O Idiota da minha escola

XXXV

Acordei no sábado realizada, pois o pouco que dancei ontem à noite não doeu o meu pé, bom, pelo menos na hora não. Quando fui levantar da cama e coloquei o meu pé no chão, ele doeu tanto que perdi a estabilidade e caí no chão.

-Alice? -A Ana me chamou acordando desesperada.

-Eu estou bem. -Disse tentando me levantar.

-Hmm. -Ela pareceu acreditar e voltou a dormir. 

Com muita dificuldade, consegui levantar e pular até o banheiro.

A luz do sol invadia o quarto e pude ver o CD que o Samuel me deu, jogado de qualquer jeito em cima da escrivaninha. Peguei meu notbook, headphone e o CD e saí do quarto pulando em um pé só, deixando as dorminhocas dormindo. 

Mancando, consegui chegar no jardim, onde o Samuel tinha me visto chorando um tempo atrás. Liguei meu not e coloquei o CD para tocar. Enquanto o CD rodava, li as músicas que tinham no CD e tive que rir com a quantidade de música ruim que tinha ali. Atrás do papel que a lista estava, tinha tipo uma cartinha do Samuel. 

Alice, sei o quanto não dançar é ruim para você e posso ver a tristeza nos seus olhos toda vez que alguém dança perto dos seus olhos ou quando você escuta uma música... Foi por isso que resolvi gravar esse CD, aqui você vai encontrar motivos e razões que vai querer agradecer por não poder dançar. 

Espero que goste, ou melhor, não goste... Com carinho, o sebo que você mais respeita. 

Ri com as palavras do Samuel. Passei o dedos pela superfície do papel e dei um sorriso bobo. 

A primeira música começou a tocar e eu me assustei. Levantei do banquinho e deitei na grama com o not do meu lado. Fechei os olhos e deixei as melodias das músicas me invadirem. Pela primeira vez, o ritmo não me fazia querer dançar e por algum motivo desconhecido, ou não tão desconhecido assim, eu gostei da sensação de ritmo não ser acompanhado por uma sensação de submissão a dança. Não me importava se as músicas eram ruins, só queria saber da sensação que eu sentia. 

Deixei as faixas repetirem várias e várias vezes, não queria ir a lugar nenhum. A ausência de pensamentos tristes relacionados a dança me alegravam e consegui até me livrar de todos sentimentos ruins que carregava todos os dias. 

-Vejo que gostou do CD. -Abri os olhos e vi o Samuel parado em cima de mim. -Já é a terceira vez que passo por aqui hoje e todas as vezes estava tocando uma música dele. -Ele sentou no banquinho. 

-Você soube escolher as piores músicas. -Sorri para ele. Por mais que eu achasse que não fiz nada de errado ontem, minha mente queria que eu pedisse desculpas para ele. 

-Eu tenho um dom.

-Para coisas ruins? -Perguntei rindo e ele riu também.

-Para coisas certas, Alice. 

-Por que esse seu dom não funciona nas provas? -Ele engoliu em seco, o que foi tempo suficiente para ele pensar em uma resposta. 

-Tem funcionado, não?

Assenti com a cabeça.

Entramos em um silêncio que, com o passar do tempo, ficou constrangedor. 

-Samuel...

-Alice..

Falamos ao mesmo tempo, ambos nomes pronunciados com uma ideia de "tenho algo a falar".