Paixão unilateral

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— Acorda, preguiçosa

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— Acorda, preguiçosa. — Uma cabeça de cabelos afros e olhos verdes me encarou da porta. Esfreguei os olhos, me espreguiçando na cama, apesar de já estar acordada há um tempo. — Seu pai fez tapioca com queijo e presunto. Vou comer tudo se você não levantar agora. — Bateu a porta e saiu correndo para cozinha como uma criança.

— Ei, deixa pra mim, seu esfomeado. — Joguei o edredom pro lado, já colocando as Havaianas nos pés. 

— Você precisa arrumar outro canto para soltar pelos — avisei ao gato que dormia em cima da minha blusa.

Sentei-me na cadeira, pegando um beiju quente e amanteigado. Cadú tinha se servido de dois e estava terminando com uma delas, os fios de queijo se formando quando ele mordia.

Antes de sair coloquei ração e leite pro gato. Peguei cinco reais pro lanche e desci as escadas. Carlos estava animado, cantando Rihanna. E seguimos assim pra pegar o ônibus.

Ele andou de queixo erguido, mostrando seu rosto a cada morador que queria vê-lo.

— Eu não posso ter vergonha de algo que não tenho culpa, Alex. Não quero me fechar na sua casa e faltar às aulas porque um bando de fofoqueiros podem falar de mim — palestrou decididamente, jogando o cigarro no chão e esmagando-o com sua bota preta.

Quando entramos no ônibus, já lotado, seguramos onde deu e seguimos pra escola técnica. Ferrugem havia ficado na casa do pai de Cadú e ele ainda não tivera coragem de ir buscar.

Na escola, muita gente veio perguntar o que aconteceu, mesmo que a maioria das pessoas da nossa sala já soubessem o que havia ocorrido, pareciam querer uma confirmação da boca do Cadú, ouvir ele dizer que sim, que tinha sido espancado pelo pai.

Quando chegamos em casa, contei a Eduardo que havia convidado a Miranda para sair. Ele me deu um tapa na bunda e mandou eu ir me arrumar, que ele ficaria na padaria no meu lugar.

Eu tomei um banho longo, depilei as pernas e axilas e passei hidratante por todo o corpo. Escovei os meus cabelos castanhos até eles caírem lisos e brilhantes até a cintura. Eu estava em dúvida entre calça e short, mas acabei surpreendendo a mim mesma quando coloquei uma saia de tafetá de um tom de café e uma blusa preta manga longa com o tecido de renda. Completei com sandálias em detalhes vazados. Eu nem me reconhecia. Na maior parte do tempo, eu estava vestida com calça e camiseta.

Me olhei no espelho, encarando os mesmos olhos castanhos do meu pai, então pus blush para disfarçar a minha palidez. Já passava das sete da noite e eu estava ansiosa. Havia escovado os dentes duas vezes e checado a minha bolsa marrom várias vezes para ver se não havia esquecido o dinheiro.

Passei chapinha na minha franja de novo, deixando-a perfeitamente alinhada, nenhum fio fora do lugar.

Minha barriga já estava roncando e eram quase oito da noite. Eu havia passado a ultima hora olhando pela janela do meu quarto e descascando o esmalte preto da unha, esperando Miranda aparecer na minha porta.

MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora