26. Mau estar

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Fiquei com Emily até que Nicholas chegasse, ela não conseguia parar de chorar.

- Emy! - ele gritou assim que a viu. - Julieta, o que houve?

Fiz sinal para que ele entendesse que era o mesmo motivo de sempre. As lembranças, a sensação de estar sempre revivendo o mesmo pesadelo, e a sensação de que não valia realmente a pena viver.

- É por isso que eu pedi sua ajuda. Ela fica exatamente assim em casa.

- Agora ela precisa descansar, mas se eu puder passo mais tarde na sua casa para vê-la.

- Você pode ir antes das cinco, depois disso minha mãe e o Alfredo chegam em casa.

- Tá bom, eu vou visitar a Emy antes disso.

Voltei meu olhar para ela, que parecia nem estar ali.

- Obrigada, Julieta. - Nicholas disse, segurando minha mão. - Você é muito especial.

Eu sorri, e tirei delicadamente minha mão da sua.

- Nada disso é de mim mesma, eu fui transformada por Deus, Nicholas.

- Eu já ouvi falar muito desse Deus, mas minha família nunca se aproximou realmente. Nunca nenhum de nós frequentou alguma igreja que fosse.

- Não seja por isso! Amanhã é dia de culto na minha igreja, já está feito o convite! Se precisar eu até passo pra te buscar com a minha mãe.

- Eu não sei, já passei tanto tempo assim... Eu simplesmente não sei se acredito.

- Eu também não acreditava, se eu te contasse o que aconteceu comigo pra que eu você com certeza me chamaria de louca!

- Prometo que vou tentar acreditar no que me disser!

- Então quando eu for visitar a Emily mais tarde conto tudo pra vocês.

- Tá legal. Então, até mais tarde!

- Até! Tchau, Emily! - falei, dando um abraço na menina.

Quando os dois se afastaram eu suspirei, estava tentando afastar aquele clima ruim. Eu me vi em Emily e quase podia sentir a mesma estranheza que ela sentia naquele momento, era difícil assimilar a existência de alguém capaz de fazer tanto mal a tantas pessoas, ainda mais quando esse alguém era seu pai...

- Julie! - as meninas apareceram na porta do auditório.

- Oi! - respondi.

- Temos um convite para uma nova palestra! - Rute disse, entusiasmada.

- Sério? E pra quando é? - quis saber.

- É para daqui há uns meses, na reunião de pais. A diretora achou muito legal a proposta e sentiu a necessidade dessa conversa com os pais também.

- Vai ser ótimo! - concordei.

Poliana se aproximou de nós, com um olhar orgulhoso.

- Olha meninas, fiquei muito feliz com a palestra de hoje e pensei que poderíamos trazer algo novo para a próxima.

- O que seria? - Nadine perguntou.

- Um parente de vocês que acompanhou todo o período antes e depois do crime.

- Minha mãe jamais falaria sobre isso. - Milly disse.

As outras ficaram apenas caladas frente essa nova possibilidade.

- Eu posso tentar convidar minha mãe. Não tenho certeza se ela vai aceitar, mas eu vou tentar. - me ofereci.

- Seria uma boa, Julie. Você tenta e manda a resposta no grupo. - Poliana disse. - Agora eu preciso ir, meninas. Meu marido está me esperando pra viagem!

Entrega (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora