11. Sorvete e poesia

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Eu demorei alguns minutos pra me recuperar,  mas não fui pra aula, me esgueirei até o refeitório para poder assimilar tudo aquilo. O novato se chamava Alex Borges? Como o Alex que fez todo aquele mal comigo... mas era óbvio que eles não eram a mesma pessoa... Mais podiam ser da mesma família! Pai e filho.

Alex tinha um filho da minha idade. Era ele... Eu não podia acreditar, ele estava ali estudando na mesma escola, na mesma turma! Isso era surreal, mas agora tudo fazia sentido ele me odiava tanto por achar que eu havia inventado toda a lista de crimes de seu pai. Eu precisava conversar com ele.

~~*~~

Na hora do intervalo eu vi quando Nadine entrou no refeitório com seu blusão e o típico rabo de cavalo, então a chamei para vir sentar comigo e Sam, que por algum milagre havia saído da sala. Eu já havia contado a ele sobre o que tinha acontecido, e sua reação foi bem o que eu esperava.

- Eu já tinha imaginado que ele era filho de Alex, mas meu papai não me deixou ver os arquivos por completo, pelo menos agora a gente sabe e você vai poder se proteger.

Ele falou tudo aquilo com raiva, mas não era isso que eu estava sentindo realmente, eu estava tentando entender o lado daquele garoto, por mais que fosse difícil...

- Oi. - Nadine falou, timidamente.

Sam parou imediatamente de falar e olhou para Nadine.

- Oi... Nadine. - ele disse olhando a garota do jeito que eu olharia para Ben.

- Oi Samuel. - ela falou, sentando na mesa.

- Tudo bem com você? - ele perguntou, oferecendo um bombom de chocolate.

Tá, eu fiquei bem surpresa, Sam não era tão cortês assim com uma garota desde... Desde sempre. Nem com Monique ele era daquele jeito.

- Eu estou bem. - ela disse, tentando não manter contato visual, ao contrário dele, que a olhava sem trégua.

Demorou só alguns segundos pra que eu percebesse que estava sobrando, pelo menos por parte de Sam.

- Bom, eu já vou indo. Tenho que passar na diretoria. Tchau gente. - me levantei, porque sim, eu tinha tomado "simancol" na infância.

- Ah não, Julie, espera, eu vou com você. - ela se manifestou, com um traço de desespero na voz.

- Não precisa ir Nadine, eu faço companhia pra você. - Sam se ofereceu.

- É, não precisa se preocupar, o Sam é um ótimo guarda-costas. - eu brinquei. - Nos vemos depois da aula?

- Hum-rum. - ela assentiu.

Sam me deu um sorriso, entendendo o que eu estava fazendo, parecia que eu tinha sacado mesmo o que ele estava querendo, mas por outro lado, fiquei receosa de ter deixado Nadine, tendo a história que tinha, sozinha com um garoto, mesmo sendo o Sam, ela não sabia o quanto ele era confiável. Aliás, depois de uma experiência de estupro ninguém é confiável até que você consiga lidar melhor com toda a situação, e às vezes isso nunca acontece. Então dei meia volta, pra que ela não acabasse se fechando mais comigo e com as outras do grupo. E só parei na metade do caminho até a mesa porque a vi e ouvi dando uma gargalhada sobre algo que Sam tinha feito ou dito. Ela estava bem.

Entrega (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora