrona e caminhou até o meu sofá.
"Chega, Mitchoff!"
Ergui mais a minha edição especial de Harry Potter - uma que Dimitri tinha dado a mim - e perguntei desentendida, com os olhos nas páginas.
"Chega? Chega do que, Katrinne?"
Ela arrancou o livro da minha mão e jogou longe. Um aperto em meu peito quase me assassinou ao ver o livro caído de uma forma que, com certeza, o amassou.
"De ficar aí toda depressiva por causa de um homem. Caramba, Brenda. Há pouco tempo atrás nem homem você tinha. E com certeza era muito mais feliz."
Cruzei os braços e fiquei encarando os montes que minhas pernas faziam debaixo do cobertor.
"Nós vamos sair.", Kat disse depois de perceber que minha única resposta seria o silêncio.
"O que? Pra onde?", sobressaltei-me.
"Vamos a Poison."
"Droga, Kat, já disse que não gosto de ir a este lugar!", gritei, me levantando do sofá.
"Então escolhe outro. Você não vai ficar aqui trancada nem mais um segundo. Esquece o Dimitri, Brenda. Você está melhor sem ele."
"Não dá..." hesitei um pouco, coçando a minha testa. "... Pra esquecer ele assim tão fácil."
Kat bufou e se jogou no sofá.
"Por que não? Por que ele seu personagem? Agora ele é só um cara, minha amiga."
"Não é... Por isso... As coisas estão mais complicadas do que parecem, Kat."
Contei tudo a ela depois. Sobre os flashbacks, sobre Antonie Keyne e o que Pascolle disse sobre a forma que eu e Dimitri estávamos conectados. Que isso só poderia acabar de uma forma: ele morto.
Kat segurou firme uma de minhas mãos. Seu olhar era coberto por compaixão e até mesmo tristeza. Ela gostava muito de Dimitri também.
"Mas como estão estes flashbacks? Ainda muito frequentes?"
Suspirei com melancolia.
"Gostaria mesmo de dizer que não. Pensei que se eu estivesse afastada dele, quem sabe, eles perdessem a intensidade. Mas nada mudou. As vezes não sei quem eu sou."
Kat apertou minha mão, solidária. Ela poderia ser bruta, as vezes. Mas sabia ser um amor nas horas certas.
"Me dói saber disso e saber que ele está longe e não me quer. Estaríamos quase completando um ano de namoro, agora que o natal está chegando e agora tudo está tão confuso..."
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Você Não Existe
FantasíaO que você faria se algo que você inventou realmente existisse? Brenda Mitchoff, aluna de literatura em Vancouver, escreveu o seu primeiro livro: "Algumas Cartas", nos últimos anos da universidade. O livro teve toda a sua dedicação, já que ele seria...