XXVIII

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Não sabia se chorava, gritava, ou batia na cara do médico pela indiferença dele. 

Fiquei sem reação e deixei minha mãe conduzir o resto. Não sei se todos sabem, mas romper o ligamento me impede de continuar dançando para participar de competições, sem falar nas dores que os mais simples passos de dança podem causar. 

-E agora? -Minha mãe perguntou.

-Agora ela tem que engessar e ir em um ortopedista especialista em pé. -Ele escreveu alguma coisa em uma folha, carimbou e entregou para minha mãe. Não lembro mais o que aconteceu, mas quando me dei conta já estava fora do consultório e com o pé engessado. O Guto não quis perguntar o que tinha acontecido, mas enquanto esperávamos o táxi para voltar para a escola, minha mãe contou para ele. Tudo que o Guto fez foi me abraçar e beijar o topo da minha cabeça falando que tudo ficaria bem. 


Já na escola, fui direto para o meu quarto. Algumas pessoas me olhavam com curiosidade, mas eu as ignorei e entrei o mais rápido que pude no quarto. A Clara e a Ana estavam lá, jogadas, mexendo no celular. 

-E ai menina, como você está? Todos estamos preocupados. -Enquanto elas falavam, eu trocava de roupa. 

-Eu rompi dois ligamentos. -A Clara ameaçou falar alguma coisa, mas acho que desistiu.

-Qual a probabilidade do médico ter errado no diagnóstico? -A Ana perguntou.

-Zero. -Saí do quarto, deixando as duas lá dentro. Queria correr para algum lugar, mas o gesso e a dor não deixava. Passei pela sala da minha mãe, apenas porque a deixei sozinha logo assim que chegamos. 

-Você quer dormir em casa hoje? -Ela perguntou. Morávamos na escola, mas tinha uma grande diferença, para mim, entre o meu quarto com as meninas e a minha casa propriamente dita. 

Balancei a cabeça negativamente. 

-Tudo bem, mas passa aqui amanhã, preciso saber como você está. -Concordei. -Sei que quer ficar sozinha e não vou te prender aqui. Pode ir Alice, só não deixa isso acabar com sua vida.

-Você não entende? -Olhei para ela com olhos cheios de lágrimas. -Isso acabou com a minha vida. Eu não posso mais dançar, mãe. Eu não posso mais fazer a coisa que eu mais gosto no mundo. 

-Eu te entendo, filha, mas você precisa superar isso. -E ela de fato entendia. Quando ela era mais nova, gostava de cantar e tinha até começado um carreira, mas teve problema nas cordas vocais e não pôde mais continuar com a carreira. 

-Eu sei mãe, mas deixa eu me fazer de coitada por um segundo. 

-Tudo bem. -Ela me deu um abraço apertado, que eu retribui, e me liberou para ir. 

Caminhei para parte do jardim que nunca tinha gente e sentei em um banquinho. Deixei as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, enquanto eu olhava para o gesso no meu pé. 

-Alice? 

O Idiota da minha escolaOnde histórias criam vida. Descubra agora