Lute como uma garota

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Na terça, Cadú também não fora pra escola

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Na terça, Cadú também não fora pra escola. Havia ficado no sofá vendo filmes. Meu pai o deixou em paz e eu também. André não havia perguntando nada sobre o novo hóspede ou sobre as coisas dele em seu quarto. E eu me perguntei novamente o que estava havendo com ele. Estava inquieto, pensativo e cheio de olheiras.

— A professora Rebeca passou uma pesquisa e você ficou com o Serrado. É pra Sexta.

— Argh. — Ele pegou o controle e pausou o filme. — Alguém perguntou de mim?

— Todos já sabem, Cadú — sussurrei, abaixando a cabeça, e tendo uma ideia de como ele estava se sentindo humilhado, exposto.

A cidade inteira já sabia. Enquanto eu atendia no dia anterior na padaria, vários me questionaram sobre como ele estava. Aquelas pessoas pareciam ter olhos e ouvidos nas paredes. Não estavam interessadas em seu estado, queriam apenas ter o que falar, fofocar.

" Como o filho do Arnaldo está, menina? Soube que se desentendeu com o pai. Mas o pai tá certo, né? Onde já se viu..."

" O que a senhora vai querer?"

Cadú ficou com as bochechas rubras e afundou no sofá, ainda mais. Notei que ele não tomava banho desde o outro dia. E seus cabelos afros e sempre brilhantes, estavam amassados na cabeça, parecendo galhos secos. O seu rosto já estava bem melhor, mas ainda estava muito visível a agressão.

O gato estava brincando com a franja da almofada no chão e eu arranquei seu novo brinquedo, colocando no sofá.

— Você é terrível!

Ele é terrível. E você me deve uma almofada nova — avisei enquanto me encaminhava pro banheiro.

Após tomar um banho, desci pra padaria, onde trabalhava até às 20h. Naquele dia o movimento fora maior e me perguntei se era por conta de meu amigo que estava no primeiro andar. Deviam estar loucos para terem um vislumbre de seu rosto, saberem alguma novidade.

— Ficaria muito enrascada se saísse agora?

Levantei o olhar do balcão e vi uma loira de sorriso torto me encarando. Meu coração se acelerou contra as costelas e senti minhas mãos ficarem suadas, o estômago tendo um baque. Ela ergueu a sobrancelha esquerda e eu me toquei que tinha que responder alguma coisa.

— Estou ocupada. - Murchei, lembrando-me de Cadú.

— Eu soube — disse, colocando as mãos nos bolsos da frente do short com estampa de tartarugas.

— Todo mundo já sabe. — Revirei os olhos. — Não posso sair e deixá-lo sozinho. Ele tá um trapo — revelei, enquanto atendia o Paulinho. Ele seguiu pra pagar no caixa e eu dei minha atenção total à Miranda.

— É algo a três, Alex. Ele pode ir, na verdade, deve ir.

Senti minhas bochechas esquentarem e gostaria que tivesse um buraco para eu enfiar a cabeça.

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