Entrega (COMPLETO)

30. Apenas Fé

Depois de alguns segundos me aproximei dele e o abracei. Benjamim também chorava.

- Por favor, não torne as coisas mais difíceis. - ele pediu, com a voz embargada.

Ele me empurrou, para que eu o soltasse.

- Eu não quero que você conviva com isso. - ele disse.

- Eu amo você. - falei, tocando sua perna.

- Você não pode me amar desse jeito. - Ben negou, balançando a cabeça.

- Do que você está falando?

- Estou falando sobre estar preso a uma cadeira de rodas! Estou falando sobre ser um inválido! Você não merece essa vida.

Vê-lo numa cadeira de rodas era destruidor, mas ouvir Ben falar daquele jeito era pior ainda.

- Essa escolha não é sua, Ben! Eu quero te ajudar a passar por isso. Me conta o que aconteceu...

- Nós estávamos enfrentando muita resistência dos líderes da comunidade onde estávamos, até que um dia eles estavam vindo invadir a sala onde fazíamos as aulas. Deu tempo da maioria fugir, mas eu voltei para buscar um dos alunos, ele não anda, nasceu assim. E então fui baleado.

~~*~~

Chorei enquanto Ben contava todas as coisas ruins que ele teve que passar. Eu me senti tão excluída de sua vida por não ter participado de nenhum desses momentos...

- Por que você não confiou em mim? Eu não sou mais aquela garota de antes! Eu poderia ter te ajudado. - gritei.

- Eu não quero envolver você nisso!

- Você não percebe que eu já estou envolvida? Eu fiquei todos esses meses te esperando, imaginando como seria quando a gente se encontrasse. Você me disse que tinha certeza sobre nós dois... que iria voltar pra mim...

- As coisas mudaram. Estou preso a uma cadeira de rodas, não quero você presa também. Você é jovem, Julie. Vai me esquecer com o tempo...

- Cala a boca! Não diz mais isso! Eu quero ficar com você, assim como você ficou comigo...

- É diferente, isso aqui é pra sempre. Não quero te impor um peso tão grande, é mais do que você poderia carregar...

- Você me acha fraca não é?! Você nunca confiou em mim de verdade! Você sempre duvidou da minha capacidade.

- Não, não é assim. Mas esse problema não é seu. Sou eu quem tenho que lidar com isso.

- Mas e aquela garota? - perguntei sobre a loira que estava lhe acompanhando.

- É Vitória, estávamos juntos na missão.

Senti o choro se intensificar. Dei alguns passos para longe dele.

- Por que você prefere outra garota ao seu lado ao invés de mim?

Ben suspirou.

- Era por isso que eu não queria conversar com você, sabia que nós dois sairíamos machucados.

- Mas não precisava ser assim.

- Tinha que ser assim. - ele disse, movendo a cadeira em direção a porta.