Eu fui idiota por pensar que poderia manter a farsa por muito tempo. Dimitri era inteligente demais para isso.
Em breve faria um ano que ele estaria com a gente. Olhando de forma ampla, eu percebi que tudo entre nós aconteceu de forma rápida: ele na faculdade, meu livro mudando completamente de rumo, nosso relacionamento...
Dimitri agora era informatizado. Depois de tanto relutar, acabei ajudando-o a criar um Facebook e um Instagram e em menos de uma semana, ele tinha uns 5 mil seguidores e amigos e pelo menos 300 curtidas em cada foto. Isso sem contar as semanas seguintes.
"Como isso é possível?", perguntei irritada.
"Acho que sou um cara sociável!", ele disse se gabando.
"Demorei mil anos pra conseguir uma popularidade aceitável e você vira o famoso. Ninguém merece!"
Nossa rotina era seguinte: primeiro as aulas. Eu estava caminhando para o final do curso e precisaria estudar muito. Depois das aulas, pegava um notebook e um caderno e ia para o dormitório de Dimitri. Ele comprava salgadinhos e ficávamos lá, deitados na sua cama de solteiro, escrevendo, lendo e comendo. Resolvemos lá, já que Harper, seu colega de quarto nerd, havia arrumado uma namoradinha e nunca ficava por perto, resolvemos dar uma privacidade a Kat e... Nós.
A nova história também se passava na Segunda Guerra Mundial. O novo protagonista era Andrew Raudrechtebt e a garota era Salomé "Sally" Jahal. Assim como Sondra, Sally era judia. A diferença estava em Andrew, que ao invés de ser um Russo/Britânico, era alemão. A história também ganhara um novo nome: O Cativeiro.
"Odeio a ideia de que um chucrute será o protagonista!", ele disse enquanto escrevíamos o capítulo 6.
"Mas ele é bonzinho, amor."
"Impossível. Nenhum chucrute é bonzinho."
"Dimi, é ficção. É algo diferente, não é? Eu nunca vi história alguma em que um nazista se apaixonou por uma judia. É uma prova que o amor supera tudo, até o preconceito!"
"Com certeza existem histórias assim por aí, apesar de coisas assim nunca terem acontecido. Mas nenhuma delas tem Brenda Mitchoff por trás das palavras!", ele deu um beijo em minha testa e me encorajou a continuar o capítulo.
Dimitri me ajudava muito com fatos históricos. Não só pelo fato dele ter teoricamente vivido na época, mas por agora ser estudante de história.
Kevin manteve a palavra e me ajudou na divulgação do livro em nosso blog. A garota youtuber - amiga da chata da Mandy Stamos - se chamava Felicity Matthews. Ela fez um vídeo especial sobre o livro e isso ajudou de uma forma que eu não esperava... Muitos leitores apareceram em menos de seis meses na plataforma que eu postava os capítulos e isso só motivava a escrever mais e mais.
Até que aconteceu. Dimitri começou a desconfiar da verdade. Há algumas semanas ele andava estranho. Ajudava com o livro, mas estava muito calado e desanimado. Completamente fora de sua animada sintonia.
O confronto foi seis meses após o início de O Cativeiro. Era dia da macarronada de Kat. Eu e ela estávamos rindo da massa que ficou toda grudada na panela. Eu a chamei de desastre culinário. Dimitri chegou, despejando sobre o sofá seus cadernos e um notebook que ele havia comprado há duas semanas. Ele mordia os lábios, esfregava as mãos no jeans azul e parecia mais apreensivo do que eu jamais vira. Tão apreensivo quanto quando ele estava prestes a invadir o campo de concentração de Sondra.
"Dimi? Tá tudo bem com você?"
Ele assentiu.
"Sim... Ah... Na verdade... não. Não tá tudo bem. Preciso conversar com você e com a Kat. Posso?"
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Você Não Existe
FantasyO que você faria se algo que você inventou realmente existisse? Brenda Mitchoff, aluna de literatura em Vancouver, escreveu o seu primeiro livro: "Algumas Cartas", nos últimos anos da universidade. O livro teve toda a sua dedicação, já que ele seria...