Não Consigo Resistir

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Miranda olhou ao redor do meu quarto e eu a analisei. Como alguém poderia ser malditamente tão linda?

Perguntei-me se alguém a via assim. Se ela era tão notável aos outros como era a mim. Se ela era tão atraente aos olhos dos outros como era aos meus.

Suas orelhas pequenas e com dois brincos pretos de bolinha. As sobrancelhas escuras tão contrastante com os cabelos, as sardas no nariz que também apareciam em seus ombros e colo. As unhas roídas, mas sempre pintadas. As bochechas cheias e coradas. A boca rosada e sempre úmida, convidativa. Bebi de sua imagem, contemplei-a, como um alcoólatra que desejava uma taça de vinho após meses de recuperação.

— Você mudou... — ela disse após analisar o cômodo e a mim.

Ao contrário do quarto que eu tinha na casa do meu pai, esse tinha a minha cara. Haviam algumas plantas secas na janela e um tapete felpudo no chão. Uma prateleira na parede cheia de garrafas de cerveja, incluindo a que eu havia ganhado no meu aniversário de 18 anos. E quadros, muitos quadros. Todos coloridos.

— Você também — devolvi, reparando em suas roupas. — Tumblr Girl, né? — Ela sorriu e tirou a jaqueta, pendurando no respaldo da cadeira da escrivaninha.

— Suas fotos são lindas, mas...

— Mas...? — repliquei. Odiava quando um elogio vinha acompanhado de um "mas".

— Apesar de serem coloridas me parecem tão depressivas — exprimiu, enquanto admirava um pôr-do-sol com nuvens rosadas e um dente-de-leão soltando suas folhas ao vento. — Parecem solitárias. Você se sente solitária, Alexia?

Eu queria que Miranda fosse direto ao ponto. Queria acabar logo com aquilo. A situação estava me deixando pilhada.

— Pode dizer apenas por que me seguiu? Por que está aqui? — Ela voltou seus olhos caramelados para mim. Me olhou abertamente. Pegando cada traço meu. Notei que as mãos dela tremiam ao lado do corpo e reparei que as minhas estavam fechadas em punhos, relaxei-as.

— Eu apenas... Não sei... — Soltou o ar, seus olhos não se desviando dos meus. — Alexia... Caramba, não me faça dizer isso assim.

Eu não a ajudei. Deixei que ficasse ali no seu drama de externar o que sentia.

Miranda... — reclamei, impaciente.

— Eu ainda estou apaixonada por você. — Suas palavras chapinharam meu rosto e penetraram em mim, doendo. Eu já quis ouvir tanto aquilo.

— Eu não acredito. — Vi seus olhos se magoarem e ficarem brilhantes, mas ela era resignada, eu sabia. Engoliu em seco e andou até mim. Colocou as mãos em meu rosto, as palmas frias. Senti meu corpo tremer, meus dentes rangeram. — Eu não acredito! — afirmei, olhando dentro de seus olhos e capturando meu reflexo em sua retina.

Alexia... — Ela desviou os olhos, parecia inquieta, procurou algo para falar, abriu a boca e fechou-a novamente.

— Me larga! — Arranquei suas mãos de mim, seu toque me queimava. — Vai embora... — Arreganhei a porta para que ela saísse e encontrei uma Luana pulando assustada ali. — VOCÊ TAVA OUVINDO ATRÁS DA PORTA?! — Gritei e Lua arregalou os olhos através das lentes dos óculos.

— Me desculpa... Vou pro meu quarto... Nem consegui ouvir nada. Eu juro — informou e começou a caminhar em direção ao seu quarto, fechando a porta.

— QUE MERDA!!! — Bati a porta com força, tremendo a casa.

— Alexia — ouvi o sussurro de Miranda e senti vontade de tapar os ouvidos com as mãos enquanto gritava lá-lá-lá como uma criança —, não me expulse. Não podemos continuar assim, fugindo.

— Você quem fugiu! Duas vezes! Agora eu não te quero mais. Pode ir embora! — Me arrependi no momento que terminei de falar aquilo, mas já estava dito.

— Mentira! — Ela andou até mim e abraçou o meu corpo, colando sua boca à minha. Senti meu coração martelar no peito, os ouvidos ficarem abafados pelas batidas dele. Empurrei-a e ela caiu no chão, amparando o seu peso com as mãos. Miranda me olhou, surpresa.

— Não me toque, por favor — implorei, fechando os olhos, a mão no rosto, tremendo.

— Alexia, por favor...

— Você acha que foi fácil, Miranda? Não foi! — berrei, ela continuou no chão, os olhos suplicantes. — Sai daqui! Abri a porta novamente e não encontrei Lua ali, acho que eu daria na cara dela se ela estivesse. Miranda se levantou, mas não saiu.

— Vamos conversar com calma, okay? Estamos muito nervosas. — Ela ergueu as mãos, como em um pedido de paz.

— Calma? Você me deixou. DUAS VEZES! E agora aparece aqui com essa cara-de-pau como se não tivesse sido nada. Como quer que eu fique calma, Miranda?!

— Eu sei, mas agora eu estou aqui. Podemos ficar juntas, nada nos impede. — Deu um sorriso nervoso.

— E o que nos impedia antes? — Ela não me respondeu. — Foi o que eu pensei. Você tá sozinha e carente e se lembrou do estepe aqui. Eu não sou segunda opção.

— Alexia...

— Se você acha que pode chegar e brincar de novo comigo, tá muito enganada.

— Alexia...

— Agora eu tenho amor próprio. Coisa que eu nem sabia o que era quando você apareceu.

— Alexia...

— Se acha que pode me iludir de novo resgatando gatinhos abandonados e ajudando meu amigo... Nananinanão.

— ALEXIA ME DEIXA FALAR!!! — Calei-me, surpresa. Ela respirou fundo. — Quando eu te conheci, eu não tinha psicológico para lidar com nada. Você sabe o que seria enfrentar o preconceito da sociedade, família e amigos enquanto eu tentava lidar com a Lívia? Eu não teria cabeça, apenas magoaria você...

— Magoou — cortei ela.

— Eu apenas faria com que você me odiasse — continuou, sem se abalar. — E depois quando eu fui ver Martha e sua filhinha, era tudo ainda tão recente. Soube que você estava estudando pros vestibulares... Eu apenas atrapalharia a sua vida com os meus problemas.

— Você decidiu por nós duas, Miranda. Foi egoísta e não me deu chance de escolha.

— Eu sei. Me arrependo disso todos os dias. — Baixou a cabeça, parecendo arrependida. — Mas me deixe consertar as coisas. — Levantou o olhar pro meu, esperançosa.

— Não tem nada a ser consertado aqui — declarei orgulhosa, mas Miranda empurrou a porta, fechando-a. — O que você...? — Não consegui terminar a fala, porque ela me pressionou contra a porta beijando-me. Moveu os lábios contra os meus, apaixonada. Eu me mantive rígida, sem responder ao seu beijo. Miranda lambeu minha boca e tentou enfiar a língua, desistindo e mordendo o meu lábio inferior, parou o beijo, irritada.

— Me beije, Alexia — pediu, sem fôlego. Eu gostaria de ter negado, mas olhei seu rosto afogueado, os lábios rubros e me vi devolvendo o beijo, tão apaixonada quanto ela quando colou sua boca à minha.

MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora