10. O novato é...

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Uma hora depois eu estava na porta do cabeleireiro, claro que eu já tinha conversado com minha mãe, e ao contrário do que eu pensei ela me apoiou muito. Só Romeu que não gostou muito da ideia, acho que pelo costume de me ver desde os dez anos com o cabelo grande.

A cada minuto que se aproximava a minha vez de ser atentida mais aumentava meu nervosismo, mas também a certeza de que eu estava fazendo o certo.

O cabeleireiro, que eu descobri se chamar Max, adorou saber que eu iria cortar bem curto.

- Eu estou cortando meu cabelo pra doar.

- Ah, entendi. Isso é maravilhoso! Então vamos amarrar aqui. Seu cabelo vai ficar acima dos ombros, tudo bem? Posso fazer um channel? - ele perguntou e desatou a falar feito uma matraca, o que me ajudou a dar boas risadas e a perder um pouco o nervosismo.

Então ele cortou a maior parte do cabelo, que estava presa pelo elástico. Eu poderia dizer que aquele momento pareceu durar horas, mas foi bem rápido, e foi mais libertador do que sofrido, o meu corte marcava o fim e um início de uma nova etapa, eu estava me sentindo diferente. Era a primeira vez que eu tinha feito algo assim, seguindo os sinais de Deus, como se Ele estivesse ao meu lado me dando as instruções, e estava mesmo. Eu deixei apenas uma lágrima cair.

- Já está arrependida? - Romeu perguntou.

- De jeito nenhum! Meu choro não é de tristeza. - falei, imaginando o sorriso que eu iria colocar no rosto daquela garotinha.

Quando eu olhei pelo espelho vi que Max também tinha chorado. Ele percebeu que eu observava.

- Ah, é que eu tenho uma irmã e ela tem uma filha com câncer. É uma realidade muito dura. Ela está no hospital nesse momento.

- Sentimos muito. - Romeu disse.

- Por acaso ela se chama Ivnes? - perguntei pra matar minha curiosidade.

- Sim, por quê?

- Eu conheço! Eu dou aulas de arte na instituição.

- Ah! - exclamou, como se agora tudo fizesse sentido. - Você que é a Julieta namorada do Benjamim!

Ouvi uma risadinha de Romeu.

- É... Sou eu sim.

- Ela falou muito de você, ela e o Pedrinho.

- Será que a gente podia ir visitar? - perguntei.

- Seria ótimo, mas o setor onde ela está não permite visitas, apenas a mãe dela pode acompanhá-la.

- É uma pena, eu queria muito vê-la.

- Não vão faltar oportunidades, se Deus quiser ela vai sair logo do hospital. - disse, sorrindo.

- Com certeza. Então, nós vamos indo né Romeu?

- É, vamos.

Paguei pelo corte e sai com meu cabelo guardado em um saquinho que Max me deu. Eu estava bem feliz, por mais que estivesse também preocupada com Ivnes, mas todo sentimento bom que eu tinha foi ameaçado quando o meu celular tocou e eu sem olhar o visor atendi.

- Alô? - falei.

- Julieta? Está chegando o dia da gente se encontrar de novo. E eu juro, você vai pagar por tudo que fez a mim e a minha família. Você nunca vai se livrar de mim.

Eu levei a mão à boca e por pouco não deixei o celular cair no chão. Romeu pegou o celular da minha mão.

- Alô? Alô? - ele repetiu.

Entrega (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora