LXV

13.8K 1K 49
                                    




Via o vulto do menino se aproximar de mim, mas eu não tinha forças para lutar ou gritar, até que vi outro vulto, que não parecia ser nenhum dos três meninos.

-Alice, aguenta firme. -O vulto falou e reconheci aquela voz. Era o Samuel. Não via direito, mas ouvia o som dos socos sendo trocados e a angustia de não saber se o Samuel estava batendo ou apanhando estava me fazendo chorar mais ainda.

Senti as mão que me seguravam, me soltar e soube que ele estava batendo e não apanhando. Caí com tudo no chão, pois estava tão em choque que não tinha forças.

Um tempo depois, não sei se muito ou pouco, o vulto, vulgo Samuel, se abaixou do meu lado e passou a mão no meu rosto.

-Acabou, pequena. Eles não vão mais te incomodar. -Pisquei várias vezes seguidas e seu rosto voltou a ter foco. Pude ver que lágrimas também escorriam pelo seu rosto e sangue escorria do canto dos lábios e do supercílio.

-Obrigada, Samuel. Eu devo a minha vida a você...

-Xiu. Você não me deve nada. Eu que te devo desculpa, deveria ter chegado antes. -Mais lágrimas escorreram pelos seus olhos e, de alguma forma, sabia que era de preocupação comigo.

Ele me ajudou a levantar, mas eu ainda estava fraca demais. Queria que o choque já tivesse passado, queria que eu não estivesse me afogando em tantas memórias ruins ao mesmo tempo. O Samuel desistiu de tentar me ajudar a levantar e ajeitou minha roupa, short e calcinha, que não estavam em seus devidos lugares.

A vergonha se misturou ao mix de sentimentos ruins, mas eu já estava me importando com tanta coisa, que nem me importei com deixar o Samuel ajeitar minha roupa. Depois que ele o fez, ele me pegou no colo com todo cuidado e começou a caminhar comigo para algum lugar.

-Vou te levar para a sala da sua mãe. -Ele disse e eu soube para onde estava indo.

-Carla! -O Samuel chamou assim que paramos na frente da porta dela. -Abre a porta, rápido. -Ouvi passos dentro da sala e vi que minha mãe estava vindo.

Ela abriu a porta e deu espaço para o Samuel entrar. Ele entrou comigo no colo e me colocou em uma cadeira.

-O que aconteceu com ela? -Minha mãe perguntou já se desesperando. Ela e o Samuel me olharam, mas eu não falei nada.

-Eu estava passando pelo corredor da biblioteca e ouvi gritos. Corri até lá e vi três meninos do terceiro ano abusando dela.

-Eles chegaram a fazer alguma coisa? Que meninos? -Ela perguntou tentando se acalmar. Eu e o Samuel já estávamos desesperados demais.

O Samuel me olhou sem saber a resposta.

-Não. -Respondi.

-Se você mandar alguém lá, acho que eles ainda estão caídos no chão. -Ela correu para o telefone e ligou para um segurança e mandou ele ir correndo lá.

-Filha, fala comigo, eles te machucaram? Diga a verdade, Alice. -Neguei com a cabeça. -Preciso te levar para casa. Você tem forças para andar até lá? -Assenti. Ela olhou para o Samuel. -Obrigada, Samuel. -Ela deu um abraço nele.

-De nada, Carla. Posso ir com vocês? -A minha mãe desfez o abraço e me olhou. Assenti. Não queria ficar longe dele. Precisava do seu apoio e a minha mãe também. Ela só não sabia, ainda...

Levantei devagar e nós três, caminhamos para minha casa. Passamos por alguns alunos curiosos que viam nossas caras de choro, mas não perguntaram nada.

O Idiota da minha escolaOnde histórias criam vida. Descubra agora