-Tudo certo, professora? -O Samuel perguntou segurando a mochila nas costas.
-Sim, Samuel. Só queria te parabenizar pelo seu incrível desempenho na minha matéria. Fico impressionada! Você mudou da água para o vinho. -Ela deu um sorriso cativante.
-Obrigado, tive uma boa professora particular. -Ele disse, mas não tinha sentimentos em suas palavras, só uma constatação. Ele não me olhou e eu também não o olhava. Bom, não diretamente.
-Continue assim, Samuel. Essa sua professora... -Ela me olhou e sorriu disfarçadamente. -Ela pode ter te ajudado, mas quem se permitiu aprender foi você... Você já pode ir.
-Obrigada, professora. -Ele disse e saiu.
O segui com os olhos, até a Sílvia chamar a minha atenção.
-Alice! -Ela me despertou. -Pegue uma cadeira e sente aqui perto. -Fiz o que ela disse.
Coloquei uma cadeira em frente de sua mesa e me sentei.
-O que aconteceu nessa prova? Tem ideia de quanto fiquei surpresar por faltar um número um na frente desse zero?
-Eu... Eu...Esqueci da prova. -Falei baixinho.
-Alice, você é a pessoa mais organizada que eu conheço. Nunca esquece de nada.
-Todos nós cometemos erros, professora. -Olhei nos olhos dela.
-Sei que não foi erro. Você estava concentrada em outra coisa. -Ela fez um olhar que dizia "Você pode não querer falar, mas eu já sei".
-Eu posso refazer a prova?
-Pela regra da escola, sim... Mas, pelas minhas, não... -Ela falou com sua voz calma como sempre.
-Como...?
-Alice, acho que não escondo muito bem as coisas, você é uma das minhas alunas preferidas e eu sei do seu potencial. Todos os meus alunos preferidos tiveram um futuro brilhante e sei que você vai ter também. Eu poderia facilmente te dar outra prova, mas sei que tiraria dez e, outra, você ano passado chegou no terceiro bimestre com o pé no segundo ano. Leve isso como uma motivação. Estude para a prova bimestral e tire dez, assim seu pé já vai estar no terceiro ano quando gabaritar o primeiro teste do bimestre que vem. -Ela deu um sorriso para mim que eu, facilmente, retribui.
-Você tem muita fé em mim, mas do que eu mesma. -Falei sem conseguir olhar em seus olhos.
-Não é fé, é conhecimento e reconhecimento. Você estudou feito cão ano passado, tirava dez em tudo e quando não tirava, refazia a prova só para ter dez no boletim. Esse ano, você adquiriu um trabalho extra, sem falar do grêmio e da dança, quando aceitou ser professora do Samuel e mesmo assim continuou com seu boletim intocável. Ao menos que você seja uma máquina, é a pessoa mais focada do segundo ano... Só não fala isso para o seu amigo Caio, se não ele vai pirar. -Ela deu uma risada e eu a acompanhei.
Caio, o menino vidrado em física que no tempo livre só tem cabeça para uma coisa: Física! Ele estuda mais do que qualquer pessoa que eu já vi, mantém as notas boas, sabe falar várias línguas, entende bem todos os ramos da física, tem um amplo conhecimento sobre meios de transporte e faz uns experimentos químicos. Isso tudo sem perder a vida social e as oito horas de sono.
-Olha, professora, sei que esse discurso é motivacional, mas não chego nem na sola do sapato dele. -Falei entre risos.
-Então desconsidere essa parte, mas o resto todo é verdade.
-O Samuel nunca precisou de mim. -Olhei para baixo. -Ele me usou esse tempo todo.
-Eu sei. -Suspirou.
-Rádio corredor? -Ela negou.
-O Samuel não vinha para cá porque a mãe dele iria pagar, Alice, ele viria com bolsa integral.
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O Idiota da minha escola
RomanceAlice Walker é uma menina calma, estudiosa e que ama dançar, inclusive já ganhou vários prêmios e troféus em competições de dança de diferentes estilos. Ela estuda no colégio interno de sua mãe,Carla, que apesar de ser diretora é amada pela maioria...