Sim ou Não Vai ou Fica #27

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Encarei minhas mãos unidas sobre o colo, eu estava sentada rigidamente, já Miranda, ao contrário de mim, estava despojada sobre o sofá marrom, as pernas dobradas embaixo de si, um braço no respaldo servindo de apoio para a cabeça. Senti que ela me olhava e minhas orelhas arderam de vergonha. Exalei devagar, tentando me acalmar. Eu já havia imaginado inúmeras vezes uma conversa com ela, tantas perguntas que eu queria fazer, mas agora que o momento finalmente chegara, minha mente estava limpa, em branco. Os pensamentos escapando dos meus dedos. Meu cabelo pingava nos ombros e costas, mas eu não queria ir pegar uma toalha, era como se eu estivesse presa ali, sendo observada por ela. Ouvi seu pigarreio e virei meu rosto em sua direção, capturando sua imagem relaxada. Miranda me era uma incógnita. Ela se preparou para falar, engolindo em seco:

— Você é linda, sabia? E quando eu te vi a primeira vez, não conseguia parar de te olhar. Não entendia por que você... — ela se inclinou mais na minha direção, as mãos em conchas. — Por quê? — analisou-me atentamente, como se procurasse em meu rosto a resposta para a sua pergunta.

Ela falou basicamente como eu me sentia também. Mas eu via mais explicação no meu contexto. Eu era uma pessoa de cidade pequena e ela era uma novidade, um desvio no caminho, uma aventura convidativa. Bonita, interessante e inteligente. Uma armadilha que tinha uma placa de cuidado, mas que era extremamente atraente, me vi subindo a trilha e me perdendo em sua selva, ficando eternamente presa. Já eu, para Miranda, era uma menina interiorana, comum.

— Lutei muito pra não aceitar o que senti, Alexia. Tentava não te ver, mesmo que tivesse passando por um inferno com a Lívia. Mas me vi buscando desculpas para te visitar, sair contigo. Várias vezes eu te observava atender as pessoas na padaria do seu pai. Via você me procurando lá fora... Eu sabia que iria embora. Eu sabia que não poderia fazer isso com a gente.

Enquanto ela falava, desabafava, eu a olhava, enfeitiçada por sua beleza, seu cheiro tão característico, as mãos delicadas se movendo, gesticulando. Me lembrei da primeira vez que a vi, Miranda era tão segura de si, sua postura ameaçadora, impositiva. Assim como agora. Eu estava ali, encolhida no sofá enquanto ela tomava seu espaço, falava... Ajeitei meus ombros, deixando a coluna ereta. Prestei atenção ao que ela dizia, procurando respostas.

— Eu demorei a ir embora por sua causa. Eu deveria ter ido para casa depois daquela chuva. Depois da discussão com Lívia, mas me vi pensando em você, atraída. Não importava o quanto eu tentasse me convencer que não era para eu sentir nada por você, que era para te deixar em paz e seguir minha vida, eu imaginava seu beijo, seu toque, seu cheiro misturado com chuva. Dormi com seu moletom naquela noite... — confessou, abaixando os olhos borrados, os cílios fazendo sombra nas bochechas.

— Você levou ele? — minha voz saiu rouca ao imaginar Miranda deitada vestida com meu casaco e pensando em mim.

— Dormi muitas noites com ele, Alexia. Era a minha conexão com você — confessou novamente, mas olhando em meus olhos dessa vez. — Eu queria que você me odiasse... — mudou repentinamente de assunto. — Quando me convidou para sair, aceitei realmente pensando em te ver, mas quando o dia chegou e teve todo o problema por Martha estar grávida de seu irmão, eu queria que você perdesse o encanto por mim. Eu queria que você não me quisesse, assim seria mais fácil eu partir. O que quero dizer é que mesmo eu tendo lutado tanto contra isso, ter te tirado a chance de escolha, ter ido embora sem nenhuma satisfação, eu não consegui... — bateu no sofá, me assustando. — Não consegui deixar de gostar de você, Alexia.

MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora