21. Magoada

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O cemitério estava lotado, e o clima não podia estar pior, estavam reunidos todos nós da instituição, voluntários, crianças e pais, e ainda pessoas da família e da igreja dos pais de Ivnes, que eram católicos.

Pedro estava ao lado do pai, vestido com um terno preto, parecia um homenzinho, ao seu lado estava um.carrinho de oxigênio com fios presos ao seu nariz.

Ele encarava o caixão da menina, nós oramos por ela e, mesmo assim, Ivnes morrera, era muito doloroso. Eu chorei o menos que pude, precisava ser forte pelas crianças. Olhei para Clara e a vi com a peruca feita com meu cabelo, sua mãe acenou para mim, com um sorriso fraco, eu sabia o que os pais estavam pensando naquele momento: A qualquer hora poderia ser o meu filho.

Passei vários minutos observando todos no cemitério, me distraí quando um garoto loiro se aproximou de mim, era Nicholas. Ele também usava um terno, e estava com os cabelos bem penteados.

- Julieta? - ele estranhou.

- Nicholas? - eu estranhei mais ainda.

- Minha família é amiga da família da Ivnes. Foi uma tristeza só... E você, também conhece a Ivnes?

Eu assenti.

- Sou professora de artes na instituição onde ela ficava. A Ivnes sempre foi muito querida.

- Você é professora de artes?

- Eu sempre pintei com meu pai, nós tínhamos um ateliê, passei un tempo longe do pincel, mas retomei para ensinar as crianças. É tudo muito legal, você devia irL visitar a instituição qualquer dia.

- Claro, eu vou sim. Apesar de não ter nada de especial pra ensinar a eles.

- Você pode só brincar com elas!

- É, isso eu sei fazer. - ele disse, com um sorriso.

- Tá bom... Ah, a Emily tá aqui? - quis saber.

- Não, ela está em casa. Eu já vou voltar para ficar com ela. Nos vemos amanhã.

- Ok, até amanhã. - falei, e quando Nicholas já estava longe fui falar com Pedrinho.

Me aproximei e coloquei minha mão sobre seu ombro.

- Oi Pedrinho.

- Oi tia Julie. - ele disse, com dificuldade.

- Você foi atrás do tio Ben, ontem?

- Fui, mas ele não estava em casa. Eu saí com a tia Monique. - disse, com naturalidade.

- Nós ficamos tão preocupados com você!

- Desculpa, tia Julie. - ela disse, e não falou mais nada durante todo o enterro.

Cada um de nós colocamos uma flor no caixão de Ivnes e observamos com lágrimas nos olhos aquela garotinha tão linda ter a vida finalizada tão cedo.

Foi rápido demais, Ivnes, eu pensei, enxugando uma lágrima solitária.

Naquele momento lembrei de Ben, de como eu queria que ele estivesse comigo, e pensei no pior: ele nem sabia que sua tão querida Ivnes havia falecido.

- Julie. - Raquel se aproximou de mim.

Seus olhos denunciavam que ela não estava nada bem, tudo aquilo era muito doloroso, principalmente porque Raquel já havia perdido um filho para o câncer, ela estava acompanhada de um homem que deveria ser seu marido, pois passaram o tempo todo juntos, ele parecia estar confortando-a.

- Oi Raquel.

- Nós vamos suspender as atividades durante essa semana. Eu estou muito abalada, e toda essa preocupação pode fazer mal par o bebê.

Entrega (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora