XLVI

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Ignorei os meus pensamentos e fui para a sala. Assim que entrei, vi uns alunos desesperados olhando para o caderno e livro de matemática.

Putz!

Corri para o meu lugar na frente da Clara que lia um livro como se nada tivesse acontecendo. Peguei o caderno dela que estava em cima da mesa e comecei a folhear.

-O que foi, garota? -Ela perguntou guardando o livro.

-Por que não me lembrou da prova? -Perguntei desesperada.

-Porque eu achei que já tinha estudado com o Samuel, pois não sei se você percebeu, mas já faz meses que você não estuda nada no quarto.

-É? -Olhei para ela.

-É, dona Alice. -Olhei para o Samuel e o vi de boas mexendo no celular.

Af!

A professora entrou na sala e, calmamente, mandou a gente guardar todo o material. Se eu tinha alguma certeza dessa prova era que se eu soubesse escrever meu nome, seria muito. Ela entregou a prova para cada aluno e quando parou na minha mesa deu um sorrisinho. Ela não fazia questão de esconder que eu era umas das alunas preferidas dela.

Olhei para a prova e minha cabeça pareceu que ia explodir. Até na hora de escrever meu nome eu tive dificuldade. O tempo passava e cada vez que eu lia as questões, menos eu entendia. O sinal tocou e minha prova estava toda em branco, acho que a professora nem percebeu, ela só pegou e seguiu o caminho dela.

Em todas as outras aulas do dia, eu fiquei pensando no fracasso que fui em matemática que é uma das minhas matérias preferidas. A Clara não aguentava mais me ouvir reclamar da prova e xingar o Samuel. Perdi a conta de quantas vezes ela me mandou calar a boca hoje.

Assim que o sinal que indicava o término das aulas do dia soou, saí da sala sem nem esperar a Clara e fui direto para a sala da minha mãe. Hoje ainda seria um longo dia!

Enquanto caminhava para sala dela, lembrei de todos os dias que saí rápido das aulas para almoçar rápido e chegar na biblioteca antes do Samuel. Todos os dias que fizemos competições idiotinhas de quem chegava primeiro, quem terminava o exercício primeiro e todas outras coisas que pessoas da nossa idade não costumam fazer. Senti um vazio dentro de mim quando percebi que nem hoje e nem nunca mais eu iria para a biblioteca estudar com aquele mala, querendo ou não, ele alegrava meus dias com as piadas ridículas dele e com as nossas brigas que sempre acabavam ridiculamente.

Bati na porta e ouvi minha mãe gritar que eu podia entrar. Assim fiz.

-Oi mãe. -Falei sem ânimo e sentei em uma cadeira.

-O que aconteceu, Alice? Você está com uma cara de acabada. -Minha mãe deu uma rápida olhada em mim e voltou a escrever.

-Nossa mãe, obrigada! Deixei a prova de matemática em branco, não sabia nada.

-O que? -Ela largou a caneta e me olhou. Pronto, finalmente atenção.

-Ah, com tudo isso que aconteceu, eu fiquei desesperada, esqueci de estudar e não sabia nada.

-Ah minha filha. -Ela levantou da cadeira, deu a volta na mesa, me fez levantar e me abraçou. -Sei que tudo isso está sendo horrível para você, não digo o processo, mas as brigas com o Samuel. Depois de um tempo estudando, vocês passaram a se dar bem e até gostar um do outro. E, filha, você até mudou aquele menino, os colegas de quarto dele nunca mais vieram reclamar do Samuel, mas eles vieram aqui um dia falar que ele estava diferente... Um diferente bom e culparam você pela mudança.

-Ai mãe, nem sei. A gente sempre brigou, mas agora é diferente. Dessa fez a briga foi muito feia.

-O tempo é o melhor remédio.

-Você e suas frases.

-São verdades, filha. Só queria que viesse aqui para me contar como você está, pois a conversa pesada vem hoje mais tarde com a mãe do Samuel.

-Nem me lembre disso. Agora eu quero ir para o quarto dormir e acordar só ano que vem.

-Então vai e quando a mãe dele chegar, eu peço para te chamarem no quarto. -Dei um beijo na minha mãe e fui para o meu quarto sem comer mesmo, não estava com fome.

O Idiota da minha escolaOnde histórias criam vida. Descubra agora