Via o vulto do menino se aproximar de mim, mas eu não tinha forças para lutar ou gritar, até que vi outro vulto, que não parecia ser nenhum dos três meninos.-Alice, aguenta firme. -O vulto falou e reconheci aquela voz. Era o Samuel. Não via direito, mas ouvia o som dos socos sendo trocados e a angustia de não saber se o Samuel estava batendo ou apanhando estava me fazendo chorar mais ainda.
Senti as mão que me seguravam, me soltar e soube que ele estava batendo e não apanhando. Caí com tudo no chão, pois estava tão em choque que não tinha forças.
Um tempo depois, não sei se muito ou pouco, o vulto, vulgo Samuel, se abaixou do meu lado e passou a mão no meu rosto.
-Acabou, pequena. Eles não vão mais te incomodar. -Pisquei várias vezes seguidas e seu rosto voltou a ter foco. Pude ver que lágrimas também escorriam pelo seu rosto e sangue escorria do canto dos lábios e do supercílio.
-Obrigada, Samuel. Eu devo a minha vida a você...
-Xiu. Você não me deve nada. Eu que te devo desculpa, deveria ter chegado antes. -Mais lágrimas escorreram pelos seus olhos e, de alguma forma, sabia que era de preocupação comigo.
Ele me ajudou a levantar, mas eu ainda estava fraca demais. Queria que o choque já tivesse passado, queria que eu não estivesse me afogando em tantas memórias ruins ao mesmo tempo. O Samuel desistiu de tentar me ajudar a levantar e ajeitou minha roupa, short e calcinha, que não estavam em seus devidos lugares.
A vergonha se misturou ao mix de sentimentos ruins, mas eu já estava me importando com tanta coisa, que nem me importei com deixar o Samuel ajeitar minha roupa. Depois que ele o fez, ele me pegou no colo com todo cuidado e começou a caminhar comigo para algum lugar.
-Vou te levar para a sala da sua mãe. -Ele disse e eu soube para onde estava indo.
-Carla! -O Samuel chamou assim que paramos na frente da porta dela. -Abre a porta, rápido. -Ouvi passos dentro da sala e vi que minha mãe estava vindo.
Ela abriu a porta e deu espaço para o Samuel entrar. Ele entrou comigo no colo e me colocou em uma cadeira.
-O que aconteceu com ela? -Minha mãe perguntou já se desesperando. Ela e o Samuel me olharam, mas eu não falei nada.
-Eu estava passando pelo corredor da biblioteca e ouvi gritos. Corri até lá e vi três meninos do terceiro ano abusando dela.
-Eles chegaram a fazer alguma coisa? Que meninos? -Ela perguntou tentando se acalmar. Eu e o Samuel já estávamos desesperados demais.
O Samuel me olhou sem saber a resposta.
-Não. -Respondi.
-Se você mandar alguém lá, acho que eles ainda estão caídos no chão. -Ela correu para o telefone e ligou para um segurança e mandou ele ir correndo lá.
-Filha, fala comigo, eles te machucaram? Diga a verdade, Alice. -Neguei com a cabeça. -Preciso te levar para casa. Você tem forças para andar até lá? -Assenti. Ela olhou para o Samuel. -Obrigada, Samuel. -Ela deu um abraço nele.
-De nada, Carla. Posso ir com vocês? -A minha mãe desfez o abraço e me olhou. Assenti. Não queria ficar longe dele. Precisava do seu apoio e a minha mãe também. Ela só não sabia, ainda...
Levantei devagar e nós três, caminhamos para minha casa. Passamos por alguns alunos curiosos que viam nossas caras de choro, mas não perguntaram nada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Idiota da minha escola
RomanceAlice Walker é uma menina calma, estudiosa e que ama dançar, inclusive já ganhou vários prêmios e troféus em competições de dança de diferentes estilos. Ela estuda no colégio interno de sua mãe,Carla, que apesar de ser diretora é amada pela maioria...