XII

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No dia seguinte, depois do almoço, fui direto para a biblioteca e o Samuel já estava lá olhando para os livros. 

-Parece que a atrasada hoje é você. -Ele olhou o relógio. -Três minutos atrasada para ser mais exato. -Revirei os olhos e ele riu. 

-Quer estudar o que? -Perguntei. 

-Tem a opção nada? -Olhei feio para ele. -Matemática, mas tipo, eu não sei nada de Matemática. -Sentei ao lado dele e peguei meu caderno. 

-Beleza. -Abri o caderno. -Trigonometria... -Comecei a explicar as coisas para ele, mas parecia que quanto mais eu falava, mais ele viajava. -Você prestou atenção em alguma coisa que eu falei? 

-Tentei, mas não deu certo.

-Onde você se perdeu? 

-O que você falou depois de trigonometria? -Respirei fundo para não dar um soco na cara dele. Olhei para o relógio e vi que faltava um pouco mais de quatro minutos para as três. 

-Amanhã a gente tenta de novo. -Falei guardando minhas coisas na mochila. Saí da biblioteca sem me despedir e fui para a sala de dança ensaiar pelo menos uma horinha antes de ter que ir para aula extra às quatro. 

Ensaiei até ficar cinco minutos atrasada e então resolvi ir para aula. 

-Desculpa professor. -Falei indo me sentar no meu lugar. 

Por ser uma aula extra, ia quem quer e não tinha turma certa. Acabei dando de cara com a Ana e ela falou comigo.

-Está tudo certo com a Clara? Eu a vi correndo para o banheiro hoje mais cedo e ela não parecia nada bem.

-Ela e o Guto terminaram ontem. -Falei. Apesar de não parecer muito, eu sentia falta da minha amiga Ana e a queria sempre por perto.

-Não sei se vi direito, mas acho que ela estava com o pulso cortado. -A Ana deixou transparecer um ar de preocupação. 

-O que? -Falei um pouco mais alto e o professor mandou a gente fazer silêncio.

Obedeci e não falei mais nada a aula toda. Quando a aula acabou, voltei a falar com a Ana. 

-Vou atrás da Clara, quer ir comigo? 

-Não posso, combinei de lanchar com a Maria. -Ela fez uma cara triste. 

-Tudo bem. -Ela se virou para ir embora. -Ana...-Ela olhou para mim. -Só lembre, no final, quem são seus amigos de verdade.  -Dei um tapinha no ombro dela e saí da sala. 

Fui para o refeitório e vi o Guto e os colegas de quarto dele comendo junto. 

Sentei com eles, mas não comi. 

-Oi galera. Vocês estão bem? 

-Sim. -Os três responderam, mas o Guto não pareceu muito convincente com suas palavras.
-Querem ir na minha competição sábado? 

-Nem vai dar Alice. Vamos resolver as coisas das manifestações. -O Edu falou. 

-Vou participar de uma videoconferência com um físico alemão. 

-Eu vou. -A Clara apareceu atrás da gente falando. Sem nem disfarçar, peguei os dois braços dela e virei para mim. Vi um corte profundo que parara de sangrar há poucos minutos. Ela me olhou decepcionada com o meu gesto, mas não liguei. Ela pode ter terminado com o Guto, mas todos ali éramos amigos dela e queríamos o seu bem. 

-Clara, o que... 

-Não é da sua conta. -Ela interrompeu o Guto que estava realmente preocupado com ela. -Não é da conta de nenhum de vocês! -Ela quase gritou e saiu do restaurante. 

-Cassete! -Falei me alterando um pouco. -O que está acontecendo com o povo desse quarto? 

-Alice, vai falar com ela! -O Guto falou sem me olhar.

-Estou indo. -Levantei da mesa. -Beijo meninos.

O Idiota da minha escolaOnde histórias criam vida. Descubra agora