A partida de Cadú

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Olhei-me na tela do celular, focando em meu reflexo. Eu estava horrível: olheiras e bolsas sob os olhos, a boca com lábios ressecados e rachados, minha pele morena estava pálida. E eu me sentia doente. Revirei os olhos e liguei o celular, vendo o horário. Ainda faltavam quase duas horas até podermos ir embora.

— Alexia? — Alguém me cutucou nas costelas. Marcelo estava com o braço estendido na minha direção, sua mão com um papel azul-claro entre os dedos, eu o peguei, agradecendo. Quando o abri, notei que era o convite para uma festa que iria acontecer no dia seguinte, e na casa de Marcelo. Ele morava em uma chácara na saída da cidade. Quem ainda convida pessoas para festas desse jeito?, me perguntei analisando o convite.

Antes eu achava que a casa de Suzana era de gente rica, até ver a de Marcelo.

Levantei meu olhar em sua direção e me surpreendi com seus olhos ainda sobre mim, enquanto coçava o cavanhaque. Isso me irritou, seu jeito cínico. Ele sorriu, mostrando dentes perfeitamente alinhados de alguém que usara aparelho por anos.

— Você vai? — Apontou pro convite esquecido em minha mesa. Eu já estava com uma negação em minha cabeça, pronta para rolar por minha língua. Mas lembrei-me de Miranda e André. E pensei que eu nunca fazia nada, nunca me arriscava. Não poderia contar com a fuga da padaria para andar em Ferrugem como uma aventura. Então me vi concordando em um balançar de cabeça.

Ele piscou um olho para mim e voltou a fitar o quadro-negro. 

Continuei com as anotações em meu caderno e reparei que havia rabiscado o nome da Miranda no canto da folha. Fiquei com raiva de mim por ser tão idiota, então comecei a riscar seu nome com tanta força que a caneta atravessou o papel, rasgando-o. Eu a larguei na mesa, enquanto me recostava no respaldo da cadeira, enfezada.

Hoje meu humor está horrível, pra variar.

Enquanto atendia aos clientes me peguei olhando para André com um olhar assassino. Mesmo eu sabendo que ele não fazia ideia que eu estava interessada em uma menina, especificamente em Miranda, aquela vaca!, minha mente não conseguia deixar de odiá-lo. Ele me fitou também e notei como estava triste, preocupado, olheiras escuras sombreavam seu rosto claro e ele parecia abatido. E quem será que estava assim também? ah, eu!

O que Miranda tá fazendo com ele?, me perguntei, curiosa. Com certeza ela tinha algo a ver com aquilo. Desde que ela chegara André se tornara taciturno, inquieto e preocupado. Eu o vi saindo da casa dela no dia anterior.

Eu me sentia contraditória: ao mesmo tempo que o odiava por estar saindo com ela eu queria contestá-la, saber o que ela estava fazendo com ele para deixá-lo daquela forma.

Notei com a visão periférica quando um carro azul desbotado estacionou na frente de casa e um senhor de idade saiu pela porta do passageiro. Vi Cadú sair do lado direito da padaria, provavelmente vindo de casa. Eles se cumprimentaram e Carlos o abraçou. Então ele começou a vir na minha direção e eu desviei o olhar, não querendo que ele soubesse que o estive observando.

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