LVI

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Uma semana e meia se passou parecendo um milênio. Já era a última prova antes das férias que eu fiz o maior esforço para estudar e, por um milagre, eu consegui. 

Na verdade, consegui estudar para todas as provas muito bem e, até acho que consegui notas muito boas, o que me deixava muito feliz e animada para fazer a prova de matemática. 

-Nem acredito que é a última! -A Clara disse enquanto caminhávamos para sala. -Nem acredito que hoje vamos para casa. 

-É, nem eu... -Falei sem prestar atenção de verdade. Tudo que eu queria era fazer a prova e me mudar do dormitório para minha casa.

-Alice, o que está acontecendo com você? Da semana passada para cá, você só estuda, come e dorme. 

-Está acontecendo nada não, está tudo de boa. -Falei entrando na sala e sentando no meu lugar. 

A Clara não tentou falar mais nada.

Eu não estava triste pelo Samuel, se é que tem alguém achando que é por isso, mas eu tinha retornado ao ortopedista na quarta e a notícia dele acabou com meu ânimo para qualquer coisa. 

-Eu nunca mais vou conseguir dançar para competir. Nunca mais vou conseguir dar saltos sem sentir uma pontada quando retornar ao chão. -Falei me virando para a Clara que ficou sem saber o que falar. 

O sinal tocou e o professor entrou para aplicar a prova, o que a livrou de me dar uma resposta.

-Que merda! -Ela sussurrou para mim indignada. 

Eu ri. 

Pela primeira vez desde muito tempo, consegui rir. 

Como eu amava a idiota da Clara! 

O professor entregou minha prova, respirei fundo e comecei a responder as questões. Fiquei feliz que todas as questões eu consegui responder sem ficar com um pingo de dúvida. Acabei relativamente rápido e ao mesmo tempo que o Samuel. Levantamos juntos e chegamos na mesa do professor ao mesmo tempo. Ele olhou para gente, recolhei as provas e nos dispensou. 

Saí da sala ao lado do Samuel, por apenas uma simples ação da vida. Para minha surpresa, ele abriu a boca para falar comigo.

-Desculpa. -Ele sussurrou e eu parei de andar. 

Ele parou assim que reparou que eu o fiz. 

-Oi? Perguntei achando ter entendido errado. 

-Desculpa. -Ele falou mais claro dessa vez. -Fui um banana. -Ri da expressão que ele usou. 

-Fomos uns bananas. -Disse rindo. 

-Não devia ter falado que nós éramos os problemas um do outro. 

-Eu não devia ter te julgado para começo de conversa. Eu estava com raiva por ter mentido para mim e se eu não tivesse tido aquela reação, nada disso teria acontecido. 

-Teria tido a mesma reação se a história fosse ao contrário. Quantas tardes suas eu tomei sem necessidade? Quantas horas eu te fiz passar com um menino que você não suportava.

-Eu...

-Ah. -Ele tampou a minha boca, como... como se fossemos amigos outra vez. -Não vem me dizer que não me odiava, só faltava você tacar o livro na minha cabeça nas nossas primeiras aulas. 

-Tudo bem, é verdade. Eu te odiava, mas isso mudou e nem demorou tanto assim. -Disse rindo esquecendo do completamente do laudo que o ortopedista tinha me dado. -Você não é tão seboso quanto eu pensei que fosse. 

-E você não é tão barraqueira quanto achei que fosse. 

-Eu? Barraqueira? Claro que não! -Falei indignada e depois dei uma risada. 

-Olha! Se não é a minha amiga que não ria a séculos. -A Clara me abraçou por trás. -Oi Samuel... E ai? Resolveram parar de serem idiotas e voltaram a se falar? 

-Acho que sim. -Ele disse.

-E quem foi o ser corajoso? 

-Ele. -Apontei para o Samuel com a cara vermelha. Terra, me engula, por favor.

-Que ótimo. Bom, beijos para o casal, opa, para os pombinhos. Ai não, amigos. É isso, beijo para os amigos. -Ela disse e eu fiquei mais corada ainda. -Parece que o laudo médico não era mais do que o esperado... Para de usar outras coisas para responder o real motivo da sua tristeza. -Ela sussurrou a última parte, antes de sair rebolando. 

-Essa sua amiga é pirada. -Ele disse.

-Caiu do berço quando era pequena... Coitada. -Ele riu. 


O Idiota da minha escolaOnde histórias criam vida. Descubra agora