Três

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A minha cabeça doía, como se eu tivesse tomado todas, e agora estava com uma baita ressaca. Na verdade, meu corpo inteiro doía, eu estava quebrado. Me mexi na cama dura em que me encontrava e gritei quando senti algo subindo pelo meu braço.

Levantei num salto e joguei para longe a aranha que audaciosamente subia em mim. Olhei finalmente a minha volta, e notei que estava num cubículo sujo, com uma pequena janela no alto. O lugar em que dormia, na verdade não era uma cama, mas sim o chão do cubículo.

- O belo adormecido finalmente acordou. – A voz de Valentina encheu o recinto e girei a cabeça para localizar aonde ela estava.

A loira se encontrava sentada, num canto atrás de mim, suas roupas estavam sujas e ela não usava mais os saltos. Eles estavam jogados de qualquer maneira próximo a ela.

- Dormi tanto tempo assim? – Indaguei, e massageei as têmporas, afim de tentar aliviar a dor que me afligia.

- Você acordou, parecia que algum herói da Marvel havia possuído o teu corpo. – Tina explicou. – Quando os caras trouxeram a comida, você partiu para cima deles igual um doido. Tentei evitar que eles te machucassem, mas foi em vão, você acabou levando uma coronhada na cabeça.

- Isso explica a dor. – Murmurei.

- Sim, imaginei que você acordaria com uma baita dor. – Ela retrucou. – Já inspecionei e você não sofreu nenhum ferimento, somente um galo.

- Mas, por que... – Ia perguntar o motivo da dor na minha costela, quando vi o sangue. – Ah merda.

Valentina se aproximou rapidamente e rasgou a minha blusa sem cerimônia alguma. Seus olhos se detiveram no corte entre a minha última costela e o meu abdômen. Não era nada profundo, mas sangrava o suficiente para encharcar o tecido da minha camisa.

- Como você se cortou? – Ela quis saber, enquanto pressionava a ferida, com o intuito de estancar o sangue.

- Ora, foi você que presenciou a briga, algum dos caras estavam armados?

- É claro que eles estavam, né Nicolau? Pergunta mais besta! Eles são sequestradores! Na hora da briga algum deles deve ter tentado te deter com uma faca, ou algo do tipo. – Ela não tirava os olhos do ferimento, onde o sangue já estava contido. Valentina se afastou um pouco para pegar uma garrafinha de água, depois se reaproximou e jogou no ferimento. Fiz uma careta, mas não falei nada, ao sentir a pequena ardência. – Ainda bem que não foi nada profundo, já limpei, mas acredito que seria melhor nós procurarmos um hospital assim que saímos daqui.

- Nós? Hospital? – Ecoei perplexo. – Valentina, quando sair daqui a primeira coisa que farei é saber se a Alessandra e os bebês estão bem. Prometi que ajudaria ela, pois não passa de uma bela mulher indefesa.

- Ah, claro, Romeu. – Falou com sarcasmo. – Sua Julieta corre grandes perigos.

- O marido bate nela. – Esclareci, irritado com o pouco caso da loira tatuada. – Ela fugiu daquele desgraçado, mas tenho medo de que ele encontre ela e os meninos e faça alguma coisa.

- Ela é muito sortuda de ter alguém zelando pela proteção dela, mesmo já tendo a família. – Tina comentou. – Sei que Ana Luiza, a mãe e o pai dela fariam de tudo para proteger Alessandra e as crianças. Você não precisaria se preocupar, mas é bonito isso da sua parte. – Ela acabou de limpar a minha ferida e se afastou. – Quisera eu ter tantas pessoas assim, quando...

- Quando o que? – Quis saber. – Você nunca conta o teu passado para nós, Valentina.

- É por que não sou nenhuma dama frágil, que precisa de um príncipe encantado para proteger. Sempre soube me virar sozinha, desde pequena, não preciso da compaixão de ninguém.

NickOnde histórias criam vida. Descubra agora