Alexia, uma garota de cidade pacata, se vê encantada e atraída por uma forasteira nada esquisita.
Entre a curiosidade e o temor, ela se apaixona sem ao menos conhecer a estranha garota surgida do nada.
Em meio ao seu drama familiar, abandono mater...
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Já passava das dez da noite e eu me preparava para dormir, porque acordaria às seis da manhã, quando meu pai bateu à minha porta avisando que Cadú estava me chamando.
— Acho que aconteceu alguma coisa, Alexia. — Preocupação tingia sua voz. Eu já estava me levantando, calçando os chinelos de dedos, apressada.
Saí acelerada do quarto, passando pela sala e batendo meu joelho no sofá, ignorando a fisgada de dor, desci as escadas de dois em dois degraus.
— O que foi? — perguntei angustiada enquanto abria o cadeado e saía pra fora, levando um susto quando Cadú se virou e me olhou. Meus olhos se arregalaram e se encheram de água, coloquei a mão na boca. Sua camiseta branca estava suja de sangue, o olho inchado já ficando roxo, o lábio inferior partido.
— Por que ele me odeia? — Sua voz chegou até mim em um sussurro agonizado. Suas mãos tremendo enquanto ele as colocava na cabeça, descendo pro rosto e o apertando. — Por que ele me odeia? — Repetiu mais alto, um urro agonizante varando a noite.
Eu me encaminhei para ele. Jogando meus braços a sua volta, tentando confortá-lo, tentando unir seus pedaços de volta no lugar. Cadú ficou estático, rígido por um tempo enquanto eu o abraçava. Depois senti seu corpo tremer, os soluços e as lágrimas saindo em um jorro de desespero. Eu apenas o segurei, tentando ser seu respaldo. Não perguntei nada, o deixei chorar, ali de pé em meu ombro, molhando meu pijama.
Não sei quanto tempo ficamos naquela posição, mas, de repente, meu pai apareceu na porta, quebrando o clima. Cadú tentou se recompor, sem sucesso, enquanto eu apenas olhei meu progenitor. Ele estava com uma expressão chocada no rosto, uma ruga na testa. Depois de alguns segundos assim, pareceu se recuperar, então pigarreou, resmungando:
— Melhor colocar gelo nesse roxo antes que piore — disse em um tom controlado. Cadú apenas assentiu, as lágrimas escorrendo pelas bochechas.
— Vamos subir? — chamei , colocando a mão no ombro de meu amigo. Meu pai foi na frente enquanto Cadú subia como um robô atrás dele.
Colocamos cubos de gelo numa toalha e entregamos a Cadú, que fez uma careta ao encostar a toalha na boca. À luz florescente seu rosto estava ainda pior. Os hematomas tomando sua face, deixando-o desfigurado.
— Precisamos denunciar quem fez isso, Carlos — meu pai se manifestou, com as duas mãos na cintura enquanto olhava para meu amigo, sentando no sofá. — Vou ligar pra polícia e você diz quem foram os culpados. São daqui? — questionou, segurando o celular.
— Espera ele se acalmar, pai — pedi, tocando seu braço e dirigindo meu olhar para meu amigo agredido.
— Precisamos agir rápido, Alex. Vamos levar ele pro hospital.
Quando ouviu isso, Cadú saiu de seu torpor e rumorejou:
— Não, hospital não. E eu não vi quem era. Só vou fazer a polícia perder tempo. — Suspirou, com olhos assustados, a voz exasperada.
— Mas você precisa pelo menos tentar — meu pai insistiu. — Quem fez isso com você merece pagar.
— Eu nem sei quem foi, seu Vítor. Estava escuro. — Cadú inclinou o corpo no encosto do sofá, gemendo. O que deixou meu pai ainda mais aflito.
— Alex... — meu pai chamou meu nome como em uma última tentativa de apelo. Eu neguei com a cabeça, concordando com a decisão de Cadú. Então ele saiu em direção ao quarto.
— O que houve, Carlos Eduardo? — sondei ele diretamente, me sentando ao seu lado no sofá .
Meu pai apareceu nesse momento com uma muda de roupa e disse que Cadú podia tomar um banho e se trocar. Ele assentiu concordando, então Vítor me deu um último olhar acusatório e seguiu pra cozinha.
— Quer tomar um banho? — perguntei, olhando seu rosto moreno inchado.
— Sim — sussurrou, os olhos fechados, as lágrimas escorrendo por seu pescoço. Então seu peito começou a tremer e ele dobrou seu corpo pra frente, soluçando. Fiquei agoniada, passando minha mão em suas costas, querendo acalmá-lo, mas não obtendo êxito em nada. Alguns minutos depois meu pai apareceu com uma xícara grande de chá na sala e a depositou na mesa de centro.
Ele me olhou interrogativamente, mas eu apenas dei de ombros, meus olhos alarmados.
Após se acalmar, Cadú catou as roupas e seguiu para o banheiro, deixando o chá intocado.
—O QUE É ISSO?!— Olhei pro meu pai e levei um susto. Ele estava segurando uma bola de pelos laranja. Eu expirei audivelmente, enquanto fechava os olhos.
Naquela noite ajeitamos o sofá para Carlos dormir, porque ele não queria ir pra casa naquele estado. Meu pai ainda tentou convencê-lo a denunciar, contar como foi, mas Cadú se manteve irredutível e não disse nada, nem para mim.
Estava temendo que tivesse sido o grupo de Miguel. Se Carlos Eduardo não denunciasse, eu o faria.